2011-03-08 18:54:04

Igreja Católica continua à procura de Jesus. Padre e poeta, português, Tolentino Mendonça alerta para o risco de o cristianismo se reduzir «a uma dimensão ornamental» e «puramente sociológica»


(8/3/2011) A Igreja Católica oferece uma imagem de Jesus que não é “imposta” mas “tacteada”, e “só a mística, a oração e o ambiente litúrgico da fé” são “capazes de a tocar”, considera o padre e biblista José Tolentino Mendonça.
Em entrevista à ECCLESIA, o sacerdote madeirense salienta a variedade de representações cristãs existentes dentro desta procura: “A força e a autenticidade do cristianismo passam muito por uma diversidade de abordagens e perspectivas que se complementam”.
“Há linhas permanentes na diversidade do modo como o cristianismo é vivido”, o que, “antes de tudo”, se deve traduzir em “colocar Jesus no centro”, assinala o professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, acrescentando que é possível “falar de uma espiritualidade cristã, sabendo que ela é plural”.
O responsável pelo diálogo da Igreja com a cultura lembra que Jesus viveu no Oriente e que “o cristianismo é sempre uma realidade aberta”, mesmo tendo em conta o “impacto” mundial da teologia concebida na Europa.
O pensamento tradicional do Velho Continente “é muito positivista”, “racional” e “limitado”, pelo que é preciso aprender “outras modalidades de abordagem do mistério cristão”, por exemplo através da observação da “vitalidade de algumas Igrejas na Ásia” e da leitura de “teólogos do continente africano e americano”.
O poeta constata o “regresso à beleza e à estética para falar de Deus” e recorda as liturgias de África, em que as missas vão para além de uma hora de duração e onde os ritos incluem o “gesto” e a “corporeidade”, não se limitando a uma “celebração mental”.
Para Tolentino Mendonça, o diálogo cultural é uma “imensa prioridade para a Igreja”, que precisa de “tornar Jesus pertinente” para a sociedade actual: “Há o perigo de termos uma coisa extraordinária, uma boa-nova para anunciar, mas ninguém nos querer ouvir. E nós próprios perdermos a capacidade de tornar o anúncio, audível”, afirma.
“A cultura – prossegue – é o novo templo, é o novo espaço da missão, é o novo lugar do anúncio” por ser “tudo aquilo que torna a vida humana decisiva” e por constituir “o horizonte de felicidade que cada tempo procura”.
À abundância de culturas e à pluralidade de leituras sobre Cristo, acrescenta-se a particularidade de cada pessoa, que vive “uma história única no seguimento de Jesus”, motivo pelo qual a teologia tem vindo a valorizar a “biografia crente”, ou seja, “a história de vida, o capital de experiência cristã” que cada fiel constrói e transporta.
Entre os itinerários de fé a que a Igreja é chamada a dar atenção encontram-se os dos “não praticantes”, que devem ser olhados “não como um peso mas como um desafio”: “Os cristãos desactivados não deixam de ser cristãos”, diz o director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
Depois de frisar que “o discipulado é a base de toda a procura cristã” e o biblista realça que o crescimento espiritual cristão implica “luta”, “resistência” e “desprendimento”, cuja exigência deve ser entendida dentro de uma perspectiva de “ternura” e “esperança”.
Tolentino Mendonça alerta para o risco de se reduzir a crença “a uma dimensão ornamental” e “puramente sociológica”: “O cristianismo – sublinha – tem de ser fermento e vida, uma decisão e um caminho”.
( Em Ecclesia)








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