Sem conversão pessoal, não há verdadeira reforma da Igreja: sublinhou o Papa na audiência
geral, dedicada a São Roberto Belarmino (1541-1621), teólogo jesuíta, bispo e doutor
da Igreja
“Não pode haver verdadeira reforma da Igreja, sem a nossa reforma pessoal, sem a conversão
do nosso coração – advertiu o Papa, dirigindo-se aos mais de sete mil peregrinos que
participaram nesta quarta-feira, na Aula Paulo VI, no Vaticano, à audiência - geral,
dedicada a São Roberto Belarmino, teólogo jesuíta, escritor e cardeal, que viveu de
1542 a 1621, desempenhando um importante papel, em “tempos marcados pela dolorosa
cisão da cristandade ocidental, quando (explicou Bento XVI) uma grave crise política
e religiosa provocou a separação da Sé Apostólica de nações inteiras”.
Ouçamos
a síntese que da sua catequese o Papa pronunciou em língua portuguesa, logo seguida
pela saudação dirigida aos peregrinos lusófonos:
“Queridos
irmãos e irmãs, «Fomos criados para a glória de Deus e para a salvação eterna:
este é o nosso fim. Se o alcançarmos, seremos felizes; se dele nos afastamos, seremos
infelizes. Por isso, devemos considerar como verdadeiramente bom o que nos conduz
ao nosso fim, e como verdadeiramente mau o que dele nos afasta»: assim escreve São
Roberto Belarmino, bispo e doutor da Igreja. O Concílio de Trento terminara há pouco,
e a Igreja Católica precisava de ver confirmada e consolidada a sua identidade face
à Reforma protestante. A acção do nosso Santo insere-se neste contexto, tendo servido
fiel e valorosamente a Igreja ao longo dos últimos decénios do século XVI e primeiros
do século XVII. Na sua obra O Gemido da Pomba – «pomba» aqui é a Igreja –, chama vigorosamente
o clero e os fiéis a uma reforma pessoal e concreta da própria vida. Com grande clareza
e com o exemplo da vida, ensina que não pode haver verdadeira reforma da Igreja, se
primeiro não houver a nossa reforma pessoal e a conversão do coração. * * * Amados
peregrinos de língua portuguesa, a todos saúdo cordialmente, desejando que este nosso
encontro dê frutos de renovação interior, que consolidem a concórdia nas famílias
e comunidades cristãs, a bem da justiça e da paz no mundo. Como penhor de graça e
paz divina, para vós e vossos queridos, de bom grado vos concedo a Bênção Apostólica.”
Na
saudação dirigida aos peregrinos de língua inglesa, Bento XVI lembrou as vítimas do
“devastador” sismo na cidade de Christchurch, sul da Nova Zelândia, que já provocou
75 mortos, havendo ainda 300 pessoas dadas como desaparecidas. “Um novo e poderoso
terramoto, ainda mais devastador do que o do último Setembro, atingiu a cidade de
Christchurch, Nova Zelândia, causando consideráveis perdas de vidas humanas e o desaparecimento
de muitos pessoas, já para não falar nos danos dos edifícios”, disse o Papa, que assegurou
que os seus pensamentos e orações se dirigem, neste momento, “às pessoas que foram
duramente provadas por esta tragédia”. “Peçamos a Deus que alivie o seu sofrimento
e apoie os que estão envolvidos nas operações de resgate”, apelou, recordando ainda
“todos os que perderam a vida”. Recordamos que o estado de emergência foi declarado
em Christchurch, a segunda mais importante cidade da Nova Zelândia, de 400 mil habitantes,
onde se registou terça-feira um sismo de magnitude 6,3 na escala de Richter. Vários
edifícios da cidade neozelandesa incendiaram-se depois de ruírem.
No final
da audiência, Bento XVI procedeu à bênção da “Chama beneditina da Paz”, no início
da respectiva peregrinação anual, desta vez em terras britânicas, para se concluir
como sempre nos lugares de nascimento e morte de São Bento, Nórcia e Montecassino,
a 21 de morte, festa deste Santo patrono da Europa. Saudando o arcebispo de Spoleto-Nórcia,
os abades dos mosteiros de Nórcia e Montecassino e as respectivas autoridades municipais,
o Papa agradeceu-lhes a visita, fazendo votos de que esta tradicional iniciativa contribua
para reavivar a luz da fé, especialmente na Europa e seja portadora de concórdia e
reconciliação”. A chamada beneditina partirá no dia 1 de Março para Londres, onde
será acesa na Abadia anglicana de Westminster, no decurso de uma celebração ecuménica.
Antes
da audiência geral, no exterior da basílica de São Pedro, Bento XVI procedeu à bênção
de uma grande imagem de São Marão, fundador da Igreja maronita, colocada num dos enormes
nichos existentes na parte externa da ábside basilical. Presentes o cardeal Nasrallah
Pierre Sfeir, patriarca dos Maronitas, assim como o presidente libanês Michel Suleiman,
e um grupo de ministros, das diversas confissões. O chefe de Estado do Líbano será
recebido em audiência pelo Papa, nesta quinta-feira.