Lahore, 16 dez (RV) - Denunciar o imã que ofereceu uma recompensa para quem
assassinar Ásia Bibi, revogar ou alterar a lei sobre a blasfêmia, injusta e discriminatória
para impedir abusos, e promover os direitos das minorias, em conformidade com a Constituição
do Paquistão: foi o que pediram os bispos, líderes políticos e representantes da sociedade
civil no Paquistão, em uma carta ao Primeiro-ministro do Paquistão, Yousaf Raza Gilani.
A carta, recebida pela agência Fides, foi assinada pelos Bispos Dom Anthony
Rufin (Islamabad), Secretário da Conferência Episcopal, Dom Joseph Coutts (Faisalabad),
Dom Andrew Francis (Multan), Dom. John Max Rodriguez (Hyderabad), Dom Sebastian Shaw
(Bispo-auxiliar de Lahore). Traz também o apoio de outros bispos e líderes de outras
comunidades cristãs, bem como de líderes sikhs, hindus e Baha'is, e de Khalid Masood,
líder do Conselho do Paquistão islâmico. Assinaram ainda o documento, vários membros
do Parlamento do Punjab, alguns juízes, advogados, militares e representantes da sociedade
civil, todos de religião islâmica.
A carta cita o caso da Asia Bibi e exige
a imediata incriminação do Imã, Yusef Qureshi, de Peshawar, que prometeu uma recompensa
de 500 mil rúpias (cerca de 4.500 euros) para quem matar Asia Bibi, observando que
este anúncio é contrário às leis e ao Estado de direito. O texto recorda a harmonia
inter-religiosa que reinava no país antes da promulgação da lei, promovida pelo ditador
Zia em 1986, notando que entre 1947 (data da fundação do Paquistão) e 1985, não se
verificaram acusações de blasfêmia.
A carta foi elaborada na conclusão de
um encontro realizado nos dias passados em Islamabad pela “Aliança das Minorias do
Paquistão”, que reuniu líderes religiosos, parlamentares, advogados e membros da sociedade
civil, sob a liderança do Ministro para as Minorias Religiosas, Shabhaz Bhatti, e
com a participação do Ministro para os Direitos Humanos, Mumtaz Alam Gilani.
O
encontro reafirmou o impacto negativo na sociedade paquistanesa derivado do abuso
da lei sobre a blasfêmia, apreciando a posição do Presidente Ali Zardari, que está
de acordo em modificá-la. Entretanto, grupos radicais islâmicos, como “Jaamat-e-Islami”,
e “Jammiat Ulema-e-Islam” e outros, que se reuniram nos últimos dias em Rawalpindi,
anunciaram o lançamento de uma campanha nacional e de uma estratégia abrangente, composto
por anúncios, apelos, conferências, manifestações, “para defender a santidade do profeta
Momé e evitar qualquer alteração da lei sobre a blasfêmia”. (SP)