«Jesus de Nazaré»: Cristãos devem afastar «alienação». A ausência de Deus é o «problema
essencial» de toda a história, diz Bento XVI
(13/3/2011) O novo livro de Bento XVI assinala que a missão dos cristãos passa por
“conduzir o «mundo» para fora da alienação em que vive o homem relativamente a Deus
e a si próprio”. Numa passagem do quarto capítulo da obra «Jesus de Nazaré. Da
Entrada em Jerusalém até à Ressurreição», publicada no passado dia 10 de Março, Joseph
Ratzinger afasta a interpretação dada ao termo “alienação” por Karl Marx e diz que
“o facto de os homens não estarem reconciliados com Deus, com o Deus silencioso, misterioso,
aparentemente ausente e todavia omnipresente, constitui o problema essencial de toda
a história do mundo”. Aos discípulos de Jesus, acrescenta, compete fazer com que
“o mundo volte a ser de Deus, e o homem, unido a Deus, volte a ser totalmente ele
próprio”. Segundo o Papa, “o universo foi criado não para que existam muitos astros
e tantas outras coisas, mas para que haja um espaço para a «aliança», para o «sim»
do amor entre Deus e o homem que Lhe responde”. “O cristão não acredita numa multiplicidade
de coisas; no fundo, crê simplesmente em Deus, crê que existe somente um único e verdadeiro
Deus”, declara. Bento XVI aborda, nesta passagem do segundo volume de «Jesus de
Nazaré» a questão da «Vida eterna», que apresenta como “a vida no sentido mais próprio
e verdadeiro, a qual pode ser vivida mesmo neste tempo e contra a qual, depois, já
nada pode fazer a morte física”. “É isto que interessa: abraçar desde já «a vida»,
a vida verdadeira, que já não pode ser destruída por nada nem por ninguém”, propõe. “O
homem encontra a vida quando se une Àquele que é em Si mesmo a vida. Então, nele,
muitas coisas podem ser destruídas; a morte pode tirá-lo da biosfera, mas a vida que
a transcende, a vida verdadeira, permanece”, acrescenta Joseph Ratzinger. O actual
Papa lembra que os primeiros cristãos se chamaram “simplesmente «os viventes»”, considerando
que “tinham encontrado aquilo que todos procuram: a própria vida, a vida plena e,
por isso, indestrutível”. Bento XVI apresenta a mudança realizada por Jesus em
relação aos ritos judaicos da expiação do mundo: “Se podemos dizer que, no Antigo
Testamento, a imanência de Deus se dava na dimensão da palavra e da observância litúrgica,
agora esta imanência tornou-se ontológica: em Jesus, Deus fez - Se homem”.