Mundo com menos liberdade religiosa: a intolerância em relação aos cristãos está a
crescer
(24/11/2010) Desde Janeiro de 2009 até hoje, o número de violações da liberdade religiosa
tende a piorar, revela um relatório que Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) acaba
de publicar. A edição 2010 deste documento, que analisa a situação de 194 países
de todo o mundo mostra que a intolerância em relação aos cristãos está a crescer,
inclusivamente em países ocidentais. Particularmente preocupantes, segundo o documento,
são as discriminações com base na religião, em especial na área de predomínio islâmico,
e a hostilidade face à religião com motivações políticas. O Relatório 2010da Liberdade
Religiosa no Mundo (RLRM) elenca 21 países com “graves restrições e/ou muitos episódios
de intolerância social ou legal relativamente à religião: Arábia Saudita, Bangladesh,
China, Coreia do Norte, Cuba, Egipto, Eritreia, Iémen, Índia, Irão, Iraque, Laos,
Maldivas, Myanmar (antiga Birmânia), Nigéria, Paquistão, Somália, Sudão, Uzbequistão
e Vietname. Entre as vítimas da violência, que levou a centenas de assassinatos,
estão uma criança de 4 anos, no Paquistão, e um bebé recém-nascido, no Iraque. Na
apresentação do estudo, que decorreu esta Terça-feira, em Lisboa, Octávio Carmo, chefe
de redacção da Agência ECCLESIA, destacou a “violência cega” que atinge qualquer crente,
independentemente da sua idade e condição. 21 casos de mortes, repressões legais,
perda de propriedades, prisões, perseguições, actos de vandalismo e limitações constitucionais
à liberdade religiosa foram apresentados, ilustrando os dados do RLRM. O Pe. Jacinto
Farias, assistente eclesiástico da Fundação AIS, destacou a liberdade de consciência
como o aspecto “mais elevado” e, ao mesmo tempo”, mais delicado” da liberdade de expressão,
no mundo actual. Catarina Martins, presidente do Conselho de Administração da Fundação,
fala desta matéria como uma “temática fundamental”. Os dados do relatório falam
no fim do cristianismo na Coreia do Norte, país no qual a Igreja não tem clero e o
culto e impossível. Segundo a agência AsiaNews, o número real de católicos não excede
as 200 pessoas, na sua maior parte, muito idosas. Exemplo de repressão são as Maldivas,
cuja constituição estabelece o Islão como religião de Estado, proibindo os cidadãos
de professar qualquer outra fé. É ilegal levar Bíblias ou outro material religioso
não-muçulmano para o país. A este respeito, Octávio Carmo convidou a fazer “opções
éticas” quando, por exemplo, se escolherem destinos turísticos, não ignorando as violações
da “liberdade de consciência”. Quando à «cristianofobia» no Ocidente, o RLRM considera
que “do ponto de vista da agressão cultural, é um fenómeno claramente em crescimento”. O
documento analisa a situação dos cristãos e de outras confissões religiosas, denunciando
casos de perseguição e de atropelos a um direito fundamental consagrado na Declaração
Universal dos Direitos do Homem. A publicação, com mais de 500 páginas, regista
os casos mais dramáticos no período estudado em várias nações onde a liberdade de
culto é negada das maneiras mais violentas e nas quais os crentes são perseguidos,
em alguns casos até à morte. O estudo fala em graves limitações à liberdade de
culto e de consciência, além de limitações legais à liberdade religiosa e episódios
de repressão legal. Este relatório analisa a situação da liberdade religiosa em
cada país, com base nos testemunhos de representantes da Igreja local, documentos
oficiais, artigos de agências de notícias e outros media especializados em assuntos
religiosos, bem como nas informações fornecidas por organizações de direitos humanos. Com
este documento, a organização católica internacional AIS pretende apresentar um "compêndio
geral do grau de liberdade religiosa existente em cada um dos países do mundo, além
das formas e motivos da repressão que padecem os diferentes grupos religiosos". A
intenção deste relatório é a esperança de gerar assim, naqueles países onde não está
garantida a liberdade religiosa, um processo de tomada de consciência entre governantes
e dirigentes religiosos, que contribua para melhorar as condições de vida de milhões
de seres humanos que vêem esmagado o seu direito mais íntimo e profundo. A AIS
promove, neste Natal, uma campanha em favor do Paquistão, um país onde, apesar da
perseguição e discriminação, a Igreja Católica está a crescer rapidamente