Juiz de Fora, 31 out (RV) - A história de Zaqueu está muito bem situada. Jesus
está a caminho de Jerusalém. O Jesus de Lucas é o Jesus do caminho. Quase a metade
de seu Evangelho tem essa característica.
Ao longo de sua jornada, Jesus vai
provocando todas as pessoas. Algumas o aceitam, outras o rejeitam. É a vida abrindo
caminho, em meio à rejeição e à morte. A ninguém Ele obriga. Deixa livre. O episódio
de Zaqueu, portanto, coroa esse processo de caminhada. Antes de entrar em Jerusalém,
ponto alto da viagem de Jesus, temos o encontro d’Ele com um caso impossível e “sem
salvação”: Zaqueu, o pecador irremediavelmente perdido. O interesse faz Zaqueu
se misturar ao povo e correr à frente, como se adivinhasse por onde Jesus iria passar;
e faz Jesus passar exatamente por aí, erguer os olhos para aquele que está trepado
na árvore e chamá-lo. Talvez Zaqueu se contentasse em ver Jesus. Este se deixa ver,
o vê e não se contenta. Quer mais e mais profundo.
É misterioso esse olhar
de Jesus que vê além do que os mortais veem. E podemos perguntar: o que Jesus viu
nesse baixinho corrupto e explorador, objeto do ódio de todo o povo? Zaqueu era de
alguma forma, o ponto de arranque da corrupção, da impunidade e da exploração. O
pior de tudo é que Jesus decide se hospedar na casa de Zaqueu. Não vai para tomar
um cafezinho e sair por alguns minutos do sufoco da multidão. Quer se hospedar. E
isso significa comer e dormir sob o mesmo teto desse “bandido de colarinho branco”.
O povo tem de voltar para suas casas. Jesus quer amizade com esse homem. E tem pressa:
“desce depressa”. E Zaqueu “desceu apressadamente”.
O que Jesus viu de extraordinário
nesse homem? Provavelmente, nada. Simplesmente viu um homem corrupto misturando-se
com o povo que odiava como o pior pecador. Parece que Jesus leu esse gesto em profundidade,
como ponto de partida para a mudança. E por isso decidiu hospedar-se na casa de Zaqueu.
A
mudança foi radical e a salvação aconteceu. Com Jesus, entra a salvação na casa de
Zaqueu, pois esse homem não é mais um perdido por causa da riqueza, mas um filho de
Abraão, pois uma das características salientes de Abraão, pai do povo de Deus, era
a partilha sem olhar para si e a preocupação pela vida dos outros.
O amor de
Deus está além da nossa pequenez. Basta um pequeno gesto nosso em direção a Ele e,
então, Ele nos dá a paz, a segurança, o perdão. Aprendamos com a liturgia do próximo
domingo a viver sempre a acolhida do pecador, daquele que vive no pecado para que
reabilitado possa encontrar a graça de Deus que é amor, que é acolhida do diferente,
que é misericórdia.