PAQUISTÃO: RELIGIOSOS PEDEM MODIFICAÇÕES NA LEI SOBRE BLASFÊMIA
Islamabad, 05 dez (RV) – "A lei sobre a blasfêmia é discriminatória e é utilizada
para resolver as próprias disputas pessoais". Essa situação foi evidenciada durante
o seminário sobre essa lei, organizada em 2 de dezembro pelo centro de estudos laicos
Jinnah Institute de Islamabad, capital do Paquistão.
O intuito do encontro
é formular um pedido para o governo, no sentido de que este faça modificações na lei
da blasfêmia, tendo como catalisador o recente caso de Ásia Bibi. Estavam presentes
líderes religiosos cristãos e muçulmanos, representantes de organizações não governamentais
e membros da sociedade civil.
Durante o encontro, os participantes discutiram
a proposta de lei apresentada à Assembléia Nacional pelo ex-ministro da Informação,
Sherry Rehmanil. A proposta consiste na modificação das seções 295 A e C do Código
Penal paquistanês, e da 298 do Código de Procedimento Penal. Com as mudanças, seria
mais viável garantir a todos os cidadãos direitos iguais de tutela constitucional
, evitando-se os erros freqüentes de interpretação no que diz respeito à blasfêmia.
O arcebispo de Islamabad, Dom Rufin Anthony, disse que a definição atual de
blasfêmia é muito vaga, e leva obrigatoriamente à pena de morte, segundo a seção 295C
do Código Penal.
A lei também foi criticada pelo estudioso de religião muçulmana,
Javed Ahmad Ghamdi, a qual, segundo ele, acaba em constantes discriminações, principalmente
contra as minorias.
De acordo com dados da Comissão Nacional Justiça e Paz
da Igreja Católica, de 1986 a 2009, pelo menos, 964 pessoas foram incriminadas sob
acusação de terem profanado o Alcorão ou difamado o profeta Maomé. Entre estes, 479
eram muçulmanos, 119 cristãos, 340 ahmadi, 14 hinduístas e os outros 10 de religiões
diversas.
A lei da blasfêmia dá margens a ataques e vinganças pessoais e homicídios
extrajudiciais. (ED)