Campanha, 26 dez (RV) - “Vieram apressados os pastores e encontraram Maria
com José, e o menino deitado no presépio”(cf. Lc 2,16).
Envolvidos no clima
santo do tempo de Natal a Mãe Igreja nos convida a celebrar hoje a SAGRADA FAMÍLIA.
O tempo do Natal associa ao mistério da Encarnação os temas complementares da Sagrada
Família e da “Mãe de Deus”. A festa de hoje situa a Encarnação de Jesus no quadro
da família, célula básica da sociedade humana. Focaliza, por conseguinte, a condição
humana de Jesus e sugere algumas atitudes concretas para a vida cristã, para a vida
familiar. Não se trata de encontrar um receituário de vida moral, pura e simplesmente.
Mas de pistas para adequar a vida familiar à sociedade focando o mistério da família
de Nazaré, para voltarmos à nossa situação, aqui e agora, imbuídos do mesmo espírito
de fé que viveu a família sagrada.
Estimados Irmãos,
Os problemas da
família humana são apresentados pela liturgia de hoje: a insegurança, a morte que
ronda e nem sempre conduzida só pela mão da natureza; a violência, a corrupção, o
hedonismo desvairado, situações dificílimas da vida humana. De outro lado vivemos
também, com coragem, a grandeza de Deus que se apresenta confiante, prudente como
a Sagrada Família em tomar decisões que protejam ao Filho de Deus. Assim Jesus
é apresentado por Mateus como o Novo Moisés, o LIBERTADOR e fundador de um novo povo
de Deus; Jesus escondido e perseguido, é o Filho do Eterno Pai, a plenitude das promessas
de Deus e a esperança salvadora das criaturas humanas. Herodes havia mandado matar
todas as crianças para ver se aniquilava com Jesus. Assim, depois da morte de Herodes,
a Palestina foi dividida entre três filhos seus: Arquelau ficou com a Judéia, a Samaria
e a Iduméia; Felipe ficou com a parte oriental e norte da Galiléia; Herodes Antipas
ficou com a Galiléia e a Peréia. É esse Herodes que vai mandar matar João Batista
e terá parte na paixão de Jesus. Era muito astucioso, a ponto de Jesus chamá-lo de
Raposa. O mais violento dos três, entretanto, era Arquelau. Tão cruel e autoritário,
que o imperador romano Augusto se viu obrigado a depô-lo e exilá-lo. E no seu lugar
nomeou um “Procurador” romano na pessoa de Pôncio Pilatos que ocupou o posto por 10
anos. Porque a Sagrada Família teve que fugir para o Egito? Para que Jesus não
fosse vítima destes facínoras. A prudência de José, o justo pai adotivo de Jesus,
levou a família para o Egito. Depois de algum tempo Jesus foi levado para Nazaré aonde
passou a sua juventude e uma fase anterior a sua vida pública. Por isso Jesus foi
chamado de “O Nazareno”.
Estimados Irmãos,
É importante ressaltar
que Jesus foi considerado o novo Moisés. Muito maior do que o Moisés que tirou o povo
da escravidão e o encaminhou para a terra prometida. Jesus nos tira do pecado e nos
dá a graça, nos tira da morte e nos anuncia a vida eterna, a vida santa. Jesus sempre
foi o Sacerdote, o profeta, o legislador, o homem de Deus, o amado de Deus. Jesus,
filho de Deus, era sacerdote do altar da aliança nova e eterna, era o amor de Deus
encarnado no meio dos homens e das mulheres. Moisés devolvera ao povo a confiança;
devolvera ao povo a liberdade; fê-lo caminhar na busca da terra prometida; e sobretudo,
refizera o relacionamento do povo com Deus. Jesus fugiu e voltou para o seu povo,
demonstrando o amor permanente e fiel de Deus ao seu povo, enquanto o povo se tornava
sempre de novo infiel e desregrado. Jesus vem tirar o pecado do mundo e fazer do povo
infiel e ingrato um “povo escolhido, uma nação santa... revestida de luz... e um povo
de Deus”.
