REFLEXÃO SOBRE A LITURGIA DO IV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Cidade do Vaticano, 30 jan (RV) - A liturgia deste domingo nos apresenta, para
nossa reflexão, o tema da humildade. Na primeira leitura, o Profeta Sofonias nos recomenda
a humildade para encontrarmos refúgio no Senhor e para a prática da justiça. Isto
porque o humilde é pobre, sem poder e sem riqueza. Sua confiança está apenas no Senhor
e não nos bens terrrenos e nem na ação maléfica para garantir a estabilidade.
No
contexto da liturgia de hoje, o conceito de pobre deixa de ser maldição e passa a
ser bênção. O rico está de tal modo fascinado pelo conforto e segurança que o dinheiro
traz, que se esquece de que tudo deve estar subordinado à justiça, à ética emanada
da Lei de Deus, a Lei do Amor. O pobre, pelo contrário, confia plenamente no Senhor,
em sua Providência, vivendo a justiça dos filhos de Deus, que nos torna irmãos de
todos os homens.
No Evangelho, Jesus aprofunda o conceito de pobre e acrescenta
pobres em espírito, ou seja, é bem-aventurado aquele que desapegado dos bens deste
mundo, desapega-se também de atitudes nada fraternas como a arrogância, o poder opressor,
e se compromete na construção de uma sociedade alicerçada na partilha de todos os
bens, materiais ou não, e na fraternidade de seus pensamentos e ações.
Jesus
declara bem-aventurado um mundo novo, de acordo com os planos do Pai. Ele quer salvar
aqueles que ainda vivem no mundo antigo, corrompido, onde os únicos valores são riqueza,
poder e glória. Jesus nos propõe desapego dos bens materiais, serviço e humildade.
Esses são os valores da nova sociedade, vividos por aqueles que desejam construir
o Reino de Deus. Nela todos serão felizes e não apenas um pequeno grupo de privilegiados.
Quando
o Senhor fez seu sermão do alto da montanha, olhou em sua volta e encontrou a imensa
multidão de sofredores, injustiçados, cansados, sobrecarregados com todos os tipos
de fardos que podemos imaginar. São Paulo, em sua Carta aos Coríntios, mostra um espelho
aos seus seguidores e comenta que sua comunidade é formada por fracos, desprezados,
pessoas sem importância e valor. Esses foram os escolhidos por Deus para manifestar,
neles, o carinho de sua glória. É a nova sociedade, onde Deus impera com sua justiça
de amor.
Caríssimos irmãos, como somos nós? Como está nossa paróquia, nossa
associação religiosa? Vivemos essa nova sociedade promulgada por Jesus, do alto da
montanha, onde o pobre, o pecador são acolhidos com carinho e humildade de nossa parte,
ou nossa vida cristã mostra exatamente o contrário do que Nosso Senhor ensinou?
Que
o projeto de Jesus, para uma nova sociedade, esteja presente não apenas em nossa vida
eclesial, mas também em nossa casa, em nosso trabalho profissional, em tudo onde estivermos
atuando. Bem-aventurados aqueles que abrem mão de seus conceitos e verdades, para
seguir integralmente os ensinamentos do Senhor!