A FUGA DOS CRISTÃOS É UMA PERDA PARA O ORIENTE MÉDIO
Roma, 16 nov (RV) - “A fuga dos cristãos representa uma grave perda para os
muçulmanos e para o Oriente Médio”. É o que declara em uma entrevista à agência Si,
o estudioso do Islã, o jesuíta, Padre Samir Khalil Samir, comentando os recentes fatos
de violência contra cristãos no Iraque e que os está forçando a emigrar para fora
do país. Para o jesuíta, “a fuga dos cristãos privaria o Oriente Médio de uma contribuição
importante em dois níveis: no nível de competência e de capacidade. Os cristãos, na
verdade, são pessoas que têm um nível cultural relativamente elevado, e representam
diferentes princípios, insistem sobre os direitos humanos, sobre a igualdade entre
todos entendendo como todos, crentes e não crentes. Eles têm as sementes da laicidade
no sentido da liberdade de consciência, que está no Evangelho”, destacou o sacerdote.
Na
verdade, acrescenta Padre Samir, seria “uma dupla perda: em primeiro lugar para o
cristianismo – sem o cristianismo oriental, a Igreja perderia uma tradição vital à
sua vida, mas especialmente para o mundo muçulmano”. Os cristãos, de fato, “representam
um elemento de diversidade e o mundo islâmico tem necessidade, especialmente agora
que tende a se fechar sobre si mesmo e de se opor a tudo o que é diferente, o Ocidente,
em primeiro lugar.
Cabe às instituições defender a comunidade cristã – reafirma
Padre Samir, referindo-se à violência no Iraque - como solicitado diversas vezes pelos
seus mesmos líderes. Atacar o Ocidente através dos cristãos, acusados de estarem ligados
a ele por causa da fé, é uma atitude covarde, enquanto os cristãos iraquianos não
têm nenhuma relação especial com o Ocidente, e ainda menos com a política ocidental.
Na verdade, eles são mais orientais (e também árabes) do que os muçulmanos, enquanto
vivem nestas terras antes dos muçulmanos. “Os cristãos orientais não estão vinculados
ao Ocidente, nem política, nem militarmente”.
Explica o jesuíta: “os muçulmanos
fazem um duplo erro de princípio: consideram o mundo árabe, muçulmano, e o ocidental,
cristão. O Ocidente, é verdade, nasce de uma tradição cristã, mas hoje não podemos
afirmar que o Ocidente, há tempo secularizado, utilize o Evangelho para promulgar
leis. Os cristãos do Oriente, por causa de sua fé, podem compreender melhor o Ocidente
que tem uma raiz cristã. O cristão serve como um mediador entre o mundo islâmico (ao
qual pertence pela língua, história e cultura) e o mundo ocidental (do qual é membro
por causa do Evangelho e da fé cristã). Agredir quem se faz de mediador - concluiu
- é um verdadeiro suicídio, e é isso que eles estão fazendo”. (SP)