Estimados irmãos,
O Evangelho de hoje (cf. Mt 2,13-15.19-23)
mostra uma família do povo, sujeita a toda espécie de sacrifícios e tribulações. Uma
família que permanece unida nas dificuldades e nas desgraças. Uma família que, apesar
de santa e agradável a Deus, padece, angustia-se, sofre. É visível a lição de que
o sofrimento não é, por si, castigo do pecado. Desde a infância, Jesus passa pelo
sofrimento, sobretudo pelo sofrimento causado pela estupidez e cobiça do poder dos
outros opressores. Isso vale para todos nós que passamos pelas tribulações e pelos
sofrimentos. Somente com resignação, coragem, fé e amor em Deus Uno e Trino vamos
vencer o mal e triunfar o bem e a vida plena. No Evangelho a fuga ao Egito e a
instalação do lar em Nazaré. As três etapas da infância de Jesus: Belém, Egito e Nazaré,
não são mera casualidade. Deus o conduz e seus pais o protegem. Mateus quer mostrar
que, nestas etapas, se realiza a vinda da salvação para Israel. Plenifica-se a missão
do povo que também migrava um dia do Egito à terra prometida. Jesus, o novo Moisés,
criará, de judeus e pagãos, o novo povo de Deus.
Meus irmãos,
A Primeira
Leitura (cf. Eclo 3,2-6.12-14) anuncia a grandeza de Deus: “Como são belos os pés
que anunciam a paz, noticia a felicidade e traz uma mensagem de salvação: Deus reina
e nos ama!”. Por isso o Livro do Eclesiástico anuncia o comportamento que deve reinar
na vida familiar, chamando os homens a honrar o seu pai, para alcançar o perdão de
seus pecados, pois quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. O escritor
sagrado manifesta a necessidade de se amparar os pais na velhice, sendo compreensivo,
humilde e caridoso, assim seus pecados serão perdoados. Todas estas atitudes são atitudes
relevantes do quarto mandamento do Decálogo – honrar pai e mãe. A identidade de um
povo se mede, em certo sentido, pela relação familiar, pelo respeito, pelo amor e
pelo cuidado que se cultiva para com os pais. É bom notar que esta leitura apresenta
regras para a vida familiar – Regras da sabedoria judaica para a vida familiar. Prevalecem
o respeito importante aos pais, o bom comportamento e o bom senso que deve reinar
na vida familiar. Por isso, com o Salmo Responsorial (cf. Sl. 128) cantamos: Felizes
os que temem o Senhor e trilham seus caminhos! Na segunda leitura (cf. Cl 3,12-21),
São Paulo, orienta sobre a convivência familiar baseando-se, acima de tudo no amor,
que é vínculo de perfeição, e também no perdão e na paz em Cristo. Conclamando para
o perdão, esta atitude é vivida na família, que exige desprendimento e perdão. Paulo
faz recomendações a todos os membros do núcleo familiar, sempre relacionado a atitude
de um e de outro: “Mulheres, sede submissas a vosso marido, como convém no Senhor”(cf.
Cl 3,16), portanto com a dignidade de pessoa humana, conservando a integridade dos
valores cristãos. “Maridos, amai vossa esposa e não sejais ásperos com ela”(cf. Cl
3,19), seguido da recomendação aos filhos: “...obedecei em tudo aos vossos pais, pois
isto agrada ao Senhor”(cf. Cl 3,20). Como observamos São Paulo sublinha que o amor
de Cristo deve fundamentar as regras da vida familiar – Por isso Paulo cita brevemente
as regras da boa família helenística. A norma, porém, de tais regras não é o mero
bom comportamento, mas Cristo mesmo. Ele dá aos homens viverem juntos na paz e no
amor. Isso vale para a família e para a comunidade. Onde vive a paz, a Palavra de
Cristo encontra acolhida; aí também descobre-se a alegria na oração e no trabalho
em comum, no cotidiano de nossos dias. Jesus é a comunicação de Deus, é o que
Deus significa para nós; e o que não condiz com Jesus contradiz Deus. O que Jesus
fala e faz, é Deus quem o fala e o faz. Que vivamos a intensidade deste tempo, vivendo
como novos Cristos, também nossa carne, nossa vida e história, será uma palavra de
Deus para nossos irmãos e irmãs, e mostrará ao mundo o verdadeiro rosto de Deus: um
rosto de amor e de partilha. A família deve reencontrar o seu lugar primordial
na vida da sociedade, como célula mater da sociedade. O Santo Padre reafirma, constantemente
que somente a família conforme a vontade de Deus pode receber a graça de Deus e a
santificação do lar edificado sob as bênçãos da Igreja. O critério supremo de vida
da família deve ser procurado no exercício da caridade, que é a verdadeira fonte da
unidade familiar. Este exercício só é possível se as fronteiras da família forem as
do reino da fraternidade universal. A vida familiar não pode ser vivida na verdade
se não for aberta ao transcendente, ao Divino que se nos visita, com a encarnação
do Menino Deus, o Deus Conosco, o Emanuel!
Padre Wagner Augusto Portugal Vigário
Judicial da Diocese da Campanha (MG)