PAPA RECEBE PATRIARCA LIBANÊS SFEIR: BISPO MARONITA DESTACA MUDANÇAS NO MUNDO ÁRABE
Cidade do Vaticano, 25 fev (RV) - Bento XVI iniciou seus compromissos desta
sexta-feira recebendo em audiência, no Vaticano, o Patriarca de Antioquia dos Maronitas,
no Líbano, Cardeal Nasrallah Pierre Sfeir. O purpurado participara, quarta-feira passada,
da cerimônia de bênção da imagem de São Marun – fundador da Igreja maronita – colocada
num nicho externo da Basílica Vaticana.
Encontrava-se presente no evento também
o chefe de Estado libanês, Michel Sleiman, que nesta quinta-feira manteve com o Papa
um cordial colóquio, centralizado nos recentes eventos em alguns países árabes, e
no qual emergiu a convicção da urgência de se resolver os conflitos ainda abertos
na região.
A esse propósito, o responsável pelo Programa árabe da Rádio Vaticano,
Pe. Jean Mouhanna, pediu uma reflexão do Bispo maronita do Cairo, Dom François Eid,
que fez parte da delegação do Cardeal Sfeir. Eis o que disse:
Dom François
Eid:- “O que estamos vendo é uma situação muito complicada da qual deverão nascer
novos governos, diferentes dos antigos governos que descuidaram do bem do povo, apropriando-se
de todas as riquezas de seus respectivos países. Ao invés de instaurar o estado de
direito, criaram regimes de matriz familiar e isso alargou o fosso social com o povo.
Face a essa situação os jovens se encontraram diante de uma decisão: a de mudar. Uma
escolha difícil porque esses regimes estão armados, enquanto os jovens têm a seu lado
apenas o conhecimento e a cultura. Nisso a mídia e as novas tecnologias de comunicação
ajudaram muito os jovens. O milagre teve início na Tunísia: vimos e estamos vendo
ruas lotadas de jovens que pedem justiça. Fazemos votos de que não se infiltrem alguns
partidos religiosos para desfrutar, para seus fins, essa revolução dos jovens tranformando-a
numa ideologia e numa situação negativa.”
P. Quais são agora as perspectivas?
Dom François Eid:- “Não há dúvida de que a mudança teve início
e não se pode voltar atrás! Os jovens aspiram somente a um Estado que exista para
todos os cidadãos, prescindindo da pertença cultural, religiosa, étnica ou tribal.
Sabemos que países como a Líbia e o Iêmen são estruturados com base tribal. Os jovens,
ao invés, se sentem pertencentes a uma aldeia nacional e universal, não tribal. O
sonho deles é o de construir um Estado melhor, capaz de realizar as suas aspirações.
Defendem que todo regime baseado na injustiça deve acabar. Buscam o pão, uma vida
digna, a liberdade e o direito, porque a dignidade de um simples cidadão é igual à
de quem governa. Esses regimes, ao invés, são falimentares. Os jovens entenderam também
que os progressos conquistados por esses países beneficiavam somente os corruptos.
O povo não obteve nada desses progressos. Agora esperam reencontrar a sua dignidade.”
(RL)