Cristãos são as principais vítimas de perseguição religiosa no mundo: Mensagem do
Papa para o Dia Mundial da Paz lembra violência no Iraque, na Ásia, na África e no
Médio Oriente e pede fim do preconceito no Ocidente
(16/12/2010) Foi publicada nesta quinta feira a Mensagem de Bento XVI para o 44º
dia mundial da paz que ocorre no próximo dia 1 de Janeiro. O Papa sublinha antes
de mais que o ano que termina foi marcado pela perseguição, pela descriminação, por
actos terríveis de violência e de intolerância religiosa. Cita o Iraque, em particular
o ataque contra a catedral síro-catolica de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro em Bagdade
e contra os cristãos nas suas casas na capital iraquiana; os actos de violência e
de intolerância em particular na Ásia, África, Médio Oriente e sobretudo na Terra
Santa; recorda a solidariedade e o encorajamento expresso ás comunidades católicas
da Região pelo Sínodo para o Médio Oriente. Nalgumas regiões do mundo, não é possível
professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade
pessoal. Noutras regiões, há formas mais silenciosas e sofisticadas de preconceito
e oposição contra os crentes e os símbolos religiosos. Os cristãos são, actualmente,
o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. Pelo
contrario, afirma o Papa, negar ou limitar de maneira arbitraria tal liberdade, obscura
o papel publico da religião, significa cultivar uma visão parcial da pessoa humana,
significa gerar uma sociedade injusta e incompleta, significa tornar impossível a
afirmação da paz autentica e duradora para a inteira família humana: “A dignidade
transcendente da pessoa é um valor essencial da sabedoria judaico-cristã, mas, graças
à razão, pode ser reconhecida por todos. Esta dignidade….. há-de ser reconhecida como
um bem universal, indispensável na construção duma sociedade orientada para a realização
e a plenitude do homem. A liberdade religiosa - salienta o Papa na sua mensagem
está na origem da liberdade moral e da convivência civil: A ilusão de encontrar no
relativismo moral a chave para uma pacífica convivência é, na realidade, a origem
da divisão e da negação da dignidade dos seres humanos. Bento XVI cita o seu discurso
á Assembleia Geral das Nações Unidas de 2008: segundo o Papa é inconcebível que os
crentes tenham de suprimir uma parte de si mesmos – a sua fé – para serem cidadãos
activos. Nunca deveria ser necessário renegar Deus para poder gozar dos próprios direitos. O
Papa detêm-se também na sua mensagem sobre as limitações mais silenciosas da liberdadae
religiosa: aqueles do preconceito e da hostilidade em relação aos crentes e ais símbolos
religiosos: A mesma determinação, com que são condenadas todas as formas de fanatismo
e de fundamentalismo religioso, deve animar também a oposição a todas as formas de
hostilidade contra a religião, que limitam o papel público dos crentes na vida civil
e política. A mensagem sublinha o perigo para a paz social destes dos tipos de
fanatismo. “O ordenamento jurídico a todos os níveis, nacional e internacional,
quando consente ou tolera o fanatismo religioso ou anti-religioso, falta à sua própria
missão, que consiste em tutelar e promover a justiça e o direito de cada um. Tais
realidades não podem ser deixadas à mercê do arbítrio do legislador ou da maioria,
porque, como já ensinava Cícero, a justiça consiste em algo mais do que um mero acto
produtivo da lei e da sua aplicação. A justiça implica reconhecer a cada um a sua
dignidade, a qual, sem liberdade religiosa garantida e vivida na sua essência, fica
mutilada e ofendida, exposta ao risco de cair sob o predomínio dos ídolos, de bens
relativos transformados em absolutos. Tudo isto expõe a sociedade ao risco de totalitarismos
políticos e ideológicos, que enfatizam o poder público, ao mesmo tempo que são mortificadas
e coarctadas, como se lhe fizessem concorrência, as liberdades de consciência, de
pensamento e de religião. “ Como sempre Bento XVI é exigente antes de mais em relação
aos próprios crentes, em particular sobre a qualidade da sua fé e os seus comportamentos
na vida civil: As palavras do Papa a este propósito são densas de conteúdo e muito
significativas: Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em
sobressalto por causa da sua procura da verdade, da sua fé em Jesus Cristo e do seu
apelo sincero para que seja reconhecida a liberdade religiosa……Na liberdade religiosa
exprime-se a especificidade da pessoa humana, que, por ela, pode orientar a própria
vida pessoal e social para Deus ….Também hoje, numa sociedade cada vez mais globalizada,
os cristãos são chamados – não só através de um responsável empenhamento civil, económico
e político, mas também com o testemunho da própria caridade e fé – a oferecer a sua
preciosa contribuição para o árduo e exaltante compromisso em prol da justiça, do
desenvolvimento humano integral e do recto ordenamento das realidades humanas.
