BENTO XVI NA MISSA DO GALO: DEUS NOS AMA A FIM DE QUE TAMBÉM NÓS POSSAMOS AMAR
Cidade do Vaticano, 25 dez (RV) - Deus se fez frágil como uma criança para
mostrar ao mundo a sua fortaleza e vem ao mundo para instituir ilhas de paz. Foi o
premente pensamento expresso por Bento XVI na noite desta sexta-feira, na Missa do
Galo celebrada na Basílica de São Pedro. Esteve no centro da homilia do Santo Padre
também o chamado à verdadeira fraternidade criada por Deus, que nos ama a fim de que
também nós possamos amar.
Durante a celebração rezou-se pelo ministério petrino,
pelo respeito à dignidade de toda pessoa, desde a concepção até seu fim natural e
por uma pacífica convivência entre os povos.
Eram quase 22h locais quando,
na Basílica Vaticana, foi entoada a "Kalenda", o antiquíssimo hino que anuncia ao
mundo o nascimento de Jesus. E o verdadeiro Natal começa daí, daquele Rei menino "nascido
pela decisão pessoal de Deus" – disse o Papa – e que, portanto, "constitui uma esperança"
porque o futuro se apóia n'Ele, "a promessa de paz":
"Este rei não precisa
de conselheiros pertencentes aos sábios do mundo. Em Si mesmo traz a sapiência e o
conselho de Deus. Precisamente na fragilidade de menino que é, Ele é o Deus forte
e assim nos mostra, face aos pretensiosos poderes do mundo, a fortaleza própria de
Deus."
É a humildade sublime de Deus que se inclina ao homem – continuou o
Pontífice – porque na noite de Belém se cumpre a profecia num modo imensamente maior
do quanto os homens pudessem intuir:
"Fica superada a distância infinita entre
Deus e o homem. Deus não Se limitou a inclinar o olhar para baixo, como dizem os Salmos;
Ele «desceu» verdadeiramente, entrou no mundo, tornou-Se um de nós para nos atrair
a todos para Si. Este menino é verdadeiramente o Emanuel, o Deus-conosco. O seu reino
estende-se verdadeiramente até aos confins da terra. Na imensidão universal da Sagrada
Eucaristia, Ele verdadeiramente instituiu ilhas de paz."
Em toda geração –
afirmou Bento XVI – Deus constrói o seu reino "a partir do coração" e acende nos homens
"a luz da bondade", dando-lhes "a força de resistir à tirania do poder". Mas hoje
persistem os algozes – ressaltou o Papa – os passos dos soldados ressoam e vemos ainda
vestes manchadas de sangue. A esse ponto de sua reflexão, a homilia do Santo Padre
tornou-se uma oração:
"Senhor, realizai totalmente a vossa promessa. Quebrai
o bastão dos opressores. Queimai o calçado ruidoso. Fazei com que o tempo das vestes
manchadas de sangue acabe. Realizai a promessa de «uma paz sem fim» (Is 9, 6). Nós
Vos agradecemos pela vossa bondade, mas pedimos-Vos também: mostrai a vossa força.
Instituí no mundo o domínio da vossa verdade, do vosso amor – o «reino da justiça,
do amor e da paz»."
Recordando, em seguida, o antigo significado do termo "primogênito",
ou seja, o "daquele que pertence a Deus de modo particular e é destinado ao sacrifício",
o Pontífice ressaltou como, na Cruz, Jesus oferecera a humanidade a Deus, de modo
que "Deus seja tudo em todos":
"Na Ressurreição, atravessou o muro da morte
por todos nós. Abriu ao homem a dimensão da vida eterna na comunhão com Deus. Por
fim, é-nos dito: Ele é o primogênito de muitos irmãos. Sim, agora Ele também é o primeiro
duma série de irmãos, isto é, o primeiro que inaugura para nós a vida em comunhão
com Deus. Cria a verdadeira fraternidade: não a fraternidade, deturpada pelo pecado,
de Caim e Abel, de Rômulo e Remo, mas a fraternidade nova na qual somos a própria
família de Deus."
E mais uma vez o Papa elevou uma oração:
"Senhor Jesus,
(…) dai-nos a verdadeira fraternidade. Ajudai-nos a tornarmo-nos semelhantes a Vós.
Ajudai-nos a reconhecer no outro que tem necessidade de mim, naqueles que sofrem ou
estão abandonados, em todos os homens, o vosso rosto, e a viver, juntamente convosco,
como irmãos e irmãs para nos tornarmos uma família, a vossa família."
"Quem
vislumbra Deus sente alegria" – continuou o Papa – porque Deus nos ama, nos espera
e suplica a nossa resposta no nascimento de seu Filho:
"Deus precedeu-nos com
o dom do seu Filho. E, sempre de novo e de forma inesperada, Deus nos precede. Não
cessa de nos procurar, de nos levantar todas as vezes que o necessitamos. Não abandona
a ovelha extraviada no deserto, onde se perdeu. Deus não se deixa confundir pelo nosso
pecado. Sempre de novo recomeça conosco. Todavia espera que amemos juntamente com
Ele. Ama-nos para que nos seja possível tornarmo-nos pessoas que amam juntamente com
Ele e, assim, possa haver paz na terra."
Ao término da celebração, algumas
crianças levaram a imagem de Jesus Menino ao Presépio montado dentro da Basílica Vaticana.
E, diante do Presépio, o Papa recolheu-se em silenciosa oração. (RL)