Cidade do Vaticano, 26 fev (RV) - Conhecemos pouco sobre a realidade do mundo
árabe, muitas vezes tão distante da nossa. Mas nestes dias esse mundo desconhecido
entrou e continua entrando nas nossas casas através das imagens da televisão que evidenciam
povos que ganham ruas pedindo democracia e fim de regimes que duram décadas. Democracia,
palavra tão usada e consumada que talvez para nós tenha pouco efeito quando pronunciamos,
pois vivemos em uma democracia.
Desde a invenção da democracia pelos gregos
no século V a.C, essa expressão vem sendo utilizada com o intuito de dar unidade a
um povo, formar comunidades, desenvolver, controlar, sistematizar e organizar a sociedade,
diminuir distâncias e contribuir para a resolução pacífica de conflitos.
Em
meio a várias cenas chocantes de protestos populares reprimidos com violência em diversos
países do Oriente Médio - tal como na Líbia, onde fala-se de milhares de pessoas mortas
nas ruas durante manifestações por reformas políticas – fica evidente que a região
segue em um caminho sem volta em busca da democracia e de crescimento, depois da mudança
de rumos políticos no Egito.
Para especialistas no mundo árabe, não houve
surpresa com a avalanche de protestos simultâneos. Eles afirmam que os sistemas de
governo que predominam nestas nações vivem um processo de esgotamento de seus modelos
centralizadores e antidemocráticos, seria o esvaziamento dos próprios governos, que
não têm mais o que oferecer à sociedade. Foram anos em que nada do que foi prometido
foi feito. Depois o fim da esperança e da paciência da população árabe.
O mundo
árabe está vivendo a sua “primavera árabe”, disse à Rádio Vaticano o padre jesuíta
egípcio Samir Khalil Samir, professor de História da Cultura Árabe e Islamologia na
Universidade São José de Beirute, Líbano: existe um denominador comum por toda parte.
As pessoas estão cansadas de reinos ou repúblicas que duraram décadas, que não dão
lugar à democracia, à liberdade, à igualdade, à partilha de decisões, especialmente
com uma situação econômica e social em que muitas pessoas se encontram em dificuldade.
Este é um movimento que já não se pode parar.
Outro elemento interessante
dessa crise é a utilização das novas tecnologias de comunicação como Internet, Youtube,
Facebook, Twitter, uma comunicação instantânea que chega em um minuto em todo o mundo,
em todas as agências de notícias, e são os jovens, que mais utilizam esses instrumentos,
os protagonistas dessa avalanche de manifestações.
É realmente extraordinário
que os jovens desses países tenham conseguido reproduzir e ampliar o movimento de
revolta originalmente tunisiana desafiando, sem uma organização política nem armas
nas mãos – exceto pedras e suas próprias vozes –, as forças habituadas a não serem
contestadas e que nunca precisaram prestar contas de seus atos à população. A democracia,
nos modelos admissíveis pelo mundo árabe, pode não ser imposta em seguida, mas é indiscutível
que as portas foram abertas e de ora em diante tudo é possível.
“A pior democracia
é preferível à melhor das Ditaduras”, já dizia Rui Barbosa. (SP)