2010-10-10 16:30:17

PAPA ABRE SÍNODO PARA O ORIENTE MÉDIO


Cidade do Vaticano, 10 out (RV) - O Papa Bento XVI celebrou na manhã deste domingo na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a Santa Missa de abertura do Sínodo especial dos Bispos para o Oriente Médio, que se concluirá no próximo dia 24 de outubro. O tema desse Sínodo é “A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma” (At 4, 32). A Santa Missa foi concelebrada pelos Padres Sinodais, entre os quais o Patriarca de Antioquia, Cardeal Nasrallah Pierre Sfeir e o Patriarca caldeu da Babilônia, Carderal Emmanuel III Delly.

Na presença 185 Padres Sinodais representantes de 16 Estados, além de Jerusalém e Territórios Palestinos, Bento XVI no início da sua homilia deu graças a Deus pela primeira Assembleia Sinodal em torno do Bispo de Roma e Pastor Universal, dos Bispos da região do Oriente Médio. “Tal singular evento demonstra o interesse de toda a Igreja pela preciosa e amada porção do Povo de Deus que vive na Terra Santa e em todo o Oriente Médio”, afirmou o Papa.

Em seguida o Santo Padre agradeceu ao Senhor da História, que permitiu, apesar das dificuldades, que o Oriente Médio pudesse ver sempre, desde os tempos de Jesus até hoje, a continuidade da presença dos cristãos. “Naquelas terras a única Igreja de Cristo se expressa na variedade de Tradições litúrgicas, espirituais, culturais e disciplinares das seis venerandas Igrejas Orientais Católicas sui iuris, bem como na Tradição latina”, afirmou o Papa.

Após saudar aos Patriarcas de cada uma das Igrejas presentes, saudou todos os fiéis confiados aos seus cuidados pastorais nos respectivos países e também na diáspora. O pensamento de Bento XVI dirigiu-se em seguida à Palavra de Deus deste domingo que oferece um tema de meditação que se aproxima de modo significativo do evento sinodal. A leitura do Evangelho de Lucas nos leva ao episódio da cura dos dez leprosos, dos quais um apenas, um samaritano, retorna para agradecer a Jesus. Em conexão com esse texto, a primeira leitura, extraída do Segundo Livro dos Reis, narra a cura de Naamã, chefe do exército sírio, também ele leproso, que é curado imergindo-se sete vezes nas águas do rio Jordão, segundo a ordem do profeta Eliseu. Também Naamã retorna ao profeta e, reconhecendo nele o mediador de Deus, professa a fé no único Senhor. Portanto, dois doentes de lepra, dois não judeus, que são curados porque acreditam na palavra do enviado de Deus. Curam-se no corpo, mas se abrem à fé, e esta os cura na alma, isto é, os salva.

“Deus é amor - disse o Papa - e quer que todos os homens participem de sua vida; para realizar esse desígnio Ele, que é Uno e Trino, cria no mundo um mistério de comunhão humano e divino, histórico e transcendente: e o cria com o "método" – por assim dizer – da aliança, ligando-se aos homens com amor fiel e inexorável, formando um povo santo, que se torne uma bênção para todas as famílias da terra (cf Gn 12,3). Revela-se assim como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó (cf Es 3,6), que quer conduzir o seu povo à "terra" da liberdade e da paz. Essa "terra" não é deste mundo; todo o desígnio divino excede a história, mas o Senhor o quer construir com os homens, para os homens e nos homens, a partir das coordenadas de espaço e de tempo em que eles vivem e que Ele mesmo deu.

“Com uma sua especificidade – continuou o Papa - faz parte de tais coordenadas, o que nós chamamos de "Oriente Médio". Também essa região do mundo Deus a vê a partir de uma perspectiva diferente, se diria, "do alto": é a terra de Abraão, de Isaac e de Jacó; a terra do êxodo e do retorno do exílio; a terra do templo e dos profetas; a terra em que o Filho Unigênito nasceu de Maria, onde viveu, morreu e ressuscitou; o berço da Igreja, constituída para levar o Evangelho de Cristo até os confins do mundo. E nós, como fiéis, - continuou Bento XVI - nos voltamos para o Oriente Médio com esse olhar, na perspectiva da história da salvação. É a ótica interior que me conduziu nas viagens apostólica à Turquia, à Terra Santa – Jordânia, Israel, Palestina – e a Chipre, onde pude conhecer de perto as alegrias e as preocupações das comunidades cristãs. E o Papa acrescentou:

“Também por isso acolhi de bom grado a proposta de patriarcas e bispos de convocar uma Assembléia sinodal para refletir juntos, à luz da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja, sobre o presente e sobre o futuro dos fiéis e das populações do Oriente Médio. Olhar para esta parte do mundo na perspectiva de Deus significa reconhecer nela o "berço" de um desígnio universal de salvação no amor, um mistério de comunhão que se realiza na liberdade e, por isso, pede aos homens uma resposta. Abraão, os profetas, a Virgem Maria são os protagonistas dessa resposta, que, porém tem o seu cumprimento em Jesus Cristo, filho dessa mesma terra, mas descido do Céu.”

