Rio de Janeiro, 20 out (RV) - Quando se fala em atividade missionária, aflora
à nossa mente o apelo dos Bispos da América Latina recordando-nos a importância de
ser Discípulos-Missionários de Jesus Cristo, para que n'Nele nossos povos tenham vida:
"Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6). Ser discípulo, para fazer discípulos.
Há um profundo e estreito envolvimento da Missão com o discipulado. O foco da Missão
é também ser e fazer discípulos.
Quando a Igreja do Brasil, através de seus
pastores, os bispos, convoca toda a comunidade cristã para a missão, sinaliza-se que
algo novo e determinante está acontecendo. Há aqui uma chave de leitura das mais consistentes:
a eclesialidade da Missão aponta para as exigências de uma ação evangelizadora que
seja toda ela iluminada pela ação missionária. A dimensão missionária é parte integrante
do caminho evangelizador da Igreja.
A conversão pastoral de nossas comunidades
exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente
missionária. É preciso reconhecer que o itinerário missionário da Igreja no Brasil
tem se fortalecido. Por outro lado, ainda é frágil nossa consciência de vivermos em
estado permanente de missão. Necessitamos também melhorar nossa ação e presença no
âmbito da Missão além-fronteiras, universal.
Devemos recordar que os discípulos,
por essência, são também missionários, em virtude do Batismo e da Confirmação, formamo-nos
com coração universal. A Missão do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo tem destinação
universal. O Papa Bento XVI nos exorta dizendo que a Missão "ad gentes" se abra a
novas dimensões: o campo da Missão ‘ad gentes' tem se ampliado notavelmente, e não
é mais possível defini-lo baseando-se apenas em considerações geográficas ou jurídicas.
Na verdade, os verdadeiros destinatários da atividade missionária do Povo de Deus
não são somente os povos não-cristãos e das terras distantes, mas também os campos
socioculturais e, sobretudo, os corações.
A Igreja discípula-missionária realiza-se,
portanto, na Missão universal, na fidelidade a Deus e ao Evangelho. Toda reflexão
teológica e missiológica aponta hoje para uma missão que leva a estar muito em Deus
e com Deus, e muito com os seres humanos; uma missão que seja lugar de diálogo e encontro,
diálogo com os valores das culturas e em sintonia com a humanidade. Missão "ad gentes"
é equivalente à Missão para a humanidade. Assim, as primeiras comunidades cristãs
não concebiam viver o Evangelho de Jesus, sem a Missão; não existiam só para si, mas
para o mundo, para a sociedade na qual estavam inseridas (Mc 16,19-20). Quanto
à atividade missionária no âmbito da Igreja particular, vê-se que esta deve representar
de modo mais perfeito possível a Igreja universal e, neste sentido, exige-se ademais
o ministério da Palavra, para que o Evangelho atinja a todos. Somos chamados a ser
arautos da fé para levar novos discípulos a Cristo e ser sinais de presença cristã
no mundo.
A Arquidiocese, como Igreja Particular, deve dar um passo importante
na realização da atividade missionária. Mesmo que já estejamos presentes em Dioceses
e Prelazias irmãs com nossa ação missionária e com todo o trabalho interno da “missão
continental temos ainda um longo caminho a percorrer. Toda atividade missionária deve
nascer de um projeto inspirado pelo Espírito Santo, dando, assim, a oportunidade para
as comunidades particulares, as suas lideranças, mostrarem seu crescimento espiritual
e apostólico. Assim, através das mais diversas iniciativas, promovem-se o espírito
missionário entre os fiéis e o anúncio da Boa Nova aqui e no mundo inteiro.
Cabe,
portanto, a cada paróquia assumir esta causa no corajoso trabalho de evangelização,
impregnando em suas vidas os dizeres do apóstolo das nações: “Anunciar o Evangelho
não é para mim um título de glória, é uma obrigação que nos foi pedida: “ai de mim
se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). Desta forma, iremos formando verdadeiras redes
de comunidades, aonde o trabalho missionário chegue em regiões distantes e abandonadas
dentro da própria paróquia.
Rogamos à Trindade Santa para que a luz do Espírito
missionário de Jesus fortaleça nosso entusiasmo missionário! E que Maria, a mãe das
missões, nos enriqueça com a graça do ardor missionário!
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