O Papa descreve os passos concretos necessários que devem ser empreendidos para promover
a liberdade religiosa como caminho para a paz. Antes de mais um diálogo são entre
as instituições civis e religiosas: “No respeito da laicidade positiva das instituições
estatais, a dimensão pública da religião deve ser sempre reconhecida. Para isso, um
diálogo sadio entre as instituições civis e as religiosas é fundamental para o desenvolvimento
integral da pessoa humana e da harmonia da sociedade.” Bento XVI dirige uma premente
apelo para que a verdade moral seja objecto da devida consideração tanto na politica
como da diplomacia:” Quer dizer agir de maneira responsável com base no conhecimento
objectivo e integral dos factos; quer dizer desmantelar ideologias políticas que acabam
por suplantar a verdade e a dignidade humana e pretendem promover pseudo-valores com
o pretexto da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos; quer dizer favorecer
um empenho constante de fundar a lei positiva sobre os princípios da lei natural.”
Ele pensa em particular na situação nos países ocidentais marcados pela hostilidade
contra a religião até á renegação da própria história e dos símbolos religiosos nos
quais se reflectem a identidade e a cultura da maioria dos cidadãos Num mundo globalizado,
caracterizado por sociedades cada vez mais multiétnicas e multiconfessionais- observa
o Papa – as grandes religiões podem constituir um importante factor de unidade e de
paz para a família humana. Assim, os lideres das grandes religiões, pelo seu papel,
a sua influencia e a sua autoridade sobre as comunidades dos crentes, têm uma responsabilidade
especial na promoção das condições para uma autentica liberdade de religião e de consciência:
“os líderes das grandes religiões do mundo e os responsáveis das nações renovem o
compromisso pela promoção e a tutela da liberdade religiosa, em particular pela defesa
das minorias religiosas; estas não constituem uma ameaça contra a identidade da maioria,
antes, pelo contrário, são uma oportunidade para o diálogo e o mútuo enriquecimento
cultural. A sua defesa representa a maneira ideal para consolidar o espírito de benevolência,
abertura e reciprocidade com que se há-de tutelar os direitos e as liberdades fundamentais
em todas as áreas e regiões do mundo.” A Mensagem do Papa para o próximo dia mundial
da paz é um convite ao diálogo como procura da verdade:” Para a Igreja, o diálogo
entre os membros de diversas religiões constitui um instrumento importante para colaborar
com todas as comunidades religiosas para o bem comum”. Várias vezes, Bento XVI
dirige-se com palavras de solidariedade e compaixão ás comunidades cristãs que sofrem
perseguições, descriminações, actos de violência na Ásia, no Médio Oriente e especialmente
na Terra Santa. Pede a todos os responsáveis de agir prontamente para pôr termo aos
abusos contra os cristãos que vivem naquelas regiões. E formula os seus votos:
“de que cessem no Ocidente, especialmente na Europa, a hostilidade e os preconceitos
contra os cristãos pelo facto de estes pretenderem orientar a própria vida de modo
coerente com os valores e os princípios expressos no Evangelho. Mais ainda, que a
Europa saiba reconciliar-se com as próprias raízes cristãs, que são fundamentais para
compreender o papel que teve, tem e pretende ter na história; saberá assim experimentar
justiça, concórdia e paz, cultivando um diálogo sincero com todos os povos.” (texto
integral em "Documentos do Vaticano)