BENTO XVI: UNIDADE DOS CRISTÃOS NÃO É FEITA POR NÓS, MAS POR DEUS
Cidade do Vaticano, 18 nov (RV) - O diálogo ecumênico caminhou muito em 50
anos, mas precisa encontrar impulso, sobretudo no Ocidente, sem esquecer que a unidade
dos cristãos é construída por Deus e não por uma nobre capacidade de negociação ou
de compromisso. Foi o que afirmou Bento XVI no discurso feito na manhã desta quinta-feira
na audiência concedida na Sala Clementina, no Vaticano, à plenária do Pontifício Conselho
para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que nesta quarta-feira festejou 50 anos de
constituição do organismo vaticano.
A afirmação do Papa – "a unidade dos cristãos
não é feita por nós, mas por Deus" – foi o baricentro de um discurso que, para além
de algumas reflexões ligadas à história do referido organismo vaticano, enquadra com
muita clareza a realidade do caminho ecumênico no que diz respeito ao presente e ao
futuro próximo.
As primeiras palavras do Santo Padre foram de reconhecimento
pela decisão com a qual 50 anos atrás o Beato João XXIII criou o Secretariado para
a Promoção da Unidade dos Cristãos, depois transformado por João Paulo II, em 1988,
em Conselho Pontifício.
"Foi um ato que constituiu um marco para o caminho
ecumênico da Igreja Católica. Durante cinquenta anos se fez muito caminho (...) São
cinquenta anos em que se adquiriu um conhecimento mais verdadeiro e uma estima maior
em relação às Igrejas e Comunidades eclesiais, superando preconceitos sedimentados
pela história; cresceu-se no diálogo teológico, bem como na caridade; foram desenvolvidas
várias formas de colaboração, entre as quais – além da colaboração em defesa da vida
- pela salvaguarda da criação e pelo combate à injustiça. Tem também sido importante
e frutuosa a colaboração no campo das traduções ecumênicas da Sagrada Escritura."
O
Pontífice agradeceu a todos aqueles que estiveram à frente do organismo neste meio
século de história, bem como a todos que, de um modo ou de outro, fizeram e fazem
parte dele. Em seguida, voltou a sua atenção para o presente, em particular, para
o trabalho do chamado "Harvest Project", com o qual – ressaltou – se quer "traçar
um primeiro balanço dos diálogos teológicos" entabulados "com as principais Comunidades
eclesiais", desde o Concílio Vaticano II até hoje. O Pontífice deu uma indicação bem
precisa em relação "ao caminho rumo à unidade":
"Hoje alguns consideram que
tal caminho, particularmente no Ocidente, perdeu o seu impulso. Percebe-se, então,
a urgência de reavivar o interesse ecumênico e de dar uma nova incisividade aos diálogos.
Apresentam-se, pois, desafios inéditos: as novas interpretações antropológicas e éticas,
a formação ecumênica das novas gerações, a ulterior fragmentação do cenário ecumênico."
"É
essencial tomar consciência de tais mudanças", recomendou Bento XVI, recordando, ao
mesmo tempo, os pontos cruciais tocados com os ortodoxos e com as Antigas Igrejas
Orientais:
Com os primeiros, "o papel do Bispo de Roma na comunhão da Igreja",
ao passo em que, com as outras, a constatação de ter preservado "um precioso patrimônio
comum", apesar de "séculos de incompreensão e de distância".
O Pontífice frisou
que prosseguir nesse caminho é um compromisso que deve permanecer "firme", desde que
– observou – não se faça isso pensando ser suficiente somente "a habilidade de negociar",
nem uma "maior capacidade de encontrar compromissos":
"A ação ecumênica tem
um dúplice movimento. De um lado a busca, convicta, apaixonada e tenaz para encontrar
toda a unidade na verdade, para excogitar modelos de unidade, para iluminar oposições
e pontos obscuros em ordem ao alcance da unidade. E isso deve ser feito no necessário
diálogo teológico, mas, sobretudo, na oração e na penitência, naquele ecumenismo espiritual
que constitui o coração pulsante de todo o caminho: a unidade dos cristãos é e permanece
sendo oração, mora na oração."
Por outro lado, jamais se deve ofuscar esse
simples compromisso – concluiu o Santo Padre:
"Não somos nós que fazemos a
unidade, é Deus quem a faz: vem do alto, da unidade do Pai com o Filho no diálogo
de amor que é o Espírito Santo; é um tomar parte da unidade divina. E isso não deve
levar a diminuir o nosso empenho (...) Afinal, também no caminho ecumênico se trata
de deixar para Deus aquilo que é unicamente seu, e explorar – com serenidade, constância
e dedicação – aquilo que é nossa tarefa, considerando que pertencem ao nosso compromisso
os binômios agir e sofrer, atividade e paciência, cansaço e alegria." (RL)