(9/3/2011) O mundo está perante uma crise face ao encarecimento dos alimentos e
pretende ultrapassá-la com um aumento da produção agrícola que é insuficiente e não
tem uma visão de futuro, disse, esta terça-feira, um relator da ONU.
Olivier
de Schutter, relator da ONU sobre o direito à alimentação, profetizou que a crise
líbia provocará a subida do preço do petróleo, que terá um impacto inflacionista no
custo dos alimentos. "Os próximos meses serão difíceis", adiantou o investigador
que apresentou o seu relatório ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas,
em Genebra. Schutter explicou que a crise alimentar não só tem conotações agrícolas,
como também "ambientais e de pobreza" e descartou que a solução passe simplesmente
por aumentar a produção agroindustrial. O especialista recordou que os esforços
dos últimos 40 anos se dirigiram para o aumento da produção acima das necessidades
da população mundial, o que não evitou que 1.000 milhões de pessoas no mundo passem
fome. Paradoxalmente, grande parte são pequenos agricultores marginalizados pelas
políticas públicas e que não podem obter lucros dignos pelo seu trabalho. Schutter
denunciou que o mundo se encontra também perante uma "crise ambiental" devido à forma
de cultivo que se privilegia e que "é insustentável" pela grande dependência do petróleo
e do gás e pelo seu impacto negativo sobre a natureza. Como alternativa, o especialista
defendeu o desenvolvimento de um modelo "ecoagrícola", que resolveria todos os problemas
anteriores, reforçaria a produtividade dos solos e protegeria os cultivos, sem pesticidas
nem outros químicos, mas sim graças à combinação benéfica de árvores, plantas, animais
e insectos.