2011-03-13 15:21:54

TENTAÇÕES E PROVAÇÕES


Rio de Janeiro, 13 mar (RV) - Estamos no primeiro Domingo da Quaresma! Comentando sobre isso, o Papa Bento XVI, em sua Mensagem para a Quaresma diz que “o primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição de homem nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida.

É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma lua “contra os dominadores desse mundo tenebroso”, no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.”

Sabemos que o pecado é uma realidade que diz respeito à vontade do homem, porque depende da liberdade do consentimento do sujeito para o mal, ou ser dominador dele. Devido a isso, fazemos a distinção entre a tentação em si e a provação, dois elementos completamente diferentes, embora intimamente relacionados entre si. Com a tentação, quando consentida, é que um homem é levado para o pecado: o demônio, primeiro agente tentador, desfruta inicialmente da nossa concupiscência e, depois, da nossa fraqueza, negligência e fragilidade do ambiente que nos rodeia para induzir-nos a cometer diretamente o que não está em conformidade com a vontade de Deus.

O homem estará sempre sujeito às tentações, o que exigirá uma constante vigilância e mortificação dos sentidos e na orientação da vontade e, mesmo quem se dispõe a seguir o Senhor de modo mais próximo ou radical, é sujeito às vezes a tentações, às vezes, aparentemente mais fortes que os outros, "Filho, se serves ao Senhor, prepara-te para a provação" (Eclo 2, 1).

A tentação ao pecado é cativante e sedutora, apresenta garantias e vantagens imediatas para as quais aparentemente somos levados a consentir. Todas as provações são aliviadas pela graça do Senhor, que nos concede também a força para superá-las, e não são mais desproporcionadas às nossas possibilidades. Porém, elas também podem se tornar uma ocasião de pecado para nós se não tomarmos a interpretação correta. Por exemplo: doença grave ou morte absurda de um ente querido, piedoso e inocente como uma prova para todos e um grande motivo de tristeza. Nessa circunstância de provação, somos chamados a nos fundamentar na fé para enraizar-nos na esperança, cultivando a serenidade olhando além das aparências do imediato, drástico e doloroso, voltando o olhar para Deus, que espera a nossa correspondência a esse respeito.

Quem cede à fraqueza, ao desânimo obsessivo e ao desconforto, pode chegar ao desespero e à desconfiança, com a consequência da negligência da própria fé, até a duvidar da existência de Deus A queda no pecado que se segue pode ser de vários tipos.

Tentações e provações estão na ordem do dia no nosso itinerário de perfeição espiritual e constituem a razão da luta contínua nos propósitos de conversão e penitência, que nas últimas semanas tem sido sugerido no tempo litúrgico da Quaresma: aqueles que tendem a optar exclusivamente para o Senhor, abandonando as seduções do mundo e as promessas sedutoras do pecado, sempre sabem as astutas ciladas do Tentador que, de muitas maneiras e em diferentes formas e tamanhos, tendem sempre a desviar a nossa atenção de Deus. E qual é a mais tentadora que atrai o homem do que o descrito na primeira leitura da liturgia de hoje?

Que mais sedutora tentação para o homem do que querer ser "como Deus" (como aparece na tentação da serpente ao homem)? O homem que se eleva à categoria de divindade, na tentativa de tomar controle de sua pretensa onipotência, a teimosia e a presunção de competências que não pertencem à sua natureza e a vontade de poder desproporcionado sobre si mesmo e sobre a massa. E assim é a tentação do homem moderno – tende a suplantar a Deus através das presunções de onipotência e autoafirmação, que resultam em escolhas ilógicas e imorais, antes de tudo a busca do poder, do sucesso e lucro desproporcional, muitas vezes em detrimento de outros homens e até mesmo de populações inteiras.

Mas, se a situação de Adão nos mostra uma tipologia de homem que sucumbe às tentações e está apto a ceder às insinuações do pecado, a experiência de Jesus, tentado no deserto em uma condição de extrema precariedade e de pobreza, mostra-nos que, embora expostos a tentações, podemos exercitar com sucesso a nossa superioridade e a nossa força sobre tudo aquilo que nos apresenta como convidativo e com promessas imediatas e que, ao invés, torna-se perigosa e prejudicial para nós. Mas as atitudes de Jesus se tornaram oportunidades para aumentar sua comunhão com o Pai e abertura franca, livre e total em relação a Ele, e que agora se torna também motivo de vitória sobre o maligno.

Nosso Senhor Jesus Cristo é o único que pode servir como o novo Adão, colocando-se em oposição ao velho homem com os seus feitos, para nos convidar a viver o novo "para o pleno conhecimento, à imagem do seu Criador" (Cl 3, 10-11), e o faz mostrando em ser realizado na comunhão com o Pai e em obediência à Sua vontade em relação ao serviço dos outros. Em primeiro lugar humilhou-se da mesma maneira dos pecadores, e seu exemplo, sua humildade na disposição de se submeter à condição de menor que qualquer homem em uma posição de fraqueza, é emocionante e encorajador para todos nós que vivemos provações e tentações em uma condição muito mais rica do que o deserto de Judá.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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