Mensagem colectiva de Natal dos Bispos portugueses com um apelo á mobilização da Igreja
perante as “circunstâncias dramáticas para muitas pessoas e famílias” do país
(7/12/2010) Os bispos católicos de Portugal publicaram esta Terça-feira uma mensagem
colectiva de Natal na qual apelam à mobilização da Igreja perante as “circunstâncias
dramáticas para muitas pessoas e famílias” do país. “Torna-se urgente redescobrir
o verdadeiro e concreto significado da caridade cristã numa variedade de propostas
e intervenções imediatas de proximidade”, assinalam. O documento da Conferência
Episcopal Portuguesa (CEP), divulgado no final do encontro do Conselho Permanente
que decorreu hoje no Porto, sublinha que “a crise actual veio tornar ainda mais visíveis
dramas sociais já antigos e provocar outros que pareciam de todo improváveis”. Para
os responsáveis católicos, “a crise não só tornou mais patentes as grandes carências
das pessoas e famílias pobres e excluídas, como aumentou, gravemente, o número das
que, por via do desemprego, perderam os seus níveis de rendimento e o seu estatuto
social, caindo em situações que, outrora, não se imaginavam possíveis”. “Por esse
ou outros motivos, cresceu, a um nível preocupante, o número dos «novos pobres» forçados
à humilhação de assim se exporem, uma situação que muitos têm dificuldade quase inultrapassável
de superar”, lamenta a mensagem colectiva dos Bispos. Entre as causas das crises,
o documento aponta “os poderosos interesses incontroláveis, nacionais e transnacionais,
a falta de coragem e verdade governativas, os exagerados interesses individuais, a
desregulação dos mercados, a circulação descontrolada de capitais”. O texto lamenta
atitudes e situações como “injustiças e desigualdades gritantes, desemprego e frustrações
pessoais e colectivas, pobreza e exclusão social que «bradam aos céus», manifestações
de violência doméstica e colectiva, propensão difusa para o derrotismo, cultura do
individualismo, falta de aplicação ética no domínio público”. A CEP aponta ainda
o dedo a “muitas forças” que se limitam à “contestação sistemática da ordem vigente”,
sem formularem “propostas consistentes e sem experimentarem, no concreto, as suas
opções, tornando a governação do mundo e do país muito difícil”. Perante o actual
cenário de crise, os bispos pedem respostas “a partir do nível local”, promovendo
“o conhecimento de todas as situações de carência” e “a procura das respectivas soluções,
mesmo provisórias”. “A gravidade extrema da crise actual e a nossa corresponsabilidade
perante ela tornam imperioso o empenhamento sério de todos, nomeadamente pelo diálogo
social, pela negociação colectiva e pela concertação”, refere a mensagem colectiva
de Natal. Para a CEP, todos são chamados a assumir uma nova atitude “na família,
no trabalho, na vida associativa, na participação política", bem como "na valorização
da escolaridade e da imprescindível liberdade de ensino" e na "acção solidária a favor
das pessoas mais pobres e excluídas”. Aos católicos, em particular, é pedida a
“a criação e o funcionamento dos grupos paroquiais de acção social, em colaboração
com a Cáritas, as Conferências de S. Vicente de Paulo e outras instituições”. Apela-se
ainda para o aproveitamento do Fundo Social Solidário,recentemente aprovado pela Conferência
Episcopal, que “poderá funcionar como pólo dinamizador da acção conjunta a desenvolver”. “Que
os pobres experimentem a ternura da Igreja em Portugal, através de gestos concretos
de partilha e solidariedade”, deseja a CEP. A mensagem assinala que "todas as crises
são desafio a ultrapassar os nossos comodismos em favor dos mais carenciados". Nesse
sentido, observam os bispos, "a celebração do Ano Europeu do Voluntariado em 2011
é uma ocasião propícia para estreitar laços com os mais necessitados, em gestos e
atitudes de serviço gratuito".