2010-11-12 17:15:10

PADRE LOMBARDI CELEBRA 50 ANOS DE VIDA RELIGIOSA: ENTREVISTA COM O DIRETOR-GERAL DA RÁDIO VATICANO


Cidade do Vaticano, 14 nov (RV) - Padre Federico Lombardi celebra nesta sexta-feira, dia 12 de novembro, os seus 50 anos de vida religiosa, ou seja desde quando entrou na Companhia de Jesus. Padre Lombardi é Diretor-geral da Rádio Vaticano, do Centro Televisio Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé. Silvonei José conversou com ele sobre assuntos diversos. Eis o conteúdo da entrevista:

1) Padre Lombardi, onde o senhor começou a sua vida religiosa e por que a Companhia de Jesus?

R. Quando eu era jovem vivia no Piemonte e a maior parte do meu tempo passava na cidade de Turim. Na cidade de Turim frequentava a escola, uma escola dos jesuítas, e fazia as minhas atividades como jovem escoteiro no oratório dos salesianos. Tive uma juventude muito bonita que recordo com muita alegria, seja porque a minha família era uma família muito unida, também muito religiosa, seja porque vivi em ambientes educativos que recordo com muita gratidão, seja na escola dos jesuítas, como também no oratório dos salesianos com as atividades com os jovens. Depois quando completei 18 anos e terminei o segundo grau, naturalmente surgiu a questão de como continuar a minha vida, e diria que a escolha de dedicar a própria vida ao serviço do Senhor e dos outros foi muito espontânea naquele momento. No que diz respeito a onde e como realizá-la foi para mim normal pedir à Companhia de Jesus para entrar a fazer parte da mesma, apesar de ter sempre conservado uma grandíssima amizade e proximidade com os salesianos.

2) O Senhor retorna com frequência a casa?

R. Retornava regularmente ao menos uma ou duas vezes ao ano, quando era viva a minha mãe. Agora retorno uma vez ao ano para não perder o contato com as minhas irmãs. Porém tenho que dizer que vivi muito intensamente a minha juventude e também a primeira parte da minha formação religiosa no Piemonte, mas desde 1973, quando fui enviado para Roma, minha vida se desenvolveu em Roma. Portanto perdi gradualmente a intensidade das relações com a minha região de origem.

3) Todas as suas escolhas Padre Lombardi o trouxeram a Roma. Quem é hoje Padre Federico Lombardi?

R. Sou um jesuíta, um sacerdote. Procurei fazer as coisas que me foram solicitadas porque temos um voto de obediência; recebemos, portanto, missões, dizemos assim. São encargos, tarefas de nossos superiores, e no fim da minha formação religiosa e sacerdotal essas tarefas me trouxeram a Roma para trabalhar na Civiltà Cattolica, que é uma revista de cultura dos jesuítas, portanto no campo da comunicação social. Desde então permaneci neste campo, sempre fazendo coisas que me foram solicitadas. Depois de 11 anos na Civiltà Cattolica, fui durante 6 anos superior provincial dos jesuítas italianos, e depois da conclusão do mandato fui enviado ao Vaticano como Diretor dos Programas da Rádio Vaticano, e depois com outras tarefas. Posso dizer com grande tranquilidade que jamais fiz aquilo que eu queria fazer mas sempre fiz o que me foi indicado fazer pelos meus superiores.

4) Padre Federico Lombardi se não fosse um sacerdote o que teria feito na vida?

R. Parece-me algo muito hipotético, porém, por assim dizer, entre os interesses espontâneos da minha juventude havia certamente o das ciências naturais, em particular a física. Depois no que se referia às outras atividades no tempo livre, o alpinismo.

5) Algum momento marcante da sua vida que o senhor recorda com frequência?

R. Dificil encontrar um mais marcante do que outro, mas confesso que nestes dias, quando se celebrava a dedicação da Igreja da Sagrada Família, precisamente no último domingo, com o Papa em Barcelona, voltou-me à mente um momento muito específico. Quando eu tinha 13 anos, junto com os escoteiros do oratório dos salesianos, fiz a minha primeira grande viagem em bicicleta pela Europa, indo de Turim até Barcelona. Nós viajávamos num modo muito pobre, levávamos a barraca na bicicleta, comíamos queijo e tomate, portanto fazíamos em um modo extremamente econômico. Quando chegamos a Barcelona não sabíamos onde ir. Num certo momento vimos quatro agulhas muito altas e dissemos, vamos até lá. Era a fachada da Sagrada Família que ainda estava em construção. Portanto o primeiro ponto de chegada da minha longa viagem em bicicleta - depois fiz outras 4 ou 5 viagens pela Europa junto com os meus companheiros quando tinha 13 anos – era exatamente a fachada da Sagrada Família onde o Papa recitou o Angelus domingo passado. Assim eu pude confrontar passados 50 anos como cresceu esse edifício. Pensei também na minha vida, como se desenvolveu no serviço da Igreja desde então.

