Cidade do Vaticano, 13 mar (RV) - Durante a Quaresma, uma atitude esperada
de todos os católicos é a celebração penitencial. Para isso, além dos horários normais
que os párocos têm em suas paróquias para atender as confissões, existem os “mutirões”
de confissão, quando os padres de uma mesma região, setor ou forania são convidados
a atender a todos, dando assim oportunidade para que todos se confessem.
Pouco
tempo atrás saiu, provindo de agências de notícias internacionais, o anúncio de uma
provável “grande novidade” na Igreja: a confissão feita por intermédio do Iphone,
Ipad e Ipod touch. Essa notícia chegou e foi divulgada como uma grande novidade!
A
rapidez hodierna dos meios de comunicação, num verdadeiro processo de globalização
das notícias, faz com que fatos e ditos cheguem a muitos em pouquíssimo tempo e acabem
confundindo as pessoas. Por isso, é preciso que estejamos atentos e confirmemos as
fontes de onde provêm e como estão verdadeiramente postas na sua origem, no seu texto
e em seu contexto. Um ditado popular (os sempre sábios dizeres de um povo) já atesta:
‘quem conta um conto, aumenta um ponto!’ e hoje esse ponto pode tornar-se uma bola
de neve, que se não é correta espalha o erro, que se torna difícil de dissolver.
A
notícia vista com atenção e feita perceber em sua verdade não se tratava do que foi
propagado, mas, na realidade, de um instrumento “desenhado para ser usado na preparação
da confissão, e depois como auxílio na própria confissão. O aplicativo oferece o exame
de consciência, um guia passo a passo do sacramento, ato de contrição e outras orações.
Os múltiplos usuários acedem a seus perfis protegidos por senha, onde, através do
exame de consciência, marcam os elementos pertinentes para sua confissão e podem fazer
outras notas pessoais”. Este não é o primeiro e nem o último aplicativo ligado a temas
religiosos. Porém, é interessante ver que poderá ser de utilidade para um exame de
consciência se a autoridade eclesiástica deu seu aval com relação ao conteúdo do mesmo.
Assim como no passado muitos utilizavam livrinhos para o exame de consciência e outros
anotavam em papéis seus pecados para não esquecerem na hora da confissão auricular,
hoje os meios eletrônicos podem ajudar nesse aprofundamento. Porém, nada disso substitui
a confissão auricular com o ministro ordenado.
Para a recepção do Sacramento,
que possui ao menos três nomes, que são sinônimos e acabam mesmo por significar uma
de suas fases: penitência, confissão ou reconciliação, a Igreja pede que o penitente
cumpra ao menos três atos, que são: o ato da contrição (que precede), o ato da confissão
(exposição dos pecados diante do confessor) e o ato da satisfação (cumprimento da
penitência pelos pecados cometidos).
O aplicativo a que nos referimos e outros
que têm o mesmo conteúdo, embora sejam compostos para utilizar-se no Sacramento, não
o é como canal para a confissão e a satisfação, mas simples e unicamente para preparar
a contrição, que, entre os atos do penitente, ocupa o primeiro lugar, o qual, em verdade,
é “uma dor da alma e um desprezo pelo pecado cometido, com o propósito de não pecar
mais no futuro”.
Para cessar o ruído da comunicação errônea, o Diretor da Sala
de Imprensa da Santa Sé afirmou: “é essencial compreender bem que o sacramento da
Penitência requer necessariamente a relação de diálogo pessoal entre penitente e confessor,
assim como a absolvição por parte do confessor presente”. “Isso não pode ser substituído
por nenhum aplicativo informático. Por isso não se pode falar de ‘Confissão pelo iPhone’”.
Entretanto, em um mundo em que muitas pessoas utilizam suportes informáticos para
ler e refletir (e inclusive textos para rezar), não se pode excluir que uma pessoa
faça sua reflexão de preparação à Confissão (contrição) tomando a ajuda de instrumentos
digitais. Isso, de forma parecida ao que se fazia no passado, como dissemos, “com
textos e perguntas escritas em papel, que ajudavam a examinar a consciência... tratar-se-ia
de um subsídio pastoral digital que “poderia ser útil”, mas sabendo que “não é um
substituto do Sacramento”.
No entanto, esse ruído de comunicação que quase
causou confusões na cabeça de muitos, pode ser uma oportunidade de notar que, mesmo
com um mundo digitalizado, também a confissão mereceu um espaço de preparação com
aplicativos divulgados pela mídia mundial. Isso pode ser uma oportunidade de catequese
que aprofunde o valor da Confissão. Se os jovens, que mais utilizam as mídias sociais,
já têm um aplicativo para ajudar no exame de consciência, é sinal de que têm também
interesse em celebrar este sacramento em sua igreja.
É uma responsabilidade
nossa acolher a todos aqueles que, nesta Quaresma, querem manifestar o seu arrependimento
e iniciar uma vida nova, celebrando no Sacramento da Penitência o seu retorno a Deus!
Que o tempo da Quaresma seja este tempo de renovação interior de todos na busca
de viverem com generosidade sua vida batismal!
† Orani João Tempesta, O.
Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