Fórum Lisboa 2010 debateu fundamentalismos e liberdade de consciência. Jorge Sampaio
criticou a utilização política da fé religiosa, por vezes profundamente excessiva
(6/11/2010) Numa época marcada por diversas intolerâncias, visíveis em fenómenos
como o fundamentalismo e a xenofobia, o extremismo político e a falta de liberdade
religiosa ou de expressão, é urgente que todos sectores da sociedade unam esforços
para resolver diferenças. Uma ideia defendida por Jorge Sampaio durante o Fórum
Lisboa 2010, um evento que terminou esta sexta feira, dia 5, no Centro Ismaili, em
Lisboa, e que foi dedicado ao tema “Liberdades de expressão, de consciência e de religião”. O
actual Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, em declarações
à ECCLESIA, apontou como exemplo “o surgimento interessante das várias manifestações
religiosas no espaço público, o que coloca problemas interessantes para aquelas sociedades
mais secularistas”. Aqui, o antigo presidente da República identifica como problema
uma certa “utilização política da fé religiosa, por vezes profundamente excessiva,
dando origem a fundamentalismos”. “O ambiente está carregado” alerta Jorge Sampaio,
para quem é essencial a mobilização de todos os sectores, prevenindo uma conjuntura
com a qual “nos vamos debater nas próximas décadas”. Desde o poder político e governamental,
passando pela sociedade civil, a Educação os Media, todos “são mobilizáveis para,
desde a situação no terreno até ao mais alto nível, podermos ter uma atitude sempre
de diálogo, de procura da dificuldade e de tentar ultrapassá-la” sublinha. No entender
daquele responsável, “as religiões são chamadas para a procura do diálogo inter-religioso,
na sua relação com o espaço público e político”. Para tal, será necessário que
encontrem, em conjunto com o poder governamental, “um conjunto de princípios e de
regras que permitam orientar o que fazer e onde as pessoas se revejam”. Lançando
ainda um olhar para o tempo de crise que Portugal e o resto da Europa atravessam,
Jorge Sampaio defende que, apesar de “não ser um período bom para um enquadramento
calmo e sossegado do diálogo democrático ou religioso, é nestas alturas de dificuldade
que temos de combater exactamente por isso, com mais assiduidade e frequência”. O
Fórum de Lisboa 2010 foi organizado pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e
pela Aliança das Civilizações, tendo ainda o apoio da rede Aga Khan para o desenvolvimento
e da Comissão de Veneza do Conselho da Europa.