«Jesus de Nazaré»: Obra central do teólogo Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, cruza
história e fé, tentando apresentar um Cristo «real» e convincente para pessoas de
todos os tempos
(11/3/2011) O novo livro de Joseph Ratzinger, Bento XVI, sobre «Jesus de Nazaré»
é uma obra central do trabalho do teólogo e intelectual alemão, que se empenha numa
luta pela credibilidade religiosa e histórica do cristianismo. O volume, publicado
neste dia 10 de Março , é o segundo de uma trilogia prometida pelo Papa e aborda os
momentos da morte e da ressurreição de Jesus, tema este que o autor considera como
“ponto decisivo” da sua investigação. “Que Jesus tenha existido só no passado ou,
pelo contrário, exista também no presente depende da ressurreição”, afirma. No
capítulo da obra dedicado à «ressurreição de Jesus da morte», Bento XVI refere que
a mesma “ultrapassa a história, mas deixou o seu rasto na história”. “Se se pudesse
de modo verdadeiramente científico demonstrar que é impossível a historicidade das
palavras e dos acontecimentos essenciais, a fé perderia o seu fundamento”, observa. Para
Joseph Ratzinger, no entanto, a história não basta: “Se a certeza da fé se baseasse
exclusivamente numa certificação histórico-científica continuaria a ser sempre passível
de revisão”. «Jesus de Nazaré. Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição» desenrola-se
em nove capítulos, mostrando, segundo o Papa, as palavras e acontecimentos decisivos
da vida de Cristo. Bento XVI apresenta um Deus que sofre e um homem em luta contra
o poder da sua época, que o condenaria à morte – uma decisão que o Papa coloca sobre
os ombros da “aristocracia do templo” de Jerusalém e não sobre o povo judaico, no
seu todo. O Cristo de Joseph Ratzinger não é um revolucionário político ou um “simples
reformador que defende os preceitos judaicos”, menos ainda “uma personalidade religiosa
falhada”, como o próprio definiria Jesus de Nazaré, caso este não tivesse ressuscitado. À
imagem do que fizera em 2007, no primeiro volume desta obra de reflexão bíblica e
teológica, Bento XVI centra-se na figura de Cristo que é apresentada pelos Evangelhos
canónicos (Marcos, Mateus, Lucas e João), considerando estes livros como as principais
fontes credíveis para chegar ao Jesus “real”. “Entrar nas numerosas e justíssimas
questões específicas relativas a cada detalhe de palavra e de história não é função
deste livro, que procura conhecer a figura de Jesus deixando aos especialistas os
problemas particulares, mas, certamente não podemos dispensar-nos de enfrentar a questão
da efectiva historicidade dos acontecimentos essenciais”, escreve. Neste sentido,
Joseph Ratzinger sustenta que a “fé bíblica não narra histórias como símbolos de verdades
meta-históricas, mas funda-se na história que aconteceu sobre a superfície desta Terra”. Esta
verificabilidade histórica alarga-se ao início da “própria Igreja”, que o Papa coloca
nos gestos da instituição da Eucaristia e do lava-pés, realizados por Jesus na véspera
da sua morte, segundo os Evangelhos. Bento XVI afirma que a Igreja primitiva “encontrou
(não inventou!)” [sic] elementos fundamentais para a sua unidade: a "sucessão apostólica",
o “Cânone da Escritura” e o chamado “Símbolo da Fé” ou Credo. O novo livro do Papa
é publicado em sete línguas, incluindo o português, com uma primeira tiragem de 1,2
milhões de exemplares, 20 mil dos quais em Portugal, anunciou o director da Editora
do Vaticano, padre Giuseppe Costa, em entrevista ao jornal «L’Osservatore Romano».
(Por Octávio Carmo, da Agência Ecclesia)