Uberaba, 10 out (RV) - Um famoso “pai” da Igreja primitiva, do segundo século,
Tertuliano, cunhou uma frase que se repete pelos séculos: “A alma humana é naturalmente
cristã”. Ele quis ensinar que o universo cristão é tão ajustado à expectativa do
coração humano, que sua doutrina se encaixa na alma como uma luva. O catolicismo satisfaz,
e preenche as inclinações do coração. Só existem duas forças que impedem seu progresso
irresistível entre os povos. São as leis governamentais férreas que se opõem à menor
explicação de seus ensinamentos ou ao exercício livre do culto (como ainda acontece
nos países de maioria muçulmana). Ou quando os próprios cristãos não tem capacidade
dinâmica para se sobrepor ao paganismo vigente (como sucedeu diante do iluminismo).
Expondo de maneira compreensível os ensinamentos de Cristo, a acolhida é certa. Se
houver inteligências cultas, acompanhadas de valor moral, suficientemente livres,
que exponham fielmente os ensinamentos de Cristo, o progresso do cristianismo é irresistível.
Gostemos ou não, Jesus antecipou que viria o tempo, em que “haveria um só rebanho
e um só Pastor” (Jo 10,16).
Como entender a frase lapidar de Tertuliano, diante
do interesse evidente pelos filmes e obras que falam dos espíritos, aqui no Brasil?
Seria atração pelas forças misteriosas e ocultas, ou pior ainda, pela magia? Penso
que não. O nosso povo tem um mínimo de conhecimentos de fé, para não cair nesse encantamento.
Outros acham que o nosso “ethos” tem muito a ver com as crenças dos indígenas, e com
o animismo da África, que atribuem grande atividade aos espíritos. A alma do brasileiro
estaria marcada pelas crenças dos ancestrais. Em parte pode até ser. Mas o principal
é que essa população se move num ar rarefeito de conhecimentos sobre Jesus Cristo.
É uma asfixia espiritual. Como a nossa natureza tem “horror ao vácuo”, essas verdades
incompletas encantam certas camadas do povo. Faltam os anunciadores do “conhecimento
completo da pessoa de Jesus Cristo” (2 Pd 1, 3). Quem conhecer essa pessoa ficará
arrebatado, a ponto de não haver mais espaço para substitutivos.
Dom Aloísio
Roque Oppermann scj Arcebispo de Uberaba, MG