APRESENTADO NA COLÔMBIA NOVO FILME SOBRE DOM ROMERO
Cartagena das Índias, 28 fev (RV) – O Festival Internacional de Cinema de Cartagena
das Índias (FICCI) apresentou ontem a estreia mundial de “O céu aberto”, documentário
do cineasta mexicano Everardo González sobre uma parte da vida do arcebispo salvadorenho
Oscar Arnulfo Romero. Dom Romero foi assassinado em 24 de março de 1980 em um crime
amplamente anunciado, aspecto que “O céu aberto” trata como um destino inevitável,
visto o que acontecia no país.
Primeiro foi a palavra, depois a bala assassina,
e na seqüência, o silêncio. Assim começa este vigoroso documentário sobre Dom Óscar
Arnulfo Romero, ‘a voz dos sem-voz’ em El Salvador, o pastor que em meio a uma das
guerras civis mais cruentas do continente se atreveu a dizer que a missão da Igreja
era identificar-se com os pobres.
A guerra civil de El Salvador deixou em doze
anos 75 mil mortos e desaparecidos e terminou em 1992 com a assinatura dos acordos
de paz. Segundo a Comissão da Verdade, que investigou os crimes ocorridos no conflito
(1980-1992), Dom Romero foi assassinado por ordem de Roberto d'Aubuisson, fundador
da Aliança Republicana Nacionalista (ARENA), partido que governou o país entre 1989
e junho de 2009.
Em “O céu aberto”, o cineasta dá voz a muitas pessoas que
testemunham a opressão a que foram submetidas por uma classe política e social que
as explorou durante anos; e conta como através das homilias de alguns sacerdotes,
o povo tomou consciência de sua miséria, se organizou e constituiu um movimento político
que desembocou na revolução.
O documentário ressalta o valor da mulher, a
primeira a sofrer “um processo de transformação” marcado pelo direito de sair de casa
para ser parte ativa do que mais tarde seria um movimento político – explicou González
em uma entrevista à agência EFE.
O diretor contou que muitas destas mulheres
combateram com suas ideias e convicções numa mão e seus filhos na outra, lutando quase
sempre sozinhas, com pouco apoio de seus maridos.
“A ideia de terminar o filme
com uma cena em que vemos ex-combatentes da guerrilha convivendo com ex-militares
do exército do qual eram inimigos é a tese do filme” – explicou González.
O
diretor adiantou que está trabalhando no roteiro de um novo filme que tratará do tema
da violência no México, as guerras pelo controle do território e o tráfico de narcóticos,
mas admitiu que teme atentados e ameaças contra ele e sua família. “São histórias
que morremos para contar” – enfatizou.
González lamentou a pouca difusão de
sua obra entre a mídia presente no Festival, que tem “O céu aberto” como concorrente
na seção ‘documentários’: “Trago a Cartagena uma película em estreia mundial e o Instituto
de Cinematografia (do México), que está aqui como convidado, não fez sequer uma menção,
quando é co-produtor da película” – criticou González.
“É o contrário do Brasil”
- disse, admitindo a admiração pelos cineastas brasileiros que “sabem construir histórias
comerciais, exitosas e com uma carga social forte”.
A 51ª edição do Festival
FICCI, aberta em 24 de fevereiro, vai até 3 de março e reune estrelas como Willem
Dafoe, Geraldine Chaplin, Luis Tosar e Nicolás Pereda. O site o evento é: www.
ficcifestival.com (CM)