6) O seu contato com os escoteiros continua até hoje?

R. Fui assistente nacional dos escoteiros italianos adultos até pouco tempo atrás. Infelizmente com todas as atividades de hoje, com os trabalhos no Vaticano eu não pude continuar, mas conservo uma grande amizade e uma grande gratidão pela belíssima experiência que pude fazer.

7) O senhor trabalhou diretamente com dois Papas. O que mudou na Igreja nestes anos em que o Senhor esteve aqui dentro do Vaticano?

R. Não toca tanto a mim dizê-lo, mas é do conhecimento de todos, que a história da Igreja através dos tempos através do caminho que faz no mundo, que acompanha também as mudanças que se verificam no mundo de hoje; as preocupações que os Papas têm são pela humanidade e pelo anúncio da fé mesta humanidade. Há os grandes problemas da justiça no mundo, do desenvolvimento das populações pobres, o problema da paz, o probelma, precisamente, do anúncio da fé e da dimensão transcendente da relação entre o homem e Deus, e do conhecimento também de Jesus Cristo e do Evangelho como alimento da vida espiritual da humanidade de hoje. Esses são os temas sobre os quais os Papas trabalham continuamente, e eu vejo essa continuidade fundamental, isto é, a Igreja tem uma missão que é muito clara, mudam as circunstâncias mas a missão permanece a mesma: anunciar Deus, anunciar Jesus Cristo, que é a face de Deus, promover a união entre os cristãos, servir ao diálogo entre as grandes religiões no mundo de hoje, servir com caridade ativa todas as necessidades do homem e do mundo de hoje; são as prioridades deste Pontificado que Bento XVI indicou muito claramente várias vezes, mas creio que se olharmos para trás creio que as prioridades do Pontificado de João Paulo II eram as mesmas, mesmo se, talvez, o mundo de então tinha situações diferentes, com a divisão entre Leste e Oeste, que agora mudou, enquanto existem hoje outros problemas do mundo global. Mas a orientação comum é a de serviço à Igreja de Jesus Cristo, para o bem e a salvação de todos os homens. A isso se dedicam os Papas, se dedica a Igreja e eu, com a minha humilde contribuição, procuro dedicar-me a ajudar, acompanhando, no que diz respeito a mim, os ministérios dos Papas.

8) O senhor tem contato a 360 graus com os organismos do Vaticano e com as Igrejas particulares presentes em todo o mundo. Segundo o senhor qual é hoje o grande desafio da nossa Igreja?

R. Parece-me dificil dizer algo diferente daquilo que eu disse antes falando das prioridades do Pontificado. Essas são efetivamente os desafios da situação de hoje, da história de hoje, da Igreja, aos quais, com a condução do Papa procuramos responder. Naturalmente numa visão de fé, numa visão cristã, o ponto mais radical, mais profundo, no qual nos movemos para buscar todos os tipos de resposta, e depois o homem diante de Deus, a identidade mais profunda da pessoa humana que encontra portanto o sentido da sua vida no mundo e a orientação para o seu caminho e para o seu compromisso. Se se perde isso, depois se podem fazer muitas coisas, mas é difícil encontrar uma orientação a qual seguir. E por isso creio que o grande desafio para a Igreja seja sempre falar de Deus, de Jesus Cristo, no mundo de hoje, como o dom maior que se pode fazer à humanidade que está ao nosso redor, às pessoas concretas que encontramos todos os dias.

9) Um pensamento para a América Latina. O senhor acompanhou o Santo Padre na sua visita ao Brasil. Qual é o olhar que o senhor tem sobre a América Latina, precisamente porque metade dos católicos do mundo vivem ali?

R. Efetivamente, esse é o olhar que todos temos em direção à América Latina, o continente onde se encontra o maior número de católicos, isto é um continente absolutamente fundamental na realidade da Igreja de hoje e pensamos também naquele de amanhã. Portanto o olhar é um olhar de esperança, de amor, um olhar de expectativa em relação ao anúncio da fé que com o passar dos séculos fez tanto, pela vida desse continente, possa continuar a encontrar sua função de inspiração pela justiça, pela paz, pelo desenvolvimento da pessoa e também precisamente pela sã direção do crescimento espiritual das pessoas. Infelizmente na América Latina, às vezes, existe muita confusão por causa também do crescimento das seitas, de problemas de orientação espiritual das pessoas: creio que seria necessário reencontrar verdadeiramente a força da mensagem anunciada pela Igreja, que possa dar alegria e orientação para o crescimento daquele que é chamado, justamente, “continente da esperança”.

