O drama dos cristãos iraquianos: Comunidade caldeia, referência histórica na região,
reza na mesma língua de Jesus, o aramaico
(11/10/2010) O Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente quer lembrar à comunidade internacional
o drama dos cristãos no Iraque, “a parte mais pequena e mais fraca da sociedade”. A
comunidade caldeia reza na mesma língua em que Jesus falava, o aramaico, e sobrevive
há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território. Vivem
no país antes de Maomé e falam a língua local, mas a recente hostilidade de grupos
muçulmanos armados desencadeada com a invasão norte-americana já reduziu o número
de cristãos para cerca de metade. Os cristãos são alvo dos sunitas e dos xiitas,
vítimas de atentados, de sequestros, de pressão para que abandonem os seus lares e
da cobrança ilegal do tradicional imposto que os governantes muçulmanos arrecadavam
aos seus súbditos não-muçulmanos. Estes cristãos representam umas das mais antigas
comunidades do Oriente, remontando ao século II. Acredita-se que o Apóstolo Tomé,
antes de seguir o seu caminho até à Índia, terá deixado na região dois discípulos,
Mar Addai e Mar Mari. Da sua pregação nasceu uma Igreja que, nos primeiros séculos
do cristianismo, demonstrou uma enorme vitalidade e se espalhou nas regiões que hoje
são a Síria, o Irão e o Iraque. As raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros
e conventos nos séculos V e VI. Esta Igreja, chamada Igreja Assíria do Oriente,
obteve a autonomia no concílio de Markbata, em 492, com a possibilidade de eleger
um Patriarca com o título de “Católico”. O fulgor inicial foi-se desvanecendo e
já no século XV confronta-se com uma grave crise, originada por uma sucessão hereditária
de Patriarcas, como se de uma monarquia se tratasse. A reacção a este estado de
coisas levou a que um grupo de Bispos Sírios se empenhasse na recuperação da tradição
monástica oriental, elegendo o monge Yuhannan Sulaka como seu Patriarca e enviando-o
a Roma para pedir o reconhecimento do Papa. Foi assim que, em 1553, o Papa Júlio
III nomeou o “Patriarca dos Caldeus” e deu origem, oficialmente, à Igreja caldeia.
Durante mais de 200 anos existiram tensões nesta zona entre as comunidades a favor
ou contra o reconhecimento da universalidade da Igreja de Roma e a situação só estabilizou
quando em 1830 o Papa Pio VIII nomeou o “Patriarca da Babilónia dos Caldeus” como
chefe de todos os católicos caldeus. A sede deste Patriarcado era Mossul, no norte
do Iraque, e seria transferida para Bagdad em 1950, após a II Guerra Mundial. O
rito Caldeu é um dos principais ritos do cristianismo oriental e desenvolveu-se entre
os séculos IV e VII, antes da conquista árabe. A denominação de “caldeu” prevalece
no Ocidente desde o séc. XVII, embora os habitantes da região prefiram a designação
“siro-oriental”. As celebrações conservam o uso do aramaico e possuem gestos, espaços
e ritmos muito especiais, que remontam ao tempo dos primeiros apóstolos.