Bispos portugueses endurecem críticas e alertam para agravamento da crise
(11/11/2010) A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou esta Quinta-feira,
em Fátima, a sua preocupação perante o agravar da crise no país, criticando “a atribuição
de remunerações, pensões e recompensas exorbitantes, ao lado de pessoas a viver sem
condições mínimas de dignidade”. A posição é assumida no comunicado final da 176ª
Assembleia Plenária da CEP, que decorreu de 8 a 11 de Novembro de 2010, na Casa de
Nossa Senhora das Dores do Santuário de Fátima. “As medidas de austeridade, para
merecerem acolhimento benévolo dos cidadãos, têm de ser acompanhadas de forte intervenção
na correcção de desequilíbrios inaceitáveis e de provocantes atentados à justiça social”,
pode ler-se no documento. Para os Bispos católicos de Portugal, “lucros indevidos,
meros proveitos eleitorais e resultados oportunistas não servem a recuperação nacional”. “É
hora para repensar as atitudes éticas e cívicas com lucidez vigorosa, com coragem
para congregar as energias necessárias no esforço de reformas profundas no estilo
de vida, e alicerçada com esperança no humanismo aberto à transcendência”, prossegue
o documento. O presidente da CEP, D. Jorge Ortiga, assegurou que não se tratou
de um "puxão de orelhas", considerando ser "dever" da Igreja "denunciar certas situações”
em nome da "dignidade de cada pessoa". “É uma denúncia, um alerta”, para “políticos
e não só”, precisou ao prelado. O arcebispo de Braga pede que "se veja até que
ponto pessoas em determinados cargos, serviços", não poderão, "porventura, ganhar
menos", para poder "proporcionar vida a outras pessoas que vivem sem condições mínimias
de dignidades”. Para a CEP, “todos devem sentir-se responsáveis pelas causas motivadoras
da actual situação, uma vez embarcados no consumismo do supérfluo e seduzidos pelos
bens materiais como centro de uma vida feliz”. Alertando para a “grave situação
que o nosso País atravessa, inevitavelmente prolongada”, os Bispos convidam todos
a “enfrentá-la com espírito patriótico de coesão responsável entre forças políticas,
agentes económicos, organismos sociais, movimentos culturais, comunicação social e
cada cidadão como participante activo”. A Igreja Católica, por seu lado, “compromete-se
a um trabalho de coordenação e articulação dos diversos organismos eclesiais, presentes
em cada diocese”, para responder às situações dos mais desfavorecidos. “As organizações
da Igreja ajudarão a complementar a resposta assistencial (alimentação, saúde, vestuário,
habitação) com ofertas de promoção humana e de intervenção social”, assegura a nota
final da CEP. A CEP deu também parecer favorável ao estudo de uma proposta para
a constituição de um Serviço Nacional de Apoio aos Centros Sociais da Igreja.