As religiões ao serviço da paz nas situações de conflito
Neste período de grave crise para os diversos Estados da África e do Médio Oriente,
nos perguntamos qual pode ser o papel da Igreja Católica e das comunidades cristãs
locais na procura do bem-estar dos seus países e das nações a que pertencem.
As
manifestações públicas deste período envolvem uma região em que o Islão é, sem dúvida
alguma, a religião mais difusa. No entanto, são de carácter social e político as razões
que estão na base dos protestos das populações. E, a Igreja que desde sempre promove
a procura da paz no respeito das convicções religiosas, está presente e activa em
todos estes países.
É significativo, a este respeito, a mensagem lançada pelos
bispos da CERNA (Conferência Episcopal da África do Norte), no final da sua Assembleia
plenária anual realizada em Argel de 29 de Janeiro a 2 de Fevereiro. Na mesa dos trabalhos
esteve a questão duma “melhor convivência entre as diversas comunidades religiosas”
orientada também para o desenvolvimento económico e social da região.
Nesta
perspectiva de reforço do “viver juntos”, os bispos exprimiram o desejo de uma relação
solidária e constante com os representantes da comunidade muçulmana, através do dialogo
e da partilha de experiência. Disto sairão reforçados os direitos humanos e civis,
considerados a condição essencial para se chegar a uma paz duradoura. Os bispos da
CERNA decidiram também criar mais ocasiões de contacto com os muçulmanos, encontros
destinados não a debater temas de carácter teológico, mas à promoção de iniciativas
concretas de desenvolvimento, como por ex. na área da educação, das profissões, do
apoio às actividades produtivas, do respeito dos direitos da mulher e de todos membros
da sociedade. No referido documento os bispos da Argélia, Marrocos, Tunísia e
Líbia sublinharam que os motins que afectam actualmente os seus países constituem
uma reivindicação de liberdade e dignidade, sobretudo da parte das novas gerações,
que querem ser reconhecidos como cidadãos responsáveis.
Neste momento crucial,
os cristãos, cidadãos de pleno direito desses países, não podem ser postos de parte.
São chamados a desempenhar um papel tanto do ponto de vista da afirmação da liberdade
religiosa e da procura do diálogo, como em nome do importante contributo que a Igreja
pode dar para a construção da paz.
Numa entrevista à Rádio Vaticano, o cardeal
Antonios Naguib, patriarca de Alexandria dos coptos, confirmou que “uma aragem de
democracia, de igualdade e de cidadania está a atravessar o Norte da África… Agora
sentimos que há uma verdadeira mudança” – disse. Também o arcebispo de Tunes,
D. Lahham e o Vigário Apostólico de Trípoles D. Martinelli precisaram que, para além
da grande preocupação pelas violências perpetradas contra populações, estes eventos
suscitam muitas esperanças. Esperanças para os jovens que são, afinal de contas, os
verdadeiros protagonistas de tudo isto; esperanças para as gerações futuras que a
Igreja deseja acompanhar e apoiar.
A tarefa que a Igreja quer aqui levar avante
é uma tarefa educativa e de salvaguarda dos valores humanos e espirituais, mas também
da promoção da justiça e da liberdade. Uma tarefa que quer levar avante mesmo nos
contextos mais difíceis, continuado a infundir coragem e a garantir toda a ajuda possível.
Prova disto são os numerosos apelos lançados nestes dias pelos bispos às instituições
politicas a fim de que dêem todo o apoio possível aos numerosos deslocados que se
encontram nas fronteiras da África do Norte e da Europa. Numerosos sacerdotes, entre
os quais o próprio D. Martinelli (na Líbia desde 1971 como sacerdote e desde 1985
como bispo), que embora tendo recebido o convite a abandonar tudo declara: “Enquanto
tiver vida, nunca hei-de abandonar a Líbia. Para onde vou? Esta é a minha Igreja.
Só saio daqui se me mandarem embora”. Também as religiosas que trabalham nos hospitais
nas várias partes do país atingidas pelas violências, dão testemunho disto. Não só
permanecem, como intensificam a sua assistência às pessoas lá onde é necessário ou
onde as comunidades católicas estão mais isoladas como na zona de Beida, Tripoli e
Bengasi.
Por fim, poderíamos dizer que também dão prova disto as numerosas
Igrejas que permanecem abertas e as comunidades de fieis que continuam a ir rezar
nas Igrejas.