Campanha, 11 nov (RV) - “Meus pensamentos são de paz e não de aflição, diz
o Senhor. Vós me invocareis, e hei de escutar-vos, e vos trarei de vosso cativeiro,
de onde estiverdes”(cf. Jr 20, 11ss).
Meus queridos irmãos,
Estamos
chegando ao fim do ano litúrgico em que o Evangelho que nós refletimos foi o de São
Lucas. Hoje nós relembramos que a vinda do Senhor deve ser motivo de esperança, alegria,
plenitude e completa libertação de todas as amarras que oprimem o povo de Deus. O
existir do cristão batizado consiste na contínua e persistente espera e no clamor
para que Cristo venha em nosso auxílio.Assim todos nós devemos clamar: “Vem Senhor
Jesus!”, por isso todos nós somos convidados para a vigilância.(cf. o Evangelho de
hoje Lucas 21,5-19).
São Lucas colocou a Igreja dentro do contexto de perseguição
da época de Jesus, de maneira que esta perseguição reflorescesse na Igreja um compromisso
de firmeza da profissão de fé. As perseguições várias são o prelúdio do Juízo de Deus
sobre a história, quando ele fizer justiça aos justos e destruir os ímpios, conforme
nos ensina a Primeira Leitura.
Irmãos caríssimos,
A Primeira Leitura(cf.
Ml 3,19-20a) - ensina que aproxima-se o dia do juízo e da salvação. Malaquias vivia
nos anos difíceis depois do Exílio. O templo tinha sido reconstruído, mas onde ficava
a paz definitiva, a nova era? Malaquias vê seu tempo como o cenário da intervenção
final de Deus. Deus está de novo no templo, mas o que foi feito do povo? O profeta
tem que denunciar. Porém, consola também os justos e piedosos, que ficam confundidos
ao enxergar a prosperidade dos ímpios. O dia da justiça se aproxima, o dia do juízo
e da salvação, o “dia de Javé”, pintado pelo profeta em cores apocalípticas: fogo
que destrói o orgulho e “sol da justiça” que se levanta para os justos.
Caros
fiéis,
A Segunda Leitura(cf. 2Ts 3,7-12) nos ensina a entender a preparação
para a vinda do Senhor. Como nós nos preparamos para a vinda do Senhor? Nós preparamos
a vinda do Senhor com muito trabalho. Aos fanáticos de Tessalônica, vivendo de fantasias
a respeito da parusia - talvez pretexto para a preguiça - Paulo é enfático ao dizer:
“Quem não trabalha, não coma”. Paulo mesmo deu o exemplo do trabalho manual.
Meus
irmãos queridos,
Jesus veio uma vez ao mundo em carne humana, não se prevalecendo
da condição divina(cf. Fl 2,6), fazendo-se em tudo igual as criaturas humanas, exceto
no pecado(cf. Hb 4,15). Na segunda vinda de Cristo, o Senhor virá glorioso, Senhor
do céu e da terra, juiz de todas as criaturas. Nós vivemos, assim, entre a primeira
vinda e a vinda que aguardamos. Vivemos na doce certeza da primeira e na expectativa
da segunda. É um itinerário ou uma caminhada de fé e esperança. A caminhada que todos
nós somos convidados a percorrer pessoalmente, tendo sempre presente que Cristo nos
acompanha, nos anima e nos fortalece porque: “Estarei convosco até o fim dos tempos”(cf.
Mt 28,20).
Assim hoje Jesus nos fala do momento em que passamos dessa vida
para a outra, o fim do tempo presente e o início da eternidade. A nossa morte repete,
de certo modo, o natal de Jesus: ele passou da eternidade para o tempo, nós passamos
do tempo para a eternidade. Penar no “mundo vindouro” é imensamente positivo. É nele
que se coloca a esperança cristã porque “A morte é o coroamento da felicidade da alma
e o começo da felicidade do corpo”, nas palavras de Blaise Pascal.
Irmãos caríssimos,
A
morte é o doce encontro com o Redentor, por isso não deve apavorar o homem. É o ponto
inicial de uma vida nova diante da Trindade Santíssima. Mas para sermos associados
ao Reino de Deus devemos estar em contínua vigilância. Morte que se apresenta nas
guerras, nas revoluções, nas pestes, nos terremotos, nas carestias, nos tufões, nas
tempestades, nas perseguições, nas prisões, nas traições, nos ódios, nas injustiças,
na miséria e na exclusão social. Várias facetas da irmã morte que deve nos interpelar
e nos encaminhar para a conversão diária e necessária.
