2010-10-29 10:47:19

“É tempo de reassumirmos o nosso destino” – Em vésperas da segunda volta das eleições presidenciais, o arcebispo de Conacri exorta a Nação a uma postura construtiva…


Quatro meses após a primeira volta das eleições presidenciais, a 27 de Junho de 2010 foi, finalmente, fixada para 7 de Novembro, a segunda volta das eleições presidenciais na Guiné-Conacri. Inicialmente previstas para 19 de Setembro, essas eleições foram várias vezes adiadas devido à violência que se veio a instaurar entre os partidários dos dois candidatos: Alpha Condé, da Coligação do Povo Guineense (RPG), e Cellou Diallo, ex-primeiro-ministro e candidato da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG).
Perante isto, a Igreja católica no país dirigiu, a 13 deste mês, uma intensa e longa carta pastoral à Nação. Nela sublinha-se que a democracia não advém apenas da criação de novas estruturas, mas sobretudo da mudança de mentalidade.
Assinada pelo arcebispo de Conacri, D. Vincent Koulibaly que, para o efeito se reuniu ao longo de cinco dias com os padres da sua arquidiocese, a carta retrata, em oito páginas, o percurso que desabrochou nessa violência e exorta a população, os candidatos, o presidente interino, e os responsáveis das estruturas de transição a assumir posturas mais construtivas. Convida todos a sentar-se sob a “árvore à palabre” para reflectirem e interrogarem-se sobre o estado actual do Nação, o que querem, para onde vão, que projecto de sociedade querem construir juntos.
A situação actual – lê-se na carta – mostra que a Guiné-Conacri já não é uma nação orgulhosa e rica de povos e religiões diferentes, mas sim um aglomerado de etnias que defendem os próprios interesses e que acumularam ódio e ressentimentos. Em vez da boa governação, instalou-se a anarquia, a insegurança, a violência; a religião foi submetida às ambições e apetites de cada um, dando origem a um Deus à própria imagem e semelhança; desintegrou-se o sistema educativo e gerações de jovens foram inscritas na escola o país abandonou as suas raízes culturais, confiando o futuro à “regulação e ao ajustamento estrutural da Comunidade e de Instituições internacionais, espoliando-nos assim da nossa capacidade de definir o sentido da nossa própria história”. Daí o título da carta: “É tempo de reassumirmos o nosso destino”.
D. Koulibaly faz também notar que já no primeiro turno das presidenciais se registaram falhas ligadas ao facto de todo o sistema eleitoral e democrático ter sido reduzido a uma lógica técnica, com desprezo da mentalidade e do contexto cultural e humano da Guiné. Resultado: uma crise para a qual “não se vê saída imediata”. Só uma mudança de mentalidade, uma ruptura com esse passado poderá salvar a Guiné. Um passado de que todos são responsáveis, escreve o arcebispo de Conacri, mas sobretudo os que tinham a responsabilidade da gestão política, administrativa e financeira do país nos últimos 50 anos. Daí que ele se dirija a todos e a cada um: ao Presidente de transição para que seja “soldado leal, ao serviço da Pátria e para que resista a qualquer tentação de vingança ou de sedução”; aos órgãos de transição para que tenham espírito de abnegação e de sacrifício e lutem a favor duma única causa, o bem da Guiné, e para que sejam instituições credíveis; aos dois candidatos para que tenham a consciência de que a Guiné está nas suas mãos, não façam dela um refém, não corrompam as consciências dos eleitores, estejam prontos a reconhecer a legítima vitória de quem a obtiver e sejam artesãos de paz e reconciliação; e finalmente a toda a população do país, para que reconheça na diversidade religiosa, étnica, de língua e região de cada compatriota um elemento indispensável à construção da nação guineense”.








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