D'Ele, - continuou o Santo Padre - de seu Coração e do seu Espírito, nasceu a Igreja, que é peregrina neste mundo, mas Lhe pertence. A Igreja é constituída para ser, entre os homens, sinal e instrumento do único e universal projeto salvífico de Deus; ela realiza essa missão simplesmente sendo ela mesma, isto é, "comunhão e testemunho", como recita o tema da Assembléia sinodal que hoje se abre, e que faz referência à célebre definição lucana da primeira comunidade cristã: "A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma" (At 4,32). Sem comunhão não pode haver testemunho: o grande testemunho é justamente a vida de comunhão. Jesus o disse claramente: "Disso todos saberão que sois meus discípulos: se tiverem amor uns pelos outros" (Jo, 13,35).

Em seguida o Papa falou da finalidade da Assembleia sinodal:

“A finalidade dessa Assembléia sinodal é prevalentemente pastoral. Embora não podendo ignorar a delicada e por vezes dramática situação social e política de alguns países, os Pastores das Igrejas no Oriente Médio desejam concentrar-se nos aspectos próprios de sua missão. A esse respeito, o Instrumentum laboris, elaborado por um conselho Pré-sinodal a cujos Membros agradeço veementemente pelo trabalho feito, ressaltou essa finalidade eclesial da Assembléia, ressaltando que ela pretende, sob a condução do Espírito Santo, reavivar a comunhão da Igreja Católica no Oriente Médio. Em primeiro lugar, dentro de cada uma delas, entre todos os seus membros: Patriarca, Bispos, sacerdotes, religiosos, pessoas de vida consagrada e leigos. E depois, nas relações com as outras Igrejas”.

Ademais, - disse ainda o Papa - essa ocasião é propícia para prosseguir construtivamente o diálogo com os judeus, aos quais, a longa história da Aliança nos liga de modo indissolúvel, bem como com os muçulmanos. Além disso, os trabalhos do Encontro sinodal são orientados ao testemunho dos cristãos a nível pessoal, familiar e social. Isso requer reforçar a sua identidade cristã mediante a Palavra de Deus e os Sacramentos. E o Papa fez um auspício:

“Todos fazemos votos de que os fiéis sintam a alegria de viver na Terra Santa, abençoada pela presença e pelo glorioso mistério pascal do Senhor Jesus Cristo. Ao longo dos séculos aqueles Lugares atraíram multidões de peregrinos e também comunidades religiosas masculinas e femininas, que consideraram um grande privilégio poder viver e dar testemunho na Terra de Jesus. Apesar das dificuldades, os cristãos da Terra Santa são chamados a reavivar a consciência de serem pedras vivas da Igreja no Oriente Médio, nos Lugares Santos da nossa salvação. Mas viver dignamente na própria pátria é, em primeiro lugar, um direito humano fundamental: por isso é necessário favorecer condições de paz e de justiça, indispensáveis para um desenvolvimento harmonioso de todos os habitantes da região”.

Portanto, frisou Bento XVI, todos são chamados a dar a sua contribuição: a comunidade internacional, apoiando um caminho confiável, leal e construtivo rumo à paz; as religiões presentes na região, em promover os valores espirituais e culturais que unem os homens e excluem toda expressão de violência. Os cristãos continuarão dando a sua contribuição não somente com as obras de promoção social, como através dos institutos de educação e de saúde, mas, sobretudo, com o espírito das Beatitudes evangélicas, que anima a prática do perdão e da reconciliação. Em tal compromisso eles terão sempre o apoio de toda a Igreja, como atesta solenemente a presença aqui dos Delegados dos Episcopados de outros continentes.

O Papa concluiu suas palavras confiando os trabalhos da Assembleia sinodal para o Oriente Médio aos numerosos santos e santas daquela terra abençoada e invocou para ela a constante proteção da Bem-aventurada Virgem Maria, a fim de que os próximos dias de oração, de reflexão e de comunhão fraterna sejam portadores de bons frutos para o presente e o futuro das caras populações do Oriente Médio. (SP)








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