2011-03-05 13:54:51

VIVENDO O DOMINGO


Campanha, 05 mar (RV) - Refletimos hoje no Evangelho ( Mt. 7,21-27) a fé que é professada pelos católicos deve seguir uma prática de amor e de solidariedade atendendo ao mandato de Jesus: Daí-lhes Vós mesmo de Comer!

O verbo ouvir, escutar, na Bíblia tem um sentido muito maior e mais amplo do que o nosso humano entendimento. Não significa apenas ouvir com os ouvidos, mas significar vivenciar, viver com gestos as palavras ouvidas.

É muito interessante vermos determinados movimentos, associações ou pastorais da Igreja que sentem grande entusiasmo com a pregação da Palavra de Deus. Mas na prática pregam o fechamento para a sua atividade pastoral, esquecendo-se da pastoral de conjunto, da construção de redes de comunidade e da evangelização como obra comunitário-teológico-pastoral de comum união.

O Evangelho pede que todos nós tenhamos coragem de dar um passo maior e comprometedor: sair somente da Escuta para a vivência, para a prática efetiva. Jesus pede engajamento na realidade da vida, para que tudo, todos e todas as coisas se impregnem da força do Reino, isto é, de justiça, do perdão, da paz, da concórdia, e, acima de tudo, da verdade, critério básico de salvação.

O Evangelho de hoje vem combater algumas atitudes que são meramente humanas:
1. FORMALISMO: fazer as coisas apenas para constar, para cumprir um preceito. Uma coisa que não gera um compromisso de vida, de vida nova em Jesus Cristo Ressuscitado. Temos aqui o cristão de sexta-feira santa, ou aquele formalista que é católico só de fachada, sem compromisso evangelizador.

2. LEGALISMO: que consiste em cumprir apenas o que a lei manda. Este tipo de pessoa é incapaz de questionar o puro legalismo que oprime e não gera oportunidade de abertura para a caridade, porque na Santa Igreja “SALUS ANIMARUM SUPREMA LEX”, ou seja, a salvação das almas é a suprema lei, dentro do contexto canônico que a dispensa é a regra de conduta canônica. Jesus condenou muitas vezes o rigorismo jurídico das leis, porque ele veio não abolir a Lei, mas dar uma nova conotação, a conotação da VIDA. O próprio CRISTO MORTO, RESSUSCITOU, DANDO VIDA NOVA PARA TODOS OS HOMENS. A lei de Jesus é a lei do primado da vida, porque Ele é a Lei, dizendo mais em Jo 10,10: Eu sou a vida; nasci e vim ao mundo para que todos tenham vida e vida em abundância.

O Evangelho de hoje desdiz aqueles que pretendem uma Igreja exclusivamente espiritual, isto é, apenas de oração, orante e preocupada extremamente com o mundo dos espíritos ou da escatologia. O Evangelho pede engajamento na construção da casa sobre a pedra. Por isso o cristão batizado é chamado e conclamado a se preocupar com o irmão excluído, indo ao seu encontro minorar a sua dor, é chamado a autenticamente se preocupar com o mundo da política, para que os valores cristãos permeiem a sociedade. O católico deve colocar em prática aquilo que em espírito eleva ao Senhor da Vida. Tudo isso porque a justiça, a verdade, a vida, a paz, o amor tem muito a ver com a vida eterna que começa aqui e agora, em comum unidade de fé.
Outra coisa que Jesus nos pede no Evangelho é que nos libertemos de duas tentações perigosas para a nossa fé: TRIUNFALISMO E CARISMATISMO.

O triunfalismo é criar um Jesus que não é o Jesus pobre, humilde, e amoroso de nossa fé que venceu o mundo, morrendo na Cruz pela salvação de todo o gênero humano. O carismatismo é colocar ou tirar demônios de onde eles não existem. Temos que viver uma espiritualidade profundamente voltada para a formação de comunidade de santos e pecadores, todos, sem distinção, procurando coerentemente a santidade de vida, unindo fé e vida.

Paulo na Segunda Leitura (Rm 3,21-25a.28) insiste em que somos justificados pela fé e não pelas obras da Lei. Porém não há incompatibilidade, é apenas o outro lado da medalha. Para poder agir conforme o espírito de Cristo, devemos, inicialmente, superar a nossa auto-suficiência, parar de sermos donos da verdade. As obras devem ser a conseqüência da fé, da confiança em Jesus Cristo, Que invade o nosso coração e o transforma, quando vislumbramos Nele o grande amor que Deus nos tem. Que a fidelidade que nos é proposta nos faça, quotidianamente, colocar hoje diante de vós uma verdadeira vida de coerente santidade, unindo fé e vida, oração e obras de caridade, para que possamos superar a miséria intelectual e a fome material de nossos irmãos e irmãs.

Nesta leitura refletimos sob a graça de Deus, manifestada em Cristo, e a justificação pela fé. Romanos mostrou que todos são culpados diante de Deus. Agora São Paulo mostra que Deus os pode tornar justos justificar. Deus restaura o homem na sua amizade, se ele aceita, na fé, a doação da própria vida que Jesus realizou no sacrifício da Cruz. Esta oferta e pura graça, puro dom de Deus. Não depende de méritos nossos provindos da observância pura da Lei, de pios exercícios, façanhas pastorais, etc., mas também não quer dizer que podemos recebê-la sem fazer nada. A fé é que nos faz acolher o dom de Deus, mas ela produz também frutos na prática.

Enquanto o mundo profano celebra desregradamente o Carnaval a nossa fé não pode ser reduzida ao dizer, a uma oração separada da vida, convém lembrar, entretanto, que ela não coincide tampouco com o fazer. Isto é lembrado especialmente hoje, quando tudo na sociedade nos leva a medir os valores, os acontecimentos e as pessoas na base do critério da eficiência, do sucesso, do lucro, da promoção na carreira profissional..., isto é, na base de um fazer que nada tem de evangélico. O agir pelo evangelho nada tem a ver com o conceito de eficiência e sucesso. Pelo contrário, frequentemente é um agir, do ponto de vista humano, coroado pelo insucesso e pelo malogro mais paradoxal. Humanamente falando, a vida de Cristo não termina com o sucesso, mas com a mais humilhante falência: a condenação, o abandono dos discípulos, a morte infame na cruz. Mas é precisamente neste insucesso que o mistério da salvação e o triunfo da Páscoa lançam as suas raízes.

Somos convidados a fazer uma revisão de vida. Hoje somos apenas ouvintes da Palavra de Deus? Ou nós a cumprimos? Devemos ter consciência de que somos chamados a compreender a Palavra de Deus e nos comprometermos com Ela, dando ao mundo testemunho desta Palavra e transformar esta Palavra em ações concretas no nosso dia a dia. Somente seguiremos o caminho da benção de Deus quando compreendermos o Evangelho e vivermos com testemunhos pela Palavra santificadora e pela ação o mistério do Cristo que se faz companheiro na caminhada para o Céu. Amém!

Padre Wagner Augusto Portugal.
Vigário Judicial da Diocese da Campanha(MG)







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