O fim dos tempos deve
estar sempre presente em nossa vida espiritual, principalmente para a conversão e
a mudança de vida. E é isso que a Igreja nos propõe no fim do ano litúrgico e no início
do novo tempo da Igreja que é sempre inaugurado com os exercícios espirituais do Advento.
Tudo isso para demonstrar que Cristo é o Alfa e o Omega, ou seja, o Princípio e o
Fim, conforme nos relembra a Igreja pelo Círio Pascal que inscreve estas letras para
simbolizar o Cristo Ressuscitado. Assim a morte deve ser lembrada como a Luz do Cristo
que nos tirou da escravidão do pecado e nos elevou a condição de filhos e filhas de
Deus. A morte é como um ponto num círculo: nunca se sabe se é o ponto inicial ou o
ponto final; ou melhor, é, ao mesmo tempo, final e inicial, porque dependendo de nossa
adesão a Cristo iremos para a vida eterna e a não adesão para a condenação sem fim.
O
templo de Deus é o Cristo Ressuscitado. Jesus mesmo afirmou ser o nosso templo de
Deus. O mais importante, então, é reconhecer em Jesus alguém que pode dar a Deus a
adoração plena, e à criatura humana, a salvação para poder louvar a Deus.
Meus
irmãos,
Agora é o tempo da Igreja de Cristo. Depois da ressurreição de Cristo,
a reunião da humanidade inteira numa comunhão de amor com Deus se faz gradualmente,
e o mundo entra numa fase decisiva de seu crescimento, em vista da recapitulação universal
em Jesus Cristo. No centro desse dinamismo, a Igreja tem uma parte essencial, enquanto
é o Corpo de Cristo. E, como tal, deve seguir o caminho do Mestre: da morte para a
vida. E deve continuamente superar, também, a tentação de identificar-se com o reino
definitivo e de se fechar no particularismo.
Os muros da separação, que os
povos e as áreas culturais não deixam de elevar entre si, são fundamentalmente o obstáculo
mais grave à comunhão universal. A missão da Igreja Católica é superar este obstáculo.
O meio é o amor aos inimigos, que destrói as barreiras postas pelo homem.
Hoje,
mais do que nunca damo-nos conta da extraordinária amplitude da tarefa da Igreja.
Além disso, pode-se medir a relação que liga, em sua distinção, a missão e a obra
das civilizações. Um dos problemas fundamentais de nosso tempo é o encontro de culturas
e a mudança de época. É problema grave político, social, econômico, mas não somente
isso. Sem o amor gratuito e universal, não se poderá chegar à solução.
A
esperança sempre deve ser a marca do cristão, mesmo que devamos caminhar contra todas
as esperanças dos homens, que são transitórias. Jesus é a vida verdadeira, que se
dá a nós, criaturas. Mas só a conseguirão os que perseverarem firmes na fé. A fé será
provada de muitos modos, dentro e fora de casa, e de forma até mesmo violentas e inesperadas,
que Jesus simboliza na figura do pai e da mãe. Que ninguém desanime! Pode até acabar
a terra. Mas não acabará a Palavra de Deus, feita vida terrena para transmitir a vida
eterna.
E, afinal, quando será o fim, conforme muitos perguntaram a Jesus?
Jesus não é um advinho, mas um Mestre e Senhor. Ele não fala nem o dia e nem a hora.
Entretanto, nos dá pistas e critérios de orientação dentro da história e as decisões
que se devem tomar para não perder de vista a meta final. Em vez de dizer o dia e
a hora Jesus, na sua segunda vinda, nos trará a libertação total e plena. Assim vamos
vivendo a esperança cristã e vamos depositar a nossa confiança unicamente em Jesus.
Toda
a Igreja é missionária e é discípula de Jesus Cristo. Em virtude da mesma caridade
com que Deus enviou seu Filho para a salvação de todos os homens e mulheres. E única
é a sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se
tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo.
O provisório
em seu valor. Relativo, decerto, mas real. É a encarnação da nossa aspiração à justiça
de Deus, que tem a última palavra. Trabalhemos para que fiquem as obras de caridade,
porque o corpo, como o templo, será destruído, mas o templo de Deus permanecerá de
pé, adornado de belas pedras das virtudes cristãs, esculpidas na perseverança no bem,
na caridade e na justiça.
Padre Wagner Augusto Portugal. Vigário Judicial
da Diocese da Campanha (MG)