Rio de Janeiro, 13 mar (RV) - Estamos no primeiro Domingo da Quaresma! Comentando
sobre isso, o Papa Bento XVI, em sua Mensagem para a Quaresma diz que “o primeiro
domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição de homem nesta terra. O
combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite
a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado
e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida.
É uma clara chamada
a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma lua
“contra os dominadores desse mundo tenebroso”, no qual o diabo é ativo e não se cansa,
nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso
sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória
às seduções do mal.”
Sabemos que o pecado é uma realidade que diz respeito
à vontade do homem, porque depende da liberdade do consentimento do sujeito para o
mal, ou ser dominador dele. Devido a isso, fazemos a distinção entre a tentação em
si e a provação, dois elementos completamente diferentes, embora intimamente relacionados
entre si. Com a tentação, quando consentida, é que um homem é levado para o pecado:
o demônio, primeiro agente tentador, desfruta inicialmente da nossa concupiscência
e, depois, da nossa fraqueza, negligência e fragilidade do ambiente que nos rodeia
para induzir-nos a cometer diretamente o que não está em conformidade com a vontade
de Deus.
O homem estará sempre sujeito às tentações, o que exigirá uma constante
vigilância e mortificação dos sentidos e na orientação da vontade e, mesmo quem se
dispõe a seguir o Senhor de modo mais próximo ou radical, é sujeito às vezes a tentações,
às vezes, aparentemente mais fortes que os outros, "Filho, se serves ao Senhor, prepara-te
para a provação" (Eclo 2, 1).
A tentação ao pecado é cativante e sedutora,
apresenta garantias e vantagens imediatas para as quais aparentemente somos levados
a consentir. Todas as provações são aliviadas pela graça do Senhor, que nos concede
também a força para superá-las, e não são mais desproporcionadas às nossas possibilidades.
Porém, elas também podem se tornar uma ocasião de pecado para nós se não tomarmos
a interpretação correta. Por exemplo: doença grave ou morte absurda de um ente querido,
piedoso e inocente como uma prova para todos e um grande motivo de tristeza. Nessa
circunstância de provação, somos chamados a nos fundamentar na fé para enraizar-nos
na esperança, cultivando a serenidade olhando além das aparências do imediato, drástico
e doloroso, voltando o olhar para Deus, que espera a nossa correspondência a esse
respeito.
Quem cede à fraqueza, ao desânimo obsessivo e ao desconforto, pode
chegar ao desespero e à desconfiança, com a consequência da negligência da própria
fé, até a duvidar da existência de Deus A queda no pecado que se segue pode ser de
vários tipos.
Tentações e provações estão na ordem do dia no nosso itinerário
de perfeição espiritual e constituem a razão da luta contínua nos propósitos de conversão
e penitência, que nas últimas semanas tem sido sugerido no tempo litúrgico da Quaresma:
aqueles que tendem a optar exclusivamente para o Senhor, abandonando as seduções do
mundo e as promessas sedutoras do pecado, sempre sabem as astutas ciladas do Tentador
que, de muitas maneiras e em diferentes formas e tamanhos, tendem sempre a desviar
a nossa atenção de Deus. E qual é a mais tentadora que atrai o homem do que o descrito
na primeira leitura da liturgia de hoje?
Que mais sedutora tentação para o
homem do que querer ser "como Deus" (como aparece na tentação da serpente ao homem)?
O homem que se eleva à categoria de divindade, na tentativa de tomar controle de sua
pretensa onipotência, a teimosia e a presunção de competências que não pertencem à
sua natureza e a vontade de poder desproporcionado sobre si mesmo e sobre a massa.
E assim é a tentação do homem moderno – tende a suplantar a Deus através das presunções
de onipotência e autoafirmação, que resultam em escolhas ilógicas e imorais, antes
de tudo a busca do poder, do sucesso e lucro desproporcional, muitas vezes em detrimento
de outros homens e até mesmo de populações inteiras.
Mas, se a situação de
Adão nos mostra uma tipologia de homem que sucumbe às tentações e está apto a ceder
às insinuações do pecado, a experiência de Jesus, tentado no deserto em uma condição
de extrema precariedade e de pobreza, mostra-nos que, embora expostos a tentações,
podemos exercitar com sucesso a nossa superioridade e a nossa força sobre tudo aquilo
que nos apresenta como convidativo e com promessas imediatas e que, ao invés, torna-se
perigosa e prejudicial para nós. Mas as atitudes de Jesus se tornaram oportunidades
para aumentar sua comunhão com o Pai e abertura franca, livre e total em relação a
Ele, e que agora se torna também motivo de vitória sobre o maligno.
Nosso Senhor
Jesus Cristo é o único que pode servir como o novo Adão, colocando-se em oposição
ao velho homem com os seus feitos, para nos convidar a viver o novo "para o pleno
conhecimento, à imagem do seu Criador" (Cl 3, 10-11), e o faz mostrando em ser realizado
na comunhão com o Pai e em obediência à Sua vontade em relação ao serviço dos outros.
Em primeiro lugar humilhou-se da mesma maneira dos pecadores, e seu exemplo, sua humildade
na disposição de se submeter à condição de menor que qualquer homem em uma posição
de fraqueza, é emocionante e encorajador para todos nós que vivemos provações e tentações
em uma condição muito mais rica do que o deserto de Judá.
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