10) Padre Lombardi, o senhor é o diretor geral da Rádio Vaticano, do Centro Televisivo Vaticano e da Sala de Imprensa: quantas horas tem o seu dia?

R. O meu tem 24 horas, como o de todos! Naturalmente a maior parte destas 24 horas é dedicada a esses serviços que você recordou. Para mim se trata de por em ordem entre as muitas coisas que todos os dias devo fazer, por isso também o meu dia – digamos assim – é uma espécie de peregrinação através dos diversos escritórios dessas instituições, para poder dar as indicações ou para poder tomar decisões que muitas vezes são urgentes. Naturalmente isso requer, antes de tudo, muita confiança nos próprios colaboradores, conseguindo assim viver em um clima de colaboração. Dessa maneira se pode fazer tantas coisas, isso se estamos de acordo em fazê-las, se existe uma orientação e um sentir comum. Para mim é absolutamente fundamental que esses serviços não sejam vistos somente como uma realização eficiente, mas como o resultado de uma comunidade de trabalho, de pessoas que sentem desempenhar um serviço pela Igreja de hoje no campo da comunicação. Neste sentido, todos os três e as tarefas que realizo encontram facilmente sua unidade, porque essa é a única missão. De modos diferentes e com instrumentos diversos, podemos desempenhar um mesmo serviço, que é o de servir o serviço do Papa à humanidade. Este é o modo com o qual eu gosto de definir esse tipo de trabalho. O nosso é um serviço; o do Papa é um serviço para a humanidade; o Papa se define o “servo dos servos de Deus”: pois bem, eu e todas as pessoas que colaboram comigo somos os “servos do servo dos servos de Deus”. Procuramos trabalhar com os instrumentos da comunicação para fazer entender, para amar, para fazer apreciar este serviço que o Papa faz para o bem dos fiéis, mas também de toda a humanidade de hoje.

11) O futuro da comunicação no Vaticano, como instrumento também para chegar lá onde muitas vezes o Santo Padre não pode chegar...

R. As comunicações sociais vivem das grandes mudanças dos últimos anos; mudanças que são, em grande parte, ligadas também ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação que dão novas possibilidades. Portanto, nós devemos continuamente seguir e aprender o desenvolvimento e as possibilidades que esse desenvolvimento pode dar. Somos um pouco aprendizes, como também são todos os homens de hoje no campo das comunicações sociais, que parecerm correr mais veloz do que aquilo que conseguimos entender e viver. Certamente temos muito o que aprender e por isso é necessário estar animados por um grande entusiasmo, isto é, ter uma forte motivação do dizer: nós devermos ter, e temos, uma mensagem, um conteúdo que é muito bonito e grande a ser dado. Por isso corremos para usar os novos instrumentos, para que possam nos ajudar a dizer algo de bonito e de muito grande. O problema do mundo de hoje é que existem potencialidades infinitas no campo das comunicações, mas muitas vezes ou não se sabe o que comunicar ou se comunicam coisas superficiais ou até mesmo negativas. Devemos colocar neste desenvolvimento um componente positivo, componente bonito, um componente grande que é a mensagem do Evangelho, o serviço do Santo Padre em prol dos homens de hoje. Isso é aquilo que nós devemos fazer. O desenvolvimento das comunicações do Vaticano deve ser só isso: procurar entender bem a grandeza, a importância das coisas que temos a dizer como serviço para o mundo de hoje e usar todos os instrumentos, que com inteligência buscamos descobrir também.

12) Uma última pergunta, um pouco mais pessoal: o seu relacionamento com o Santo Padre como é?

R. Espero que seja um bom relacionamento... Não é que todos os dias eu tenha uma colóquio privado com o Santo Padre. O meu é um serviço que se refere ao que diz o Santo Padre, mas também ao que se refere à vida da Santa Sé em geral, da Cúria Romana. Devo-me, portanto, estar em contato com os diversos organismos do Vaticano e por isso as indicações fundamentais me são dadas pelos responsáveis da Secretaria de Estado, que coordena um pouco também a realidade mais complexa dos diversos organismos da Santa Sé. Com o Papa também tenho momentos mais diretos e pessoais: após audiências muito importantes, sobre as quais é necessário fazer um comunicado; após as grandes viagens para refletir sobre como foi a comunicação das mensagens que o Papa queria dar; e, depois, em tantas outras pequenas ocasiões que podem ser motivo de encontro... nas quais porém, eu procuro fazer com que o Papa não perca muito tempo. Às vezes com ele basta um olhar, uma palavra. É uma pessoa imensamente atenta, que escuta com grandíssima atenção, gentileza e profundidade o que o outro diz: se alguém diz uma frase, o Santo Padre a entende imeditamente. Creio que também nós devemos ter para com ele a mesma atenção, porque as frases que ele nos diz são muito mais importantes do que as nossas. (SP)







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