PAPA: IGREJA NÃO É NEUTRA ACERCA DE VALORES E ASPIRAÇÕES DO SER HUMANO
Cidade do Vaticano, 22 out (RV) - A contribuição da fé para o desenvolvimento
da sociedade, a promoção da vida e da família, e a importância das raízes cristãs
da Europa: foram os temas que Bento XVI abordou nas audiências sucessivas concedidas,
na manhã desta sexta-feira, no Vaticano, a três novos embaixadores junto à Santa Sé
para a apresentação de suas credenciais.
Trata-se dos embaixadores de Equador,
Portugal e Eslovênia. O Pontífice ressaltou que a Igreja não tem ambições políticas,
mas é chamada a oferecer a sua contribuição para o bem comum.
No discurso ao
Embaixador do Equador, Luis Dositeo Latorre Tapia, o Papa Ratzinger recordou que pôde
visitar o país andino em 1978. O Pontífice evidenciou os benefícios que a fé católica
pode oferecer para a promoção da pessoa e da sociedade.
A Igreja – reiterou
– "não busca nenhum privilégio", pede somente para dar a sua contribuição para o "desenvolvimento
integral das pessoas". O bem comum – ressaltou – deve prevalecer "sobre os interesses
de partido e de classe" e "o imperativo moral" deve ser o ponto de referência obrigatório
de todo cidadão.
Bento XVI acrescentou que "não pode haver bem comum universal
sem o bem espiritual e moral das pessoas". A história – observou – ensina que o desconhecimento
da verdade sobre o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, leva comumente "às
injustiças e aos totalitarismos".
Quando, ao invés, o Estado respeita essa
verdade, então "se consolida a liberdade e a autêntica participação" social. Eis o
motivo pelo qual a vida deve ser defendida em todas as suas fases, a liberdade religiosa,
bem como a família, fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher - frisou.
Os
Pastores da Igreja – acrescentou – "não devem entrar no debate político, propondo
soluções concretas". E, todavia, "não devem ficar neutros diante dos grandes problemas
e aspirações do ser humano, nem ser indolentes no momento de lutar pela justiça".
Por
fim, o Santo Padre, que elogiou a contribuição da Igreja no âmbito da educação dos
jovens, exortou os equatorianos a preservarem as muitas belezas naturais do país.
No
discurso ao Embaixador português, Manuel Tomás Fernandes Pereira, o Pontífice – após
recordar com alegria a visita apostólica feita a Portugal em maio passado – reiterou
o compromisso da Santa Sé "no serviço à causa da promoção integral do homem e dos
povos".
"Deveria ser convicção de todos – observou – que os obstáculos a tal
promoção não são somente de ordem econômica, mas dependem de atitudes e valores mais
profundos: os valores morais e espirituais".
Desse modo, quando a Igreja "promove
a consciência de que esses mesmos valores devem inspirar a vida pública e privada,
não o faz por ambições políticas, mas para ser fiel à missão a ela confiada por seu
Fundador".
Bento XVI, na esteira do Concílio Vaticano II, ressaltou que a "a
Igreja, por força de sua missão e da sua natureza, não está ligada a nenhuma forma
particular de cultura humana ou sistema político, econômico ou social": e, justamente
"por essa sua universalidade, pode constituir um laço estreitíssimo entre as diversas
comunidades humanas e nações, desde que elas confiem na Igreja e lhe reconheçam, efetivamente,
uma verdadeira liberdade para o cumprimento da sua missão", que é "de caráter moral
e religioso".
Portanto, a Igreja – prosseguiu Bento XVI – não se confunde com
"modelos parciais e passageiros de sociedade, mas tende à transformação dos corações
e das mentes, para que o homem possa descobrir e reconhecer a si mesmo na verdade
plena de sua humanidade".
No discurso dirigido à embaixadora da Eslovênia,
Maja Maria Lovrenćić Svetek, o Santo Padre se deteve, em primeiro lugar, sobre a integração
da nação eslovena na União Européia, que "tem entre seus pressupostos fundamentais
as comuns raízes cristãs do Velho Continente" – ressaltou.
Bento XVI observou
que, justamente, "o ancorar-se da Eslovênia nos valores evangélicos" contribuiu de
modo importante "para a coesão do país". Esse patrimônio "constituiu, também nos momentos
mais difíceis e dolorosos, um constante fermento de conforto e de esperança, e ajudou
a Eslovênia em seu caminho rumo à independência após a queda do regime comunista"
– acrescentou.
Um período no qual a Santa Sé "quis fazer-se particularmente
próxima à nação eslovena", recordou o Pontífice, reiterando o compromisso da Igreja
em favor da "promoção da paz e da justiça, da superação dos desacordos e da intensificação
das relações construtivas".
Por fim, o Santo Padre exortou os católicos do
país a se comprometerem com a "construção de uma sociedade mais justa e mais solidária,
no respeito pelas convicções e pelas práticas religiosas de cada um". (RL)