Forum Social Mundial: os testemunhos de dois moçambicanos e a homilia do card. Sarr,
arcebispo de Dakar (Dulce Araújo)
Prossegue, em
Dakar, o Fórum Social Mundial que reúne mais de 20 mil participantes do mundo inteiro.
De entre as actividades desta manhã uma conferência de imprensa do Movimento internacional
de camponeses “Via Campesina”. Dele fazem parte 12 países africanos reagrupados em
duas regiões: África Ocidental com secretariado em Bamako (Mali) e África Austral
com sede na capital moçambicana. Moçambique que está representado neste Fórum com
cerca de uma dezena de camponeses. Um deles é Renaldo Chingore João, segundo o qual
a questão agrícola em Moçambique é complexa. E explica… ... Renaldo Chingore
João membro do Conselho coordenador da “Via Campesina” e da União Nacional Moçambicana
de Camponeses. Desta União faz parte também Rebeca Avelino Mabuye que entre outros
aspectos põe em realce a violência contra as camponesas… … A camponesa moçambicana,
Rebeca Avelino Mabuye, no Fórum Social Mundial a decorrer desde domingo passado em
Dakar. E precisamente domingo, na missa celebrada para a abertura do Fórum, na Paróquia
dos Mártires do Uganda, o arcebispo de Dakar, Cardeal Adrien Sarr, estabeleceu uma
forte relação entre o apelo de Cristo a sermos “sal da terra e luz do mundo” e os
objectivos do Fórum. Para o cristão - disse - ser sal da terra e luz do mundo significa
não permanecer indiferente à situação de sofrimentos dos irmãos. Ser solidário com
os sem abrigo, com os que passam fome, com os migrantes indocumentados é ser sal da
terra. Ir às causas desses males é ser luz nas trevas do individualismo, do etnocentrismo,
da má governação, das situações que comprometem a dignidade e os direitos humanos.
Como cristãos temos o dever de projectar a luz do Evangelho em todas essas situações.
Fazendo-o, caminhamos em direcção aos objectivos do Fórum Social Mundial. Quando
as situações ou as decisões tomadas no mundo levam à dominação do mais forte, ao egoísmo
das nações, a desigualdades e a injustiças gritantes a Igreja deve opor-se com o sermão
da montanha e dar testemunho. É o que fizeram os bispos da África – frisou o cardeal
Sarr - citando uma das passagens do documento final do Sínodo de 2009 em que ele
próprio participou:
“Às grandes potências do mundo dizemos: tratai a
África com respeito. A África reclama desde há muito uma mudança da ordem económica
mundial, cujas estruturas injustas pesam fortemente sobre ela. As recentes desordens
no mundo financeiro mostram que é chegado o tempo de mudanças radicais nas regras
do jogo. Mas seria uma outra tragédia se esses ajustamentos servissem apenas os interesses
dos ricos em detrimentos dos pobres. A maior parte dos conflitos, das guerras e situações
de pobreza em África provêm essencialmente das estruturas injustas.”
O
cardeal Sarr fez depois compreender que ser sal da terra e luz do mundo requer oração,
sacrifício, testemunho. Temos de ser cristãos luminosos, calorosos, empenhados. Os
cristãos não podem contentar-se em fazer como todos os outros. Tal como o sal que
queima, devemos queimar o mal que nos rodeia e que não é digno do homem. Tal como
o sal que derrete o gelo, devemos romper o gelo dos corações doridos pela agressividade,
a violência, o terrorismo, o desejo de vingança. Tal como o sal que se dilui no alimento
dando-lhe gosto, o cristão deve diluir-se na sociedade, exprimindo-se sem ostentação
e trabalhando de forma desinteressada e com consciência profissional, por forma a
contribuir para um mundo melhor como o sal dá gosto à comida. Se cada cristão
– concluiu o cardeal – difundir a sua pequena luz de baptizado, contribuirá para tornar
o Planeta mais claro; se cada cristãos puser o seu grão de sal do Evangelho, a vida
terá o gosto de Deus. A missão do povo de Deus no mundo consiste em dar o testemunho
dum novo sentido do homem e da sociedade; construir sociedades em que o pobre é respeitado,
a justiça é a força da lei, e o engano e a força deixarão de ser a base das relações
entre os seres humanos.