Cardeal-patriarca de Lisboa quer «mais verdade e radicalidade» na vivência da fé
(10/3/2011) D. José Policarpo considera que a Quaresma é o período do ano que melhor
evidencia os aspectos nucleares do cristianismo e em que os católicos são chamados
a viver a sua fé “com mais verdade e radicalidade”. Na missa a que presidiu quarta
feira de Cinzas na sé patriarcal, afirmou que a Quaresma “encerra a verdade profunda
de toda a vida cristã”, cuja “atitude fundamental” os fiéis são chamados a redescobrir. Durante
a homilia o prelado empregou 12 vezes a palavra “peregrinação” para se referir à Quaresma,
tempo litúrgico em que os cristãos lembram o trajecto de Jesus até Jerusalém, cidade
onde foi crucificado e, de acordo com as convicções cristãs, ressuscitou. “Todos
aqueles discípulos que peregrinam com Jesus vão viver esses momentos dramáticos da
Paixão do Senhor: alguns fogem, outros desistem, escandalizados com a humilhação do
seu Messias-Rei. Mas os que foram capazes de seguir Jesus, na sua peregrinação pessoal,
vão ter a surpresa da Ressurreição”, disse o cardeal. Inspirado pelo percurso de
Cristo, o dinamismo da peregrinação permanece na Igreja, rumo à “Jerusalém Celeste”,
imagem bíblica que origina a crença dos cristãos na existência de vida após a morte,
em união definitiva e plena com Deus. Para D. José Policarpo, a caminhada de Jesus
em direcção a Jerusalém para celebrar a Páscoa – palavra que significa ‘passagem’
– constitui a “referência fundadora” da peregrinação dos fiéis, que não podem “perder
os olhos de Cristo”, pois “só Ele” dá “força para avançar por entre as dificuldades”. No
entender do cardeal, “a Quaresma é um tempo de oração, não de uma oração qualquer”,
mas uma “meditação” e um “diálogo” com Cristo, sobretudo através da Bíblia: “Neste
tempo toda a palavra, mesmo a da Igreja, deve fazer-nos mergulhar na Palavra de Deus”. Por
outro lado, “é próprio dos peregrinos levar uma vida simples, na comida, no vestuário,
no alojamento”, pelo que esta “simplicidade”, de que “o jejum é uma expressão”, contribuirá
para que os fiéis não fixem “o coração nas coisas do mundo”. “Caminhamos como pobres,
como Jesus com os seus discípulos e os pobres aprendem a partilhar”, vincou D. José
Policarpo, acrescentando que essa sobriedade valoriza a “verdade interior, que só
Deus conhece, e não a aparência vistosa dos critérios” mundanos. “Neste processo,
vai-se realizando, cada dia mais, a nossa conversão interior”, acrescentou o prelado,
que sugeriu a leitura do segundo volume da obra ‘Jesus de Nazaré’, assinada por Bento
XVI.