2010-11-18 18:22:44

BENTO XVI: UNIDADE DOS CRISTÃOS NÃO É FEITA POR NÓS, MAS POR DEUS


Cidade do Vaticano, 18 nov (RV) - O diálogo ecumênico caminhou muito em 50 anos, mas precisa encontrar impulso, sobretudo no Ocidente, sem esquecer que a unidade dos cristãos é construída por Deus e não por uma nobre capacidade de negociação ou de compromisso. Foi o que afirmou Bento XVI no discurso feito na manhã desta quinta-feira na audiência concedida na Sala Clementina, no Vaticano, à plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que nesta quarta-feira festejou 50 anos de constituição do organismo vaticano.

A afirmação do Papa – "a unidade dos cristãos não é feita por nós, mas por Deus" – foi o baricentro de um discurso que, para além de algumas reflexões ligadas à história do referido organismo vaticano, enquadra com muita clareza a realidade do caminho ecumênico no que diz respeito ao presente e ao futuro próximo.

As primeiras palavras do Santo Padre foram de reconhecimento pela decisão com a qual 50 anos atrás o Beato João XXIII criou o Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos, depois transformado por João Paulo II, em 1988, em Conselho Pontifício.

"Foi um ato que constituiu um marco para o caminho ecumênico da Igreja Católica. Durante cinquenta anos se fez muito caminho (...) São cinquenta anos em que se adquiriu um conhecimento mais verdadeiro e uma estima maior em relação às Igrejas e Comunidades eclesiais, superando preconceitos sedimentados pela história; cresceu-se no diálogo teológico, bem como na caridade; foram desenvolvidas várias formas de colaboração, entre as quais – além da colaboração em defesa da vida - pela salvaguarda da criação e pelo combate à injustiça. Tem também sido importante e frutuosa a colaboração no campo das traduções ecumênicas da Sagrada Escritura."

O Pontífice agradeceu a todos aqueles que estiveram à frente do organismo neste meio século de história, bem como a todos que, de um modo ou de outro, fizeram e fazem parte dele. Em seguida, voltou a sua atenção para o presente, em particular, para o trabalho do chamado "Harvest Project", com o qual – ressaltou – se quer "traçar um primeiro balanço dos diálogos teológicos" entabulados "com as principais Comunidades eclesiais", desde o Concílio Vaticano II até hoje. O Pontífice deu uma indicação bem precisa em relação "ao caminho rumo à unidade":

"Hoje alguns consideram que tal caminho, particularmente no Ocidente, perdeu o seu impulso. Percebe-se, então, a urgência de reavivar o interesse ecumênico e de dar uma nova incisividade aos diálogos. Apresentam-se, pois, desafios inéditos: as novas interpretações antropológicas e éticas, a formação ecumênica das novas gerações, a ulterior fragmentação do cenário ecumênico."

"É essencial tomar consciência de tais mudanças", recomendou Bento XVI, recordando, ao mesmo tempo, os pontos cruciais tocados com os ortodoxos e com as Antigas Igrejas Orientais:

Com os primeiros, "o papel do Bispo de Roma na comunhão da Igreja", ao passo em que, com as outras, a constatação de ter preservado "um precioso patrimônio comum", apesar de "séculos de incompreensão e de distância".

O Pontífice frisou que prosseguir nesse caminho é um compromisso que deve permanecer "firme", desde que – observou – não se faça isso pensando ser suficiente somente "a habilidade de negociar", nem uma "maior capacidade de encontrar compromissos":

"A ação ecumênica tem um dúplice movimento. De um lado a busca, convicta, apaixonada e tenaz para encontrar toda a unidade na verdade, para excogitar modelos de unidade, para iluminar oposições e pontos obscuros em ordem ao alcance da unidade. E isso deve ser feito no necessário diálogo teológico, mas, sobretudo, na oração e na penitência, naquele ecumenismo espiritual que constitui o coração pulsante de todo o caminho: a unidade dos cristãos é e permanece sendo oração, mora na oração."

Por outro lado, jamais se deve ofuscar esse simples compromisso – concluiu o Santo Padre:

"Não somos nós que fazemos a unidade, é Deus quem a faz: vem do alto, da unidade do Pai com o Filho no diálogo de amor que é o Espírito Santo; é um tomar parte da unidade divina. E isso não deve levar a diminuir o nosso empenho (...) Afinal, também no caminho ecumênico se trata de deixar para Deus aquilo que é unicamente seu, e explorar – com serenidade, constância e dedicação – aquilo que é nossa tarefa, considerando que pertencem ao nosso compromisso os binômios agir e sofrer, atividade e paciência, cansaço e alegria." (RL)







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