Igreja em Angola e Moçambique quer estar na Internet
P. Alberto Buque e P. Maurício Camuto no Congresso Internacional sobre “A Imprensa
Católica na era da Internet”
Decorre desde o dia 4 até ao dia 7 deste mês,
em Roma, na sede do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, o Congresso
promovido por este mesmo organismo sobre “Imprensa Católica na era da Internet”. O
objectivo deste Congresso, que vem na sequência doutros quatro já realizados pelo
mesmo Dicastério, respectivamente sobre a rádio, a televisão, a universidade católicas,
e um para os bispos encarregados das Comissões Episcopais das Comunicações Sociais
– disse o Presidente D. Cláudio Maria Celli na abertura dos trabalhos – é ouvir as
experiências de quantos trabalham neste sector a fim de encontrar respostas conjuntas
sobre a profunda identidade e a missão dos órgãos de comunicação católicos. Isto,
sobretudo numa época em que se tende a reduzir a acção da Igreja e da religião a algo
privado sem nenhum relevo público; em que se tende a transformar coisas insignificantes
em grandes eventos, em que há uma “ditadura do relativismo”; em que notícias negativos
tendem a tomar a dianteira, deixando para trás a percepção da Igreja como perita em
Humanidade. Perante tudo isto – continuou D. Cláudio Maria Celli – há que pensar
a imprensa escrita católica numa perspectiva de serviço, perguntando-se qual é o seu
papel na sociedade e na Igreja. E a resposta que esboça já de início é a duma imprensa
“capaz de acompanhar a vida, de colher as preocupações, os desejos, os projectos das
pessoas, que são, afinal de contas, os seus leitores”. E “não só daqueles que pertencem
à comunidade católica” . Numa sociedade “cada vez mais multi-cultural e multi-religiosa”
a imprensa católica deve oferecer o seu serviço no contexto dum “articulado, sério
e respeitoso diálogo cultural” em que emerge “a verdade dos outros”, mas onde resplandece
também “sem temor aquela verdade integral sobre o homem que à luz da fé ajuda a ver
mais facilmente a Igreja como perita em humanidade”. Mas a imprensa católica tem
também um papel dentro da Igreja. Pode ser “um instrumento privilegiado no não fácil
dever de favorecer e nutrir a compreensão intelectual da fé”, pois que – disse ainda
D. Celli, citando Bento XVI – “a procura de Deus requer, por intrínseca exigência,
uma cultura da palavra” com vista na “profícua comunhão entre as várias componentes
da comunidade eclesial”. Enfim, tanto na sociedade como na Igreja há que “manter viva
a procura de sentido e assegurar um espaço à procura do infinito” . Este Congresso
inscreve-se, portanto, na linha duma generosa colaboração entre todos para melhor
compreender o caminho que se têm pela frente – concluiu o Presidente do Conselho Pontifício
para as Comunicações Sociais ao lançar mais este encontro de partilha e reflexão sobre
os media católicos. Um Congresso em que participam representantes de 85 países,
entre os quais diversos do Continente africano. Dos PALOP só estão Angola e Moçambique,
respectivamente, com duas e três pessoas. De Moçambique para além do Presidente da
Conferência Episcopal, D. Lúcio Andrice Muandula, está também o Secretário da mesma,
P. Elpídio Fenias Parruque e o P. Alberto Buque, Secretário da Comissão Episcopal
para os Meios de Comunicação Social da mesma Conferência Episcopal. Angola está, por
sua vez, representada por dois membros da Rádio Ecclesia: o P. Maurício Camuto, director,
e o jornalista Hélder Miguel Simba, encarregado da internet. Oiça as breve entrevistas
realizadas por Dulce Araújo com o Padre Camuto e o P. Buque. Padre Camuto: Padre Buque
Ou então leia
a síntese a seguir….
Em entrevista à Rádio Vaticano, o P. Camuto frisou que
vieram porque aquela emissora católica angolana difunde notícias também através da
internet e, além disso, têm também o jornal católico “O Apostolado” e, querem, por
isso, ver e ouvir as experiências dos outros, para verem como continuar a caminhada.
É que para além do “Apostolado” e do “Novo Rumo” na Diocese de Benguela, o país não
dispõe doutros órgãos escritos católicos de relevo. Algumas paróquias têm boletins
informativos mas, de forma geral, há que reforçar a sensibilidade no sentido dum maior
crescimento no sector da comunicação social. Pois, já nos anos 60 – disse – “a Igreja
reconhecia que há necessidade de se investir neste areópago dos tempos modernos. Então,
porque é que nós em pleno século XXI estamos assim tão atrasados?” O Director
da Rádio Ecclesia pôs ainda em realce as dificuldades em gerir os meios de comunicação
da Igreja, uma tarefa árdua sobretudo quando não há unidade e comunhão entre os profissionais
da comunicação e a hierarquia eclesial. Geralmente esses meios de comunicação desejam
ser profissionais como todos os outros, ao mesmo tempo que veiculam a mensagem cristã,
por forma a se ter confiança neles, mas, ao seguir as regras “atropelam”, por vezes,
“os pontos de vista, as opiniões e mesmo as orientações da hierarquia, o que não é
fácil e não é bom para a comunhão da Igreja e para a comunhão entre profissionais
e os pastores da Igreja”. Já os delegados de Moçambique vieram com uma intenção
bem precisa. A Conferência Episcopal do país, a CEM, não dispõe dum sitio Web, e estão
decididos a lançá-lo. Ainda não sabem bem quando, mas estão decididos a fazê-lo, dado
que é hoje a única forma de terem uma base de dados nacional para a qual as diferentes
Dioceses podem encaminhar as suas informações e atingir às das outras, criando-se
assim uma rede a nível da Igreja no país. É que lançar um jornal católico nacional
fica caro sobretudo num país onde grande parte da população enfrenta ainda o problema
do pão de cada dia. Além disso, os exemplos que ouviram aqui no Congresso não são
encorajadores. Para além do jornal católico francês “La Croix” que está em franco
crescimento, um pouco por todo o lado o número de leitores diminui, pois as pessoas
preferem a internet. Os jornais que se mantém são aqueles das dioceses abastadas que
as podem subvencionar. Resta o problema de que em Moçambique, na África em geral,
pouca gente tem ainda acesso à internet, mas a Igreja moçambicana está convicta de
que criando esse fluxo de informação através da base de dados fornecidos por cada
uma das dioceses, a informação poderá circular a nível da Nação e, assim poderão,
entretanto, ponderar com mais calma, se é oportuno ou não lançar um jornal católico
sem se sobrecarregarem de problemas económicos e não só. Por outro lado, as intervenções
mostraram que enquanto a Igreja em África luta ainda por ter jornais católicos e páginas
na internet, no mundo considerado rico, os problemas são mais ligados aos conteúdos,
à postura do jornalista católico perante determinadas questões, à velocidade da informação,
aos escândalos sexuais na Igreja, à transparência na administração económica, etc.
Questões perante as quais – disse o P. Buque – “ficamos estonteados” e a perseguir
caminhos que não respondem bem aos problemas da África. No que toca aos escândalos
de abusos sexuais que envolveram a Igreja nos últimos tempos, o P. Buque, que é também
Director da Rádio Maria no seu país, disse que não deram muito relevo a isso, pois
ele pergunta-se sempre que utilidade, que impacto, pode ter informações deste teor
para um cidadão do meio rural. Algumas pessoas ouviram pela TV e perguntaram a membros
da Igreja o que se passava, mas à parte isso, a imprensa católica no país não deu
grande eco à questão.