D. José Policarpo desafia a sociedade e a Igreja à «ousadia da esperança»
(26/2/2011) O Cardeal Patriarca de Lisboa confessou esta sexta-feira que a sua maior
preocupação é a "vitória dos individualismos e a perda do sentido comunitário" e de
comunhão entre os homens, sendo esse problema ainda mais "difícil porque atingiu a
própria Igreja". D. José Policarpo discursava no encerramento do colóquio comemorativo
dos seus 75 anos, que decorreu na Universidade Católica de Lisboa (UCP) e que incluiu
conferências sobre "Teologia dos sinais dos tempos", "Razão científica e fé", "Cultura
e evangelização" e "Religião e política". Falando dos sinais dos tempos, D. José
Policarpo lamentou que o próprio conceito de sociedade se tenha "degradado tanto",
com os "indivíduos a engalfinharem-se uns com os outros", num conflito que também
tem a ver com a política, o poder, a autoridade e os interesses públicos. "Perdeu-se
o sentido do nós e isso é essencial para o ser humano e para uma visão cultural do
cristianismo", disse o cardeal patriarca, reconhecendo que essa preocupação é "difícil
porque atingiu a própria Igreja". Mostrou-se igualmente preocupado com o facto
de hoje a sociedade e a própria Igreja Católica estarem a ter uma "visão muito pessimista
da história", admitindo que a "história hoje é complicada" e que com "globalização
tudo se complicou imenso". Sublinhou, a propósito, existir uma dimensão da história
que não vem na primeira página dos jornais e que é "preciso saber ler não apenas o
desastre", pois também "há coisas maravilhosas que atravessam hoje as sociedades contemporâneas",
as quais são grandes exemplos de "esperança". Enfatizou que, apesar de todas as
adversidades, é fundamental continuar a acreditar no mundo e nos homens, num caminho
que designou como a "dignificação da racionalidade".