CARDEAL NAGUIB SOBRE PROTESTOS NO MUNDO ÁRABE: VENTOS DE DEMOCRACIA
Roma, 24 fev (RV) - A Líbia e o que está acontecendo no mundo árabe estiveram
no centro da atenção do Simpósio organizado pela Comunidade romana de Santo Egidio,
com o tema "Agenda da convivência, cristãos e muçulmanos por um futuro juntos".
Educação,
cultura, dimensão política e religiosa, e tutela dos direitos fundamentais da pessoa
foram os pontos nodais sobre os quais os representantes das duas confissões, bem como
homens políticos e de cultura, se interrogaram durante o Simpósio.
Para o Egito
– segundo país após a Tunísia a registrar a onda popular de protestos que se tem verificado
no mundo árabe – se abre agora a ocasião real de se tornar um país moderno: foi o
que disse à margem do Simpósio, o Patriarca de Alexandria dos Coptas, Cardeal Antonios
Naguib, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Cardeal Antonios Naguib:-
"Aquilo que está chegando, certamente, são ventos de democracia, de igualdade e de
cidadania. É muito bonito. Com a revolução de Nasser em 1952 foi introduzido o autoritarismo
que durou até 2011. Definia-se um Estado democrático, mas na realidade era uma ditadura
presidencial que de democracia só tinha o nome. Agora sentimos que há uma mudança."
P.
Há alguém, neste momento, no Egito, capaz de defender essa "reencontrada" democracia?
Cardeal
Antonios Naguib:- "Diria que há o povo e, sobretudo, a nova geração. Politicamente,
os líderes não estavam preparados para isso e o perigo é que outros, que são bem organizados,
possam sobrepor-se. Temos no Egito os irmãos muçulmanos..."
P. O senhor
tem receio de que tudo isso possa acabar por favorecer o fundamentalismo?
Cardeal
Antonios Naguib:- Favorecer, talvez não, mas dar espaço, sim. O perigo é que eles,
que são bem organizados e preparados, aproveitem desse espaço para impor-se. São bem-vindos
desde de que respeitem também os outros, a igualdade e as leis civis do país."
P.
Uma ultima questão: o que o senhor tem a nos dizer em relação ao que está acontecendo
na Líbia?
Cardeal Antonios Naguib:- "Se se compara o movimento do
Egito com o da Líbia, digo que o do Egito é um movimento "civil". O presidente respeitou
os cidadãos: quando chegou o momento, compreendeu que se tratava de ir ao encontro
de uma guerra civil ou de deixar que a população seguisse o seu curso, o seu movimento.
E se retirou. Na Líbia, não." (RL)