CIMI RECLAMA DE NEGLIGÊNCIA E CRITICA "EXTERMÍNIO DOS POVOS INDÍGENAS"
Cuiabá, 08 jan (RV) - O alto índice de mortalidade infantil registrado nas
aldeias da nação Xavante, em Campinápolis/MT seria resultado do abandono, omissão
e negligência do governo de Brasília: a análise é do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) que define a situação como "extermínio dos povos indígenas".
Em artigo
assinado por Iara Tatiana Bonin, membro do Cimi/RS, a mortalidade infantil indígena
é criticada pela entidade por seus números alarmantes. No texto, Iara Bonin lembra
que a terra indígena Parabubure, do povo Xavante, localizada a 562 km de Cuiabá, apresenta
uma taxa de mortalidade infantil preocupante.
"Segundo noticiou a imprensa
de Mato Grosso, das 200 crianças nascidas no ano passado, 60 morreram em decorrência
de doenças respiratórias, parasitárias e infecciosas, o que corresponde a 30% do total
de nascimentos no período" – diz o artigo.
E a indigenista completa: "Esta
terra indígena está registrada desde 1987, mas a comunidade Xavante sofre com a falta
de assistência adequada à saúde, já tendo ocorrido casos de mortes por falta de assistência,
denunciados pelo Conselho Indigenista Missionário, no Relatório de Violência contra
os Povos Indígenas de 2009."
As mais de 100 comunidades situadas na região
do Médio Araguaia – acrescenta Iara – reclamam da falta de veículos, de medicamentos
e de equipes técnicas para dar assistência às mais de sete mil pessoas que vivem ali.
A situação é precária, não há médicos, enfermeiros e nem meios de transporte para
levar os doentes à cidade.
Tal como ocorre na terra indígena Vale do Javari,
no Amazonas, os índices de mortalidade infantil na aldeia Xavante de Campinápolis
chegam a quase 100 óbitos para cada 1.000 crianças que nascem. "Em outubro de 2010,
lideranças indígenas acamparam na sede da Funasa, protestando contra a falta de uma
política adequada de atenção à saúde indígena. Apesar das diferentes formas de mobilização
e de luta dos povos indígenas, no dia-a-dia o que eles encontram é o abandono e a
omissão" – completa Iara Bonin, que é professora adjunta na Universidade Luterana
do Brasil.
"Privilegiando interesses econômicos e políticos específicos – diz
Iara, referindo-se ao Planalto – o governo federal colabora para tornar hostis as
relações estabelecidas com setores sociais menos favorecidos, em especial as populações
indígenas.
Para Iara, sejam quais forem as metas econômicas traçadas para
o país, a morte de tantas crianças, pertencentes a povos historicamente tão massacrados,
não pode ser considerada aceitável. E em nenhuma circunstância, a negligência com
os direitos desses cidadãos do presente e do futuro pode encontrar amparo em uma sociedade
que se define democrática.
"Tal como o nascimento, na cultura ocidental contemporânea,
a morte também pode adquirir diversos significados; mas a morte que decorre da omissão
do Estado não pode, de modo algum, ser esquecida. Não há como calar a voz diante do
extermínio lento e gradativo dos povos indígenas" – conclui Iara Bonin. (AF)