PAPA À CÚRIA ROMAMA: QUE DEUS NOS DESPERTE DO SONO DE UMA FÉ CANSADA
Cidade do Vaticano, 20 dez (RV) - Realizou-se na manhã desta segunda-feira,
na Sala Regia, no Vaticano, o tradicional encontro de fim de ano entre o Santo Padre
e a Cúria Romana para a troca de votos de felicitações natalinas.
"Desperta,
ó Senhor, teu poder e vem" - com estas e outras palavras a Igreja reza repetidamente
nos dias do Advento. Essa oração lembra o pedido dos discípulos a Jesus que dormia,
enquanto o barco estava para afundar por causa da tempestade. Quando a sua palavra
potente aplacou a tempestade, Jesus repreendeu os discípulos por causa de sua pouca
fé.
"A fé dorme, muitas vezes, também em nós. Por isso, peçamos-Lhe que nos
desperte do sono de uma fé que se sente cansada e restitua à fé o poder de mover as
montanhas, ou seja, de conferir a ordem justa às coisas do mundo" – frisou Bento XVI.
O escândalo da pedofilia na Igreja, o Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio e
a beatificação do Cardeal John Henry Newman, também foram abordados no discurso do
Papa à Cúria Romana.
O Santo Padre recordou o Ano Sacerdotal iniciado com
alegria e concluído com imensa gratidão, "não obstante as grandes angústias que o
acompanharam", disse Bento XVI, acrescentando:
"Com tal consciência, ainda
mais atônitos ficamos quando, precisamente neste ano e numa dimensão que não podíamos
imaginar, tivemos conhecimento de abusos contra menores cometidos por sacerdotes,
que desvirtuam o Sacramento, sob o manto do sagrado ferem profundamente a pessoa humana
na sua infância, prejudicando-a por toda a vida. Devemos acolher esta humilhação como
uma exortação à verdade e um apelo à renovação. Devemos encontrar uma nova determinação
na fé e no bem. Devemos ser capazes de penitência. Devemos fazer todo o possível,
na preparação ao sacerdócio, a fim de que tal coisa não mais se repita" - frisou Bento
XVI.
O Papa agradeceu às pessoas que se empenham em ajudar as vítimas e suscitar
novamente nelas a confiança na Igreja, a capacidade de acreditar em sua mensagem.
"Nos meus encontros com as vítimas deste pecado, sempre encontrei também pessoas
que, com grande dedicação, estão ao lado de quem sofre e foi lesado. Esta é a ocasião
para agradecer também a tantos bons sacerdotes que transmitem, humilde e fielmente,
a bondade do Senhor e, no meio das devastações, são testemunhas da beleza não perdida
do sacerdócio" - ressaltou o Papa.
Em relação ao Sínodo dos Bispos para o Oriente
Médio, Bento XVI recordou a situação dos cristãos nessa região do mundo e frisou que
o Sínodo desenvolveu um grande conceito de diálogo, perdão e acolhimento recíproco;
"conceito esse, que agora queremos gritar ao mundo" – disse ainda o Papa.
O
Santo Padre falou sobre a beatificação do Cardeal Newman e o que nos diz hoje a sua
conversão. "Aprendamos do beato Newman o autêntico significado da palavra consciência,
capacidade do homem de reconhecer a verdade, que lhe impõe ao mesmo tempo, o dever
de caminhar rumo à verdade, procurá-la e submeter-se a ela onde quer que a encontre"
– sublinhou Bento XVI.
Enfim, o Papa recordou suas viagens realizadas este
ano a Malta, Portugal e Espanha. Elas mostraram novamente que "a fé não é uma realidade
do passado, mas um encontro com o Deus que vive e age na história". (MJ)