BURCA NÃO É OBRIGAÇÃO RELIGIOSA, DIZ LÍDER MUÇULMANO AMEAÇADO
Paris, 04 out (RV) - As incontáveis ameaças de morte, com as quais já se habituou
a conviver, não parecem assustar o imame da localidade de Drancy, França. Com uma
visão moderna do Islamismo, Hassen Chalghoumi prega que os muçulmanos que vivem na
Europa devem abandonar as influências fundamentalistas vigentes em parte do Oriente
Médio e da África, e fortalecer um Islamismo europeu, baseado nos valores do Ocidente,
obviamente sem abandonar dos preceitos da religião. Ele defende, por exemplo, que
as mulheres não usem a burca, argumentando que "a burca não é uma obrigação religiosa".
Segundo Chalghoumi, em nenhum trecho do Alcorão – o livro sagrado dos muçulmanos
– se afirma que as mulheres devem se cobrir por inteiro. "As mulheres que decidem
usar a burca, afirmam que é uma escolha delas mesmas. Mas, na verdade, não se trata
de uma escolha – afirma o imame – porque elas estão sob a influência de pessoas que
pregam outro tipo de Islamismo. Já disse e repito: a burca não é uma obrigação religiosa."
Suas posições progressistas – como o apoio do projeto de lei proibindo o uso
da burca – provocaram a ira de muçulmanos que seguem o Alcorão ao pé da letra. Disposto
a seguir avante na modernização do Islamismo praticado na França, Chalghoumi acaba
de lançar um livro, Pour l'Islam de France (Para o Islã da França), no qual
apresenta suas sugestões para melhor integrar a comunidade muçulmana à sociedade francesa,
uma das principais causas dos distúrbios sociais verificados diariamente nas periferias
das grandes cidades, como a capital, Paris.
Para ele, a religião muçulmana
deve ampliar a formação de imames europeus moderados, capazes de neutralizar a mensagem
de ódio ao Ocidente, difundida por muitos dos atuais imames que comandam mesquitas
por toda a França. De acordo com o religioso, a maioria dos imames que atuam no país
é formada no exterior, e não em território europeu.
"Não há como negar: existe
um aumento do radicalismo islâmico na França e em muitos outros países ocidentais,
e isso graças a imames integristas que continuam passando uma ideia equivocada sobre
o que seja o verdadeiro Islã" – disse Chalghoumi, numa entrevista coletiva aos jornalistas
estrangeiros, realizada na última semana, em Paris.
O imame argumentou que
a existência de líderes preconizando o isolamento social dos muçulmanos só aumenta
a tensão entre os imigrantes, seus descendentes e o povo francês de origem. Em consequência
desse "estigma" originado em "pequenos grupos radicais", os muçulmanos comuns são
condenados a viverem cada vez mais em guetos e a se relacionarem apenas entre si mesmos.
Chalghoumi é um dos raros casos de imames moderados que pregam abertamente
uma visão mais aberta do Islã e uma ampliação dos diálogos inter-religiosos. Ele crê
que haja outros tantos como ele, mas que não revelam seu modo de pensar, por receio
dos efeitos que essa abertura poderia provocar. No caso dele, por exemplo, numerosas
ameaças de morte. (AF)