2010-11-20 18:28:20

A VERDADEIRA AUTORIDADE NÃO É DOMÍNIO, MAS SERVIÇO: DISSE O PAPA NO CONSISTÓRIO QUE CRIOU 24 CARDEAIS


Cidade do Vaticano, 20 nov (RV) - Bento XVI presidiu na manhã deste sábado, na Basílica de São Pedro lotada de fiéis, o Consistório ordinário público durante o qual criou 24 cardeais, elevando o Colégio a 203 membros, 121 dos quais eleitores.

O Papa recordou aos novos purpurados que o ser "singulares e preciosos colaboradores" do Sucessor de Pedro não é a coroação de "uma ambição pessoal", mas um ato de humildade e de serviço a Cristo e à Igreja.

Na Igreja não vale o modelo humano do domínio, mas a "lógica do inclinar-se para lavar os pés", a "lógica do serviço". Com uma homilia totalmente voltada para o sentido do novo ministério que a partir de hoje são chamados a assumir, o Santo Padre acolheu no Colégio cardinalício os 24 novos purpurados criados e publicados no terceiro Consistório de seu Pontificado, presidido solenemente na Basílica Vaticana.

O som das "trombas de prata" – instrumento de antigo uso litúrgico por ocasião de cerimônias pontifícias solenes e assim chamadas por emitir som cristalino – marcaram, junto às notas do "Tu es Petrus", a entrada do Pontífice na Basílica de São Pedro, por volta das 10h30 locais.

No semicírculo, dos lados do Altar da Cátedra, encontravam-se os neocardeais eleitores: oito italianos (Angelo Amato, Fortunato Baldelli, Velasio De Paolis, Francesco Monterisi, Mauro Piacenza, Gianfranco Ravasi, Paolo Romeo e Paolo Sardi), mais três outros europeus (o suíço Kurt Koch, o alemão Reinhard Marx e o polonês Kazimierz Nykz), dois estadunidenses (Raymond Leo Burke e Donald William Wurl), dois latinos-americanos (o Arcebispo de Aparecida, SP, Dom Raymundo Damasceno Assis – filho de Minas Gerais, e o equatoriano Raúl Eduardo Vela Chiriboga), quatro africanos (o zambiano Medardo Joseph Mazombwe, o congolês Laurent Monsengwo Pasinya, o egípcio Antonios Naguib, e o guineano Robert Sarah), e um asiático (o cingalês Albert Malcolm Ranjith Patabendige).

Entre os novos purpurados, quatro não-eleitores: os italianos Domenico Bartolucci e Elio Sgreccia, o alemão Walter Brandmuller e o espanhol José Manuel Estepa Llaurens.

Bento XVI recordou-lhes a raiz daquele vínculo de "especial comunhão e afeto" que une os novos purpurados ao Papa. A dignidade cardinalícia é o sinal tanto da "solicitude" do Cristo pastor, quanto do Deus sacrificado na Cruz, que o vermelho do barrete colocado pelo Pontífice na cabeça dos cardeais recorda de modo veemente.

Inspirando-se no Evangelho proclamado na Basílica Vaticana – onde Jesus explica aos discípulos o sentido do primado segundo Deus – Bento XVI afirmou:

"Todo ministério eclesial é sempre resposta a um chamado de Deus, jamais é fruto de um projeto pessoal ou de uma ambição própria, mas é conformar a própria vontade à do Pai que está nos Céus, como Cristo no Getsêmani. Na Igreja ninguém é dono, mas todos são chamados, todos enviados, todos são alcançados e conduzidos pela graça divina."

A disputa entre Tiago e João pelo primado e a indignação dos outros Apóstolos – observou ainda o Papa – "levantam uma questão central à qual Jesus quer responder: quem é o maior, quem é o "primeiro" para Deus?" Aquele que segue não a ideia de predomínio típica de quem governa um Estado, mas a "outra lógica" testemunhada por Cristo:

"O critério da grandeza e do primado segundo Deus não é o domínio, mas o serviço; a diaconia é a lei fundamental do discípulo e da comunidade cristã, e nos deixa entrever algo da "Senhoria de Deus" (...) É uma mensagem que vale para os Apóstolos, vale para toda a Igreja, vale, sobretudo, para aqueles que no Povo de Deus têm tarefa de guia. Não é a lógica do domínio, do poder segundo os critérios humanos, mas a lógica do inclinar-se para lavar os pés, a lógica do serviço, a lógica da Cruz que está na base de todo exercício da autoridade."

"A missão à qual Deus os chama" e que os "habilita a um serviço eclesial ainda mais repleto de responsabilidade" – concluiu a homilia – "requer uma vontade sempre maior de assumir o estilo do Filho de Deus", vindo ao nosso meio "como aquele que serve":

"Trata-se de segui-lo em sua doação de amor humilde e total à Igreja sua esposa, na Cruz: é naquele lenho que o grão de trigo, deixado cair pelo Pai no campo do mundo, morre para tornar-se fruto maduro. Por isso, é necessário um radicar-se ainda mais profundo e firme em Cristo."

Seguidas as palavras do Papa, por 24 vezes se repetiu o rito da imposição do barrete vermelho, com o neocardeal ajoelhado diante do Pontífice recebendo – junto com o chapéu cardinalício – a bula contendo o Título e a Diaconia atribuída ao novo purpurado.

Por fim, na conclusão da cerimônia, o abraço da paz entre o Papa e o novo cardeal, um abraço repetido logo em seguida com os outros coirmãos do Colégio do qual a partir de agora passam a fazer parte.

E neste domingo, Solenidade de Cristo-Rei do Universo, o Santo Padre celebrará, às 9h30 locais, na Basílica de São Pedro, a santa missa com os novos cardeais. A Rádio Vaticano transmitirá a missa ao vivo, via satélite, para todo o Brasil e demais países de língua portuguesa cujas emissoras nos retransmitem, a partir das 6h20 (do horário brasileiro de verão).

Durante a celebração o Pontífice entregará o anel cardinalício aos novos purpurados como "sinal de dignidade, solicitude pastoral e de mais robusta comunhão com a Sé de Pedro", para que se reforce "o amor à Igreja".

"Pregai o Evangelho, testemunhai Cristo, edificai a Igreja santa de Deus, abençoai todos e a todos levai a paz de Cristo", pede a oração que o Papa vai pronunciar, depois da entrega do anel cardinalício.

Os presentes irão rezar para que "o Senhor conceda à Igreja, família de Deus, a graça de manifestar a sua universalidade e catolicidade abraçando todos os povos e as culturas".

Na Segunda-feira, no Vaticano, Bento XVI proferirá um discurso aos novos cardeais, com os familiares e os peregrinos vindos para o Consistório. (RL/AF)







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