Cidade do Vaticano, 13 mar (RV) - Começamos a Quaresma com um texto que nos
possibilita refletir sobre o projeto de Deus a respeito do ser humano. O livro do
Gênesis nos apresenta o homem sendo criado como o ponto alto de toda a criação, como
imagem e semelhança de Deus. Exatamente por isso ele deverá proceder como superior
a tudo e não deixar-se influenciar por nenhuma qualidade de qualquer coisa criada,
deverá permanecer sempre livre!
É nesse exato momento que entra o a perversão
do Mal ao provocar no homem o forte e imperioso desejo de experimentar a fruta proibida,
ao ponto de apequenar-se cedendo às qualidades olfativas e visuais da fruta em detrimento
da orientação do Criador.
Foi o primeiro ato em que o ser humano demonstrou
que abria mão de sua liberdade para satisfazer seus instintos, sua curiosidade e,
tragicamente, querer ser igual a Deus. Deixou de se reconhecer criatura, homem, vindo
da terra, do humus e querendo, com seu próprio poder chegar a ser onipotente. O ser
humano trocou a humildade pela soberba, eis o primeiro pecado.
No Evangelho,
Jesus, o Homem Perfeito, a verdadeira imagem do Pai, vence o Mal ao manter-se submisso
ao Pai e mostrar-se um homem livre. Não será a comida, a satisfação de suas necesidades
biológicas que irá submetê-lo às propostas do Mal; nem a tentação do orgulho, da vaidade,
do ser renomado, do ser famoso, do prestígio irá fazê-lo aceitar a imposição de Satanás
e nem a sedução do poder o derrotará em sua fidelidade ao Pai.
Para nós, a
ação de Jesus, sua postura, nos interpela quando em nossa vida somos tentados a satisfazer
nossas necessidades naturais, nossos desejos de prestígio e nossa sede de poder. Olhemos
para o Homem Perfeito, a Imagem Visível do Deus Invisível, e suas respostas serenas
às perturbadoras tentações.
No trecho da Carta aos Romanos, São Paulo nos fala
sobre os modos de vida de Adão e de Cristo. O primeiro, como vimos no início de nossa
reflexão, mostrou-se fraco. Contudo, essa debilidade foi herdada por todos nós, seus
descendentes. Somos conscientes de que titubeamos e fracassamos diante das tentações.
Em Cristo temos exatemente a realização da vocação da natureza humana, ser
superior a tudo sendo imagem de Deus, sendo livre!
Mais ainda, não podemos
comparar a graça de Deus ao pecado de Adão, nos fala o Apóstolo. Se “pela desobediência
de um só homem a humanidade toda foi estabelecida em uma situação de pecado, assim
também, pela desobediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de
justiça”, que é ser plenamente livre e plenamente unida a Deus. (CAS)