(1/12/2010) Dois milhões de mulheres vítimas de abusos, na maior parte das vezes
gravemente, porque são obrigadas a emigrar dos seus países de origem. O presidente
do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Arcebispo Antonio
Maria Vegliò, disse que se trata de uma massa "invisível" de pessoas, que invocam
formas de tutela.
A declaração de Dom Vegliò foi feita no âmbito da abertura
de um simpósio em Saly, no Senegal, intitulado "O rosto Feminino das Migrações",
organizado pela Caritas Internacional, e que será desenvolvido nessa localidade africana
até ao dia 2 de Dezembro .
A emigração e a imigração não são fenómenos exclusivamente
masculinos. E essa afirmação, na verdade, é menos óbvia do que possa parecer. Dom
Vegliò foi claro nas suas declarações a esse respeito. Segundo ele, "em nenhuma parte
do mundo existem leis em matéria de maternidade que levem em consideração o facto
de que cada mulher migrante tem uma maneira própria de lidar com as diversas realidades".
Falando em nome da Igreja, disse que "os governos devem rever as suas políticas e
as regras que comprometem a tutela dos direitos fundamentais das mulheres, como a
luta contra os abusos sexuais e os abusos no trabalho, o acesso ao sistema de saúde
pública, moradia, nacionalidade e assistência às jovens mães.
O representante
da Santa Sé apresentou dados de que há países nos quais a emigração feminina superou
a masculina e de que, no entanto, somente 42 países ratificaram a Convenção Internacional
sobre a Protecção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas
Famílias.
Dom Vegliò salientou que as mulheres imigrantes conseguem trabalho
geralmente no âmbito doméstico, porém, muitas vezes, trabalham na ilegalidade, vêem
os seus direitos desrespeitados e são vulneráveis a todo o tipo de abuso.
O
prelado lembrou ainda, aos participantes do simpósio, que 4 milhões de mulheres no
mundo – metade delas menores de idade – fazem parte do mercado da prostituição, o
qual movimenta 12 biliões de dólares por ano. "Isso coloca a prostituição – disse
ele – como a terceira actividade ilegal mais rentável do mundo, ficando atrás apenas
do tráfico de armas e do tráfico de drogas".
A concluir a sua intervenção
, Dom Vegliò afirmou que a Igreja Católica vai continuar o seu trabalho de acolhimento
dos migrantes, mobilizando-se também para que a legislação sobre a liberdade religiosa
seja reformada com espírito de justiça e respeito mútuo. "A insuficiente possibilidade
concreta de participação social, política e cultural que a sociedade civil oferece
hoje às mulheres repercute – se também nas comunidades cristãs, chamadas, por isso,
a valorizar, em primeiro lugar, os valores de referência, a vivência quotidiana e
a cultura da mulher imigrante.