2010-10-07 09:23:34

Igreja em Angola e Moçambique quer estar na Internet


P. Alberto Buque e P. Maurício Camuto no Congresso Internacional sobre “A Imprensa Católica na era da Internet”

Decorre desde o dia 4 até ao dia 7 deste mês, em Roma, na sede do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, o Congresso promovido por este mesmo organismo sobre “Imprensa Católica na era da Internet”. O objectivo deste Congresso, que vem na sequência doutros quatro já realizados pelo mesmo Dicastério, respectivamente sobre a rádio, a televisão, a universidade católicas, e um para os bispos encarregados das Comissões Episcopais das Comunicações Sociais – disse o Presidente D. Cláudio Maria Celli na abertura dos trabalhos – é ouvir as experiências de quantos trabalham neste sector a fim de encontrar respostas conjuntas sobre a profunda identidade e a missão dos órgãos de comunicação católicos. Isto, sobretudo numa época em que se tende a reduzir a acção da Igreja e da religião a algo privado sem nenhum relevo público; em que se tende a transformar coisas insignificantes em grandes eventos, em que há uma “ditadura do relativismo”; em que notícias negativos tendem a tomar a dianteira, deixando para trás a percepção da Igreja como perita em Humanidade.
Perante tudo isto – continuou D. Cláudio Maria Celli – há que pensar a imprensa escrita católica numa perspectiva de serviço, perguntando-se qual é o seu papel na sociedade e na Igreja. E a resposta que esboça já de início é a duma imprensa “capaz de acompanhar a vida, de colher as preocupações, os desejos, os projectos das pessoas, que são, afinal de contas, os seus leitores”. E “não só daqueles que pertencem à comunidade católica” .
Numa sociedade “cada vez mais multi-cultural e multi-religiosa” a imprensa católica deve oferecer o seu serviço no contexto dum “articulado, sério e respeitoso diálogo cultural” em que emerge “a verdade dos outros”, mas onde resplandece também “sem temor aquela verdade integral sobre o homem que à luz da fé ajuda a ver mais facilmente a Igreja como perita em humanidade”.
Mas a imprensa católica tem também um papel dentro da Igreja. Pode ser “um instrumento privilegiado no não fácil dever de favorecer e nutrir a compreensão intelectual da fé”, pois que – disse ainda D. Celli, citando Bento XVI – “a procura de Deus requer, por intrínseca exigência, uma cultura da palavra” com vista na “profícua comunhão entre as várias componentes da comunidade eclesial”. Enfim, tanto na sociedade como na Igreja há que “manter viva a procura de sentido e assegurar um espaço à procura do infinito” .
Este Congresso inscreve-se, portanto, na linha duma generosa colaboração entre todos para melhor compreender o caminho que se têm pela frente – concluiu o Presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais ao lançar mais este encontro de partilha e reflexão sobre os media católicos.
Um Congresso em que participam representantes de 85 países, entre os quais diversos do Continente africano. Dos PALOP só estão Angola e Moçambique, respectivamente, com duas e três pessoas. De Moçambique para além do Presidente da Conferência Episcopal, D. Lúcio Andrice Muandula, está também o Secretário da mesma, P. Elpídio Fenias Parruque e o P. Alberto Buque, Secretário da Comissão Episcopal para os Meios de Comunicação Social da mesma Conferência Episcopal. Angola está, por sua vez, representada por dois membros da Rádio Ecclesia: o P. Maurício Camuto, director, e o jornalista Hélder Miguel Simba, encarregado da internet. Oiça as breve entrevistas realizadas por Dulce Araújo com o Padre Camuto e o P. Buque.
Padre Camuto: RealAudioMP3
Padre Buque RealAudioMP3

Ou então leia a síntese a seguir….

Em entrevista à Rádio Vaticano, o P. Camuto frisou que vieram porque aquela emissora católica angolana difunde notícias também através da internet e, além disso, têm também o jornal católico “O Apostolado” e, querem, por isso, ver e ouvir as experiências dos outros, para verem como continuar a caminhada. É que para além do “Apostolado” e do “Novo Rumo” na Diocese de Benguela, o país não dispõe doutros órgãos escritos católicos de relevo. Algumas paróquias têm boletins informativos mas, de forma geral, há que reforçar a sensibilidade no sentido dum maior crescimento no sector da comunicação social. Pois, já nos anos 60 – disse – “a Igreja reconhecia que há necessidade de se investir neste areópago dos tempos modernos. Então, porque é que nós em pleno século XXI estamos assim tão atrasados?”
O Director da Rádio Ecclesia pôs ainda em realce as dificuldades em gerir os meios de comunicação da Igreja, uma tarefa árdua sobretudo quando não há unidade e comunhão entre os profissionais da comunicação e a hierarquia eclesial. Geralmente esses meios de comunicação desejam ser profissionais como todos os outros, ao mesmo tempo que veiculam a mensagem cristã, por forma a se ter confiança neles, mas, ao seguir as regras “atropelam”, por vezes, “os pontos de vista, as opiniões e mesmo as orientações da hierarquia, o que não é fácil e não é bom para a comunhão da Igreja e para a comunhão entre profissionais e os pastores da Igreja”.
Já os delegados de Moçambique vieram com uma intenção bem precisa. A Conferência Episcopal do país, a CEM, não dispõe dum sitio Web, e estão decididos a lançá-lo. Ainda não sabem bem quando, mas estão decididos a fazê-lo, dado que é hoje a única forma de terem uma base de dados nacional para a qual as diferentes Dioceses podem encaminhar as suas informações e atingir às das outras, criando-se assim uma rede a nível da Igreja no país. É que lançar um jornal católico nacional fica caro sobretudo num país onde grande parte da população enfrenta ainda o problema do pão de cada dia. Além disso, os exemplos que ouviram aqui no Congresso não são encorajadores. Para além do jornal católico francês “La Croix” que está em franco crescimento, um pouco por todo o lado o número de leitores diminui, pois as pessoas preferem a internet. Os jornais que se mantém são aqueles das dioceses abastadas que as podem subvencionar. Resta o problema de que em Moçambique, na África em geral, pouca gente tem ainda acesso à internet, mas a Igreja moçambicana está convicta de que criando esse fluxo de informação através da base de dados fornecidos por cada uma das dioceses, a informação poderá circular a nível da Nação e, assim poderão, entretanto, ponderar com mais calma, se é oportuno ou não lançar um jornal católico sem se sobrecarregarem de problemas económicos e não só.
Por outro lado, as intervenções mostraram que enquanto a Igreja em África luta ainda por ter jornais católicos e páginas na internet, no mundo considerado rico, os problemas são mais ligados aos conteúdos, à postura do jornalista católico perante determinadas questões, à velocidade da informação, aos escândalos sexuais na Igreja, à transparência na administração económica, etc. Questões perante as quais – disse o P. Buque – “ficamos estonteados” e a perseguir caminhos que não respondem bem aos problemas da África.
No que toca aos escândalos de abusos sexuais que envolveram a Igreja nos últimos tempos, o P. Buque, que é também Director da Rádio Maria no seu país, disse que não deram muito relevo a isso, pois ele pergunta-se sempre que utilidade, que impacto, pode ter informações deste teor para um cidadão do meio rural. Algumas pessoas ouviram pela TV e perguntaram a membros da Igreja o que se passava, mas à parte isso, a imprensa católica no país não deu grande eco à questão.







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