Bagdá, 08 mar (RV) - O Arcebispo siro-católico de Mossul, Dom Georges Casmoussa,
deixará em breve este serviço pastoral após alcançar o limite de idade de 75 anos
com a esperança de que os fiéis dessa Igreja obtenham a liberdade e segurança que
garantam a permanência dos cristãos no Iraque.
Dom Casmoussa, que guiou os
católicos iraquianos do noroeste do país desde 1999, foi testemunha tanto da repressão
política como do extremismo religioso que ameaça extinguir os rastros católicos de
uma terra marcada pelo Evangelho desde as origens da Igreja.
A Santa Sé anunciou
sua retirada no dia 1º de março, mas o pastor ainda seguirá trabalhando pela Arquidiocese
de Mossul, a capital cristã histórica de uma região com uma rica mistura de caldeus
sírios, assírios e católicos de rito latino que convivem com cristãos sírios e armênios
ortodoxos em meio a uma maioria muçulmana.
Em uma entrevista com o Grupo ACI
no último 25 de fevereiro, Dom Casmoussa recordou que a população cristã foi reduzida
à metade na última década, principalmente devido à emigração causada pela violência
e a insegurança.
Dom Casmoussa acredita que o Iraque está agora em um ponto
crucial e urge que as autoridades encontrem uma maneira de garantir a igualdade das
pessoas de todas as religiões, ou considerem a criação de uma nova região autônoma
onde os cristãos possam viver e praticar sua religião livremente.
O Arcebispo
explicou que os cristãos no Iraque procuram uma solução que lhes dê igualdade de direitos
e igualdade de acesso aos serviços, a infra-estrutura, o emprego e principalmente
liberdade e a segurança.
A vida se tornou mais difícil para os cristãos iraquianos
que permanecem no país pois têm cada vez menos poder para exigir seus direitos. As
terras e propriedades dos cristãos que deixaram o país são vendidas ao governo e aos
não cristãos.
“Se perdermos nossas casas e nossas terras, temos que escolher
ser uma minoria ou sair. É um grande problema”, explicou e reiterou a urgência de
“mudar algumas leis no Iraque, para ter direitos como outros”.
Do mesmo modo,
explicou que os cristãos estão no fogo cruzado do poder das lutas políticas. “O extremismo
islâmico não é a única parte que comete atos terroristas”, disse.
“Não podemos
negar que no Iraque exista um projeto para ter um Estado islâmico, é uma realidade.
Mas, não tudo é feito por eles. Vivemos junto com os muçulmanos durante centenas de
anos sem nenhum temor. Sim, cada comunidade está separada pela religião, mas não pela
vida”, indicou.
Em Mossul, o número de cristãos foi reduzido à metade desde
o começo do conflito e hoje são aproximadamente 50 000 pessoas. O número total de
cristãos no Iraque também foi reduzido à metade e hoje restam entre 400 e 500 mil
fiéis. (SP)