(7/12/2010) Mais do que um dogma, proclamado pelo Papa Pio IX a 8 de Dezembro de
1854, a festa da Imaculada Conceição de Maria deve ser vista como um traço característico
do catolicismo português, que firmou raízes na devoção popular do século XVI. D.
Carlos Azevedo, em entrevista ao Programa da Igreja Católica, na Antena 1, fala de
uma celebração que é “imagem da Igreja, de todos aqueles que, pelo Baptismo mergulham
a sua vida na graça de Deus”. Para o bispo auxiliar de Lisboa, esta festa representa
“a vitória de Deus sobre o mal e o encanto de uma vida sem pecado”, já que transmite
como ideia principal a santidade da “Mãe da Igreja”, desde o primeiro momento da sua
existência. O especialista em história religiosa, autor de obras como o “Vigor
da Imaculada. Visões de Arte e Piedade”, recorre à arte para exemplificar a importância
desta temática na religiosidade do nosso país. As várias representações artísticas,
expostas nas nossas igrejas desde o século XVI, “preservam e demonstram o amor e a
devoção à Imaculada Conceição, num trabalho que inicialmente se deveu muito às confrarias
ligadas aos franciscanos”. Em todas elas, a figura de Maria surge como “a mulher
ideal, sem pecado, uma visão ideal da História, que põe a serpente e o dragão, o mal,
debaixo dos seus pés”, refere D. Carlos Azevedo. O prelado dá como exemplo “as
metáforas bíblicas”, que projectam sobre Maria tudo o que há de belo, os astros, as
estrelas, o sol. “Ela aparece rodeada, muitas vezes, com estes símbolos que, no fundo,
são a beleza da criação. Maria é o cume dessa beleza”. Outro recurso que a arte
utiliza é a genealogia. “Na árvore de Jessé” continua o bispo, “Maria aparece como
a flor que está no cimo da árvore”, origem da linha de vida que se prolongou até Jesus. Com
o século XVII atinge-se o topo na divulgação do culto à Imaculada Conceição, um pouco
por toda a Europa, devido à reacção que esse tema provocou na polémica protestante. Em
Portugal, esta conjuntura ganhou ainda maior importância, com o gesto de D. João IV,
que em 1646 consagrou a nação portuguesa à Imaculada Conceição. Para o bispo auxiliar
de Lisboa, a Imaculada Conceição de Maria adquiriu uma qualidade de «valorização da
dimensão católica» aparecendo frequentemente como um tema importante para debater
ideais religiosos. Actualmente, este simbolismo da Imaculada Conceição, enquanto
sinal da vitória do bem sobre o mal, não deve ser esquecido. “Se nós hoje vivemos
uma experiência difícil, em muitos aspectos da vida social, isso é fruto da maldade
humana, da falta de capacidade de se intervir para combater o mal” sustenta D. Carlos
Azevedo para quem “falta gente que calque o mal como fez Maria”. (Em Ecclesia)