Rio de Janeiro, 26 out (RV) - A exortação apostólica “Evangelii Nuntiandi”
do Santo Paulo VI, publicada na seqüência do Sínodo sobre a Evangelização, é um documento
indispensável para compreender e realizar uma autêntica evangelização do mundo atual.
Neste sentido, em momentos em que querem calar a voz dos cristãos, tentando proibir
cidadãos brasileiros de exercer o direito de expressar as suas convicções que, além
de atualizar os valores humanos, também são inspirados no Evangelho que ilumina a
Vida, também defendendo a vida desde o ventre materno até o seu termo natural, queremos
reafirmar que a missão da Igreja é evangelizar, propondo a todos uma boa notícia contando
com a assistência do Espírito Santo de Deus, que é quem dirige a Igreja de Cristo.
Nesse
documento destacam-se duas idéias basilares desta exortação, que são a relação íntima
entre a evangelização e a vida do dia a dia e os laços profundos entre a evangelização
e a promoção humana que para o Papa Paulo VI são de três ordens: antropológica (o
homem que há de ser evangelizado não é um ser abstratos, mas é sim um ser condicionado
pelo conjunto dos problemas sociais e econômicos); teológica (não se pode nunca dissociar
o plano da criação do plano da redenção, um e outro a abrangerem as situações bem
concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada) e evangélica
(que é da ordem da caridade: como se poderia, realmente, proclamar o mandamento novo
sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e o autêntico progresso do homem?)
Pode-se
dizer ainda que a evangelização implica em três aspectos essenciais: o primeiro é
a renovação interior da humanidade: A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente
esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais
exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina
da mensagem que proclama, ela procura propor a conversão ao mesmo tempo da consciência
pessoal e coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio
concreto que lhes são próprios.
Já o segundo aspecto fala sobre a transformação
dos critérios e estilos de vida: para a Igreja não se trata apenas de pregar o Evangelho
a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa,
mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios
de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento,
as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste
com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação.
Por fim, o terceiro aspecto
nos fala de uma conversão radical: importa evangelizar, não de maneira decorativa,
como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e
isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem, numa verdadeira inculturação,
pois o Evangelho e a evangelização, independentes em relação às culturas, não são
necessariamente incompatíveis com elas, mas susceptíveis de as impregnar a todas sem
se escravizar a nenhuma delas. Por isso, conclui Paulo VI, a ruptura entre o Evangelho
e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas.
Isso foi muito bem apresentado no Documento de Aparecida quando recorda que a mudança
de época atual é cultural.
O Papa Paulo VI apresenta nesse documento sobre
a Evangelização os meios mais adequados ao apostolado: o testemunho de vida, o anúncio
explícito feito de uma forma uma viva e atraente e a adesão vital numa comunidade
eclesial. Note-se a prioridade dada ao testemunho, particularmente para a nossa juventude
que procura a Igreja e o jeito de viver a fé particularmente à partir do testemunho
de nossos evangelizadores. É famoso esse tema: os homens de hoje escutam muito mais
as testemunhas que os mestres e, se escutam os mestres, é porque são testemunhas!
Assim
sendo, a evangelização é um processo complexo em que há variados elementos: renovação
da humanidade, testemunho, anúncio explícito, adesão do coração, entrada na comunidade,
aceitação dos sinais e iniciativas de apostolado.
É, por isso, que as técnicas
da evangelização são boas, obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam
substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador
nada faz sem Ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem Ele, permanece
impotente em relação ao espírito dos homens. E, ainda, os mais bem elaborados esquemas
com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de
valor, porque o Espírito Santo é o agente principal da evangelização: é ele, efetivamente
que impele para anunciar o Evangelho, como é Ele que no mais íntimo das consciências
leva a aceitar a Palavra da salvação. Mas pode dizer-se igualmente que Ele é o termo
da evangelização: de fato, somente Ele suscita a nova criação, a humanidade nova que
a evangelização há de ter como objetivo.
Nestes atuais tempos é muito bom recordar
esse documento conclusivo do Sínodo sobre a Evangelização e, com as realidades atuais,
vivermos com o entusiasmo a nossa vida de discípulos missionários, para que em Cristo,
todos tenham vida e a tenham em abundância! É muito importante neste mês e dia mundial
das missões termos bem claro essa nossa missão e a sua importância para o mundo atual,
pois as pessoas tem o direito de conhecer a Salvação e isso interessa a todos, e tem
conseqüências na sociedade levando à verdadeira justiça e construindo a paz..
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Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