Genebra, 09 mar (RV) - O Observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas,
Dom Silvano M. Tomasi, falou ontem em Genebra no contexto da 16ª sessão do Conselho
de Direitos Humanos.
O tema do discurso do Arcebispo foi o direito à alimentação
como questão intrinsecamente ligada ao direito à vida e o fato que quase um bilhão
de pessoas devem ser libertadas da fome. Elas fazem parte do exército de 2,5 bilhões
agricultores que sobrevivem de seu trabalho nos campos. Em nome de sua delegação,
Dom Tomasi sugeriu indicações para o exercício do direito humano à alimentação e o
desenvolvimento de políticas de segurança alimentar como pré-requisito para a auto-suficiência.
Com
a ajuda da comunidade internacional, governos e povos dos países em causa devem reconhecer
e reforçar o papel central da agricultura na atividade econômica e reduzir a desnutrição
em áreas rurais. Para melhorar a produtividade são necessários investimentos em sementes,
na formação, em maquinários para o cultivo e nos meios de comercialização.
Outro
fator é a garantia da posse da terra para os agricultores, especialmente para aqueles
com pequenas propriedades. A propriedade dá ao agricultor a oportunidade de hipotecar
sua terra em troca de créditos sazonais para a compra de insumos. O objetivo da posse
da terra tornou-se cada vez mais importante diante da expansão do fenômeno da grilagem.
Na África Subsaariana, 80% das terras são ocupadas por pobres que não têm títulos
de propriedade.
Para garantir que os alimentos cheguem a quem precisa, os
mercados locais devem ser eficientes, transparentes e abertos, a informação deve fluir
de forma eficiente, o investimento em estradas, transporte e armazenamento de culturas
é imprescindível. Barreiras às exportações devem ser limitadas.
Para a Santa
Sé, medidas adequadas devem ser tomadas para proteger os agricultores contra a volatilidade
de preços, defendendo-os de perturbações conjunturais. Os governos devem ser recordados
que a comida não pode ser como qualquer outra mercadoria, objeto de especulação ou
instrumento de pressão política.
Enfim, a disponibilidade de alimentos não
é garantia suficiente de alimentos para todos. As pessoas devem ter renda para comprar
comida e os alimentos devem ter preços acessíveis aos pobres. Dom Tomasi citou o exemplo
do trigo ou do milho: “é ilusório acreditar que exista um ‘preço bom’ para estes alimentos.
O preço que um consumidor pobre pode pagar nem sempre equivale ao que pequeno agricultor
africano precisa para viver!”.
O Arcebispo concluiu que a insegurança alimentar
não é inevitável, considerando as vastas áreas agrícolas e pastoris a serem exploradas.
Com uma ação concertada e determinada, sustentada pela convicção de que a ética da
família humana – urbana e rural – é uma só e deve avançar unida, o direito à alimentação
será realidade para todos. (CM)