Rio de Janeiro, 22 fev (RV) - Na semana que passou, tivemos a quarta turma
participando do retiro do clero da Arquidiocese. A reflexão sobre a identidade do
presbítero, percorrendo os diversos momentos da história, alicerçando na Sagrada Escritura
e nos Documentos do Magistério está sendo uma oportunidade para renovar o entusiasmo
vocacional. Um dos aspectos aprofundados é sobre a missionariedade do presbítero na
Igreja. A missão permanente encontra na vida do padre um eco que anima os demais membros
da Igreja para que, como discípulos missionários, contagiem com a generosidade de
uma vida totalmente dedicada ao Reino de Deus.
A Congregação para o clero publicou
recentemente uma Carta Circular com as conclusões de sua Assembleia Plenária, com
o título “A identidade missionária do Presbítero na Igreja”. É uma oportunidade de
refletir sobre essa tese nesse momento importante da história da Igreja.
Esse
documento, depois da introdução, aonde vem recordada a vocação essencialmente missionária
da Igreja peregrina, que por desígnio do Pai nasce na ‘missão’ do Filho e do Espírito
Santo, a Carta vai aprofundando a temática de modo pontualizado em três seções:
Na primeira, ela trata da Consciência eclesial da necessidade de um renovado empenho
missionário e isso não somente pensando naqueles que nunca ouviram falar no Cristo,
mas é necessário um empenho cada vez mais atual de uma prática missionária no próprio
rebanho da Igreja, ou seja, entre os batizados.
Na segunda, atesta os Aspectos
teológico-espirituais da missionariedade dos presbíteros, salientando “Quando se fala
de missão, é preciso levar em consideração, necessariamente, que o enviado – o presbítero,
nesse caso – encontra-se em relação tanto com quem o envia como com aqueles aos quais
é enviado. Examinando sua relação com Cristo, o primeiro enviado do Pai, é preciso
sublinhar o fato de que, conforme os textos do Novo Testamento, é o próprio Cristo
que envia e constitui os ministros de sua Igreja, mediante o dom do Espírito Santo
concedido na ordenação sacramental; eles não podem ser considerados simplesmente eleitos
ou delegados da comunidade ou do povo sacerdotal. O envio vem de Cristo; os ministros
da Igreja são instrumentos vivos de Cristo, único mediador.
Na terceira, bem
mais extensa, recorda que é necessário, uma renovada práxis missionária dos presbíteros
e isso se faz necessário, porque: “A urgência missionária de nossos dias exige uma
renovada práxis pastoral. As novas condições culturais e religiosas do mundo, com
toda a sua diversidade, segundo as várias regiões geográficas e os diferentes ambientes
sócio-culturais, indicam a necessidade de abrir novos caminhos para a práxis missionária”.
Essa
prática é concretizada nos seguintes fundamentos: O missionário deve ser discípulo,
discípulo na missão ad gentes, não apenas partindo para lugares distantes, mas vivendo
como presbítero Fidei donum mesmo nas realidades de cada país, como o nosso, onde
existem lugares ainda tão necessitados da presença de missionários, como a imensa
região amazônica.
A evangelização missionária é um constante convite, pois
é preciso ir à procura dos nossos batizados, e também de todos os não ainda batizados,
anunciar-lhes, de novo ou pela primeira vez, o querigma, ou seja, o primeiro anúncio
da pessoa de Jesus Cristo, morto na cruz e ressuscitado para a nossa salvação, e de
seu Reino, e assim conduzi-los a um encontro pessoal com Cristo. O presbítero exercitará
sua vocação missionária fundado, sobretudo, no cumprimento fiel do tria munera que
se fundam o seu ministério: múnus de ensinar, santificar e governar, sobre cada um
desses múnus, recorda a carta: Ao ensinar: “Em primeiro lugar, para ser um verdadeiro
missionário dentro do próprio rebanho da Igreja, segundo as exigências atuais, é essencial
e indispensável que o presbítero se decida, com viva consciência e determinação, não
apenas a acolher e evangelizar aqueles que o pro- curam, tanto na paróquia como em
outros lugares, mas a «levantar- se e ir » em busca, primeiro, dos batizados que por
motivos diversos não vivem sua pertença à comunidade eclesial, e também daqueles que
pouco ou nada conhecem a Jesus Cristo”.
Ao santificar: “O exercício do munus
sanctificandi está também ligado à capacidade de transmitir um sentido vivo do sobrenatural
e do sagrado, que fascine e conduza a uma real experiência de Deus, existencialmente
significativa”.
Ao governar: “São indispensáveis a preparação e a organização
da missão nas comunidades eclesiais, nas paróquias. Uma boa preparação e uma organização
clara da missão já constituem um penhor de êxito frutuoso. Obviamente, o primado da
graça não pode ser esquecido, deve ser evidenciado. O Espírito Santo é o primeiro
operador missionário. Por isso, é preciso invocá-lo insistentemente e com muita confiança”.
A
Carta faz um convite-missão, relativo à formação missionária dos presbíteros: “Todos
os presbíteros devem receber uma formação missionária específica e cuidadosa, dado
que a Igreja quer empenhar-se, com renovado ardor e urgência, na missão ad gentes
e numa evangelização missionária, dirigida a seus batizados, de modo particular àqueles
que se afastaram da participação na vida e atividade da comunidade eclesial. Essa
formação deveria ter início já no seminário, sobretudo mediante a direção espiritual
e um estudo cuidadoso e aprofundado do sacramento da Ordem, a fim de salientar como
a dinâmica missionária é intrínseca ao sacramento”.
A Carta em sua conclusão
recorda e compromete: “Se a missionariedade é um elemento constitutivo da identidade
eclesial, devemos ser gratos ao Senhor, que renova, também por intermédio do Magistério
pontifício recente, essa clara consciência em toda a sua Igreja, e em particular nos
presbíteros.
A urgência missionária no mundo é verdadeiramente grande e exige
uma renovação da pastoral, no sentido de que a comunidade cristã deveria conceber-se
em «missão permanente», tanto ad gentes como onde a Igreja já está estabelecida, ou
seja, indo em busca daqueles que batizamos e têm o direito de ser evangelizados por
nós.
Não podemos permanecer com uma pastoral apenas de conservação e de celebrações
dos sacramentos e dos sacramentais. Dessa forma continuaremos atingindo apenas aqueles
que participam de nossas comunidades. Necessitamos de ir “mar adentro para águas mais
profundas” para chegar a outras pessoas e situações que também têm o direito de encontrar-se
com Jesus Cristo. Precisamos de novos métodos de evangelização, à luz do Documento
de Aparecida, para que nossos presbíteros sejam autênticos discípulos-missionários
de Jesus Cristo indo ao encontro dos fiéis, de suas necessidades, sempre anunciando
e testemunhando Jesus Cristo que está no meio de nós. Certamente não é fácil, mas
o nosso sacerdócio exige um despojamento total e um engajamento literal na vivência,
no agir e na pessoa de Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.
† Orani João
Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