“Guiados pelo Espírito Santo, reavivar a comunhão da Igreja Católica no Médio Oriente”:
Bento XVI, na Missa de abertura, apontando o objectivo do Sínodo dos Bispos para o
Médio Oriente
(10/10/2010) Na homilia da Missa concelebrada neste domingo de manhã na basílica
de São Pedro, Bento XVi sublinhou a dimensão “prevalentemente pastoral” desta Assembleia,
mas reconheceu que “não se possa ignorar a delicada e muitas vezes dramática situação
social e política de alguns países”. “Viver dignamente na sua própria pátria é um
direito fundamental” – sublinhou, numa alusão à situação dos católicos da Terra Santa
e dos palestinianos em geral. Pelo que “há que favorecer condições de paz e de justiça,
indispensáveis para um desenvolvimento harmonioso de todos os habitantes da região”.
Bento
XVI começou congratular-se por “ver reunidos pela primeira vez numa Assembleia sinodal,
à volta do Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal” os Bispos do Médio Oriente.
“Antes
de mais, elevamos a nossa acção de graças ao Senhor da história, por ter permitido
que, não obstante vicissitudes por vezes difíceis e tormentosas, o Médio Oriente tenha
sempre visto, desde os tempos de Jesus até hoje, a continuidade da presença dos cristãos. Naquelas
terras, a única Igreja de Cristo exprime-se na variedade de Tradições litúrgicas,
espirituais, culturais e disciplinares das seis venerandas Igrejas Orientais Católicas
sui júris, como também na Tradição latina.”
Partindo das leituras da Missa
deste domingo, o Papa recordou o projecto divino de salvação, numa “pedagogia” que
iniciou com a “mediação do povo de Israel, que se tornou depois a de Jesus Cristo
e da Igreja”, como “porta”, “passagem definitiva e necessária”. A “terra” da
liberdade e da paz, à qual o Deus de Abraão, Isaac e Jacob quer conduzir o seu Povo
– sublinhou o Papa – esta “terra” não é deste mundo. “Todo o desígnio divino excede
a história, mas o Senhor quer construí-lo com os homens, para os homens e homens,
a partir das coordenadas de espaço e de tempo em que eles vivem”. “Dessas coordenadas
faz parte, com a sua especificidade, aquilo que chamamos o Médio Oriente”:
“É
a terra de Abraão, de Isaac e de Jacob; a terra do Êxodo e do regresso do exílio;
a terra do Templo e dos Profetas; a terra em eu o Filho Unigénito nasceu de Maria,
ali viveu morreu e ressuscitou; é o berço da Igreja, constituída para levar o Evangelho
de Cristo até aos confins do mundo. Também nós, como crentes, é nesta óptica que olhamos
para o Médio Oriente, na perspectiva da história da salvação. A óptica interior que
me guiou nas viagens apostólicas à Turquia, à Terra Santa – Jordânia, Israel, Palestina
– e a Chipre, onde pude conhecer de perto as alegrias e as preocupações das comunidades
cristãs”.
Olhar para este parte do mundo na perspectiva de Deus – prosseguiu
o Papa – significa reconhecer nela o “berço” de um projecto universal de salvação
no amor, um mistério de comunhão que se concretiza na liberdade, requerendo portanto
dos homens uma resposta. A Igreja é constituído para ser, no meio dos homens,
sinal e instrumento do único e universal projecto salvífico de Deus. E cumpre esta
missão sendo, simplesmente, ela mesma, isto é, “comunhão e testemunho”, como reza
o tema desta assembleia sinodal. Esta comunhão é a própria vida de Deus. A Igreja
vive sempre daquela força que a fez partir e a faz crescer: do fogo e da luz do Espírito
Santo. O Pentecostes é um dinamismo permanente na vida da Igreja. E este Sínodo é
um momento privilegiado para que se renova no caminho da Igreja a graça do Pentecostes.
“O
objectivo desta assembleia sinodal é prevalentemente pastoral. Embora não podendo
ignorar a delicada e por vezes dramática situação social e política de alguns países,
os Pastores das Igrejas no Médio Oriente desejam concentrar-se sobre os aspectos próprios
da sua missão… : … sob a guia do Espírito Santo, reavivar a comunhão da Igreja Católica
no Médio Oriente. Antes de mais no interior de cada Igreja, entre todos os seus membros…
E, depois, também nas relações com as outras Igrejas”.
Mas os trabalhos deste
Sínodo referem-se também ao “testemunho” dos cristãos (a nível pessoal, familiar e
social), nomeadamente os da Terra Santa. Que esses fiéis sintam a alegria de viver
na Terra Santa, terra abençoada pela presença e pelo mistério pascal do Senhor Jesus.
“Não obstante as dificuldades, os cristãos da Terra Santa são chamados a
reavivar a consciência de serem pedras vivas da Igreja no Médio Oriente, junto dos
Lugares santos da nossa salvação. Contudo, viver de modo digno na sua própria pátria
é antes de mais um direito humano fundamental: portanto, há que favorecer as condições
de paz e de justiça, indispensáveis para um desenvolvimento harmoniosos de todos os
habitantes da região. Portanto, todos estão chamados a dar o seu próprio contributo:
a comunidade internacional, apoiando um caminho fiável, leal e construtivo em direcção
à paz; as religiões mais presentes na região, promovendo os valores espirituais e
culturais que unem os homens e excluem qualquer expressão de violência”